São Paulo, quinta-feira, 12 de abril de 2001

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SAÚDE

Hospital da Escola Paulista de Medicina realiza operação pioneira na América Latina com o aparelho de US$ 125 mil

Robô auxilia cirurgia de próstata em SP

CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

Para quem já fez 1.350 cirurgias da próstata, o terceiro maior número no mundo, o dia de ontem deveria ser da mais absoluta rotina para Miguel Srougi, 54, professor titular de Urologia da Escola Paulista de Medicina.
Afinal, ele estava logo cedo na sala de cirurgias do Hospital São Paulo, vinculado à escola, exatamente para uma cirurgia de próstata. Mas não seria apenas a de número 1.351 e, sim, a primeira na América Latina a utilizar um robô como auxiliar para a prostatectomia, a designação médica para extirpação total dessa glândula que apenas o homem possui.
O robô é uma máquina de US$ 125 mil (computando apenas o equipamento básico), duas garras e um terceiro braço, que carrega uma câmera de TV capaz de aumentar dez vezes o tamanho dos objetos que capta. Melhor ainda: Srougi nem precisa manusear ele próprio o robô.
A máquina é acionada pelo comando de voz. O cirurgião gravou na memória da máquina 300 palavras-chaves, todas em inglês, o idioma francamente hegemônico na informática. Basta Srougi dizer, por exemplo, "lights down" para que o robô reduza as luzes do centro cirúrgico.
O robô e sua câmera cobrem toda a sala. "Tudo o que acontece de errado, ele me avisa", diz o médico, que se formou pela USP (Universidade de São Paulo) e cursou sua pós-graduação na mitológica universidade norte-americana de Harvard.
A máquina é um auxiliar de valor inestimável. "O robô não sente fadiga nem treme a mão", diz. O resultado é uma redução no tempo da cirurgia. O médico afirma que normalmente leva de três a quatro horas para fazê-la Ontem, tardou no total duas horas e dez minutos, mas interrompendo-a para mudar a posição dos braços do robô ou para explicar etapas para estudantes.
Ao jogar nas telas dos monitores imagens dez vezes maiores do que a realidade, o robô permitiu que os alunos da Escola Paulista de Medicina acompanhassem a operação na sala de telecirurgia, a 30 metros de onde estavam o médico e o paciente.
Mas é uma distância ínfima perto das possibilidades que o uso dessa máquina permite. Srougi poderia estar em Brasília, a mil quilômetros do Hospital São Paulo, e não obstante comandar com a sua voz o robô travestido de cirurgião-auxiliar.
Pelas contas de Srougi, apenas nos Estados Unidos, na França e, talvez, na Alemanha, são utilizados, em operações de próstata, robôs como o que o Hospital São Paulo agora tem.
O robô é o principal acréscimo do novo centro cirúrgico construído no hospital da Escola Paulista de Medicina, graças a verbas arrecadadas de particulares. O hospital é federal, mas, queixa-se Srougi, o SUS (Sistema Único de Saúde) fornece apenas R$ 8 milhões por mês, para despesas que atingem R$ 9,5 milhões.
A grande vantagem do novo centro é que ele facilita o que o professor de urologia chama de o sexto grande salto dos métodos cirúrgicos nos últimos 150 anos, depois da assepsia, da anestesia, dos antibióticos, da nutrição cirúrgica e dos transplantes.
Agora, o avanço é representado por operações minimamente invasivas. Ou seja, "em vez de um grande corte, o médico faz três pequenos buracos e utiliza a laparoscopia" (ou seja, opera com o auxílio de uma microcâmera).
Os números sobre a incidência de câncer da próstata no Brasil (20 mil casos por ano, com 7.000 mortes) são considerados subestimados pelo professor titular da EPM, por não haver obrigatoriedade de notificação.
O especialista avisa, no entanto, que os avanços cirúrgicos não mudam o fato de que detectar câncer da próstata continua sendo uma tarefa árdua, porque a doença não tem sintomas na sua etapa inicial. Pode, portanto, ser diagnosticada tarde demais.
Continua de pé, assim, a necessidade de todo homem de mais de 50 anos fazer dois exames anualmente. O de toque, para ver se aumentou o tamanho da próstata, potencial indicação de problemas, e o de nível de PSA, proteína liberada na circulação sanguínea tanto pelo tecido normal da próstata quanto pelas células malignas prostáticas.


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