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SAÚDE
Hospital da Escola Paulista de Medicina realiza operação pioneira na América Latina com o aparelho de US$ 125 mil
Robô auxilia cirurgia de próstata em SP
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
Para quem já fez 1.350 cirurgias
da próstata, o terceiro maior número no mundo, o dia de ontem
deveria ser da mais absoluta rotina para Miguel Srougi, 54, professor titular de Urologia da Escola
Paulista de Medicina.
Afinal, ele estava logo cedo na
sala de cirurgias do Hospital São
Paulo, vinculado à escola, exatamente para uma cirurgia de próstata. Mas não seria apenas a de
número 1.351 e, sim, a primeira na
América Latina a utilizar um robô
como auxiliar para a prostatectomia, a designação médica para extirpação total dessa glândula que
apenas o homem possui.
O robô é uma máquina de US$
125 mil (computando apenas o
equipamento básico), duas garras
e um terceiro braço, que carrega
uma câmera de TV capaz de aumentar dez vezes o tamanho dos
objetos que capta. Melhor ainda:
Srougi nem precisa manusear ele
próprio o robô.
A máquina é acionada pelo comando de voz. O cirurgião gravou
na memória da máquina 300 palavras-chaves, todas em inglês, o
idioma francamente hegemônico
na informática. Basta Srougi dizer, por exemplo, "lights down"
para que o robô reduza as luzes do
centro cirúrgico.
O robô e sua câmera cobrem toda a sala. "Tudo o que acontece de
errado, ele me avisa", diz o médico, que se formou pela USP (Universidade de São Paulo) e cursou
sua pós-graduação na mitológica
universidade norte-americana de
Harvard.
A máquina é um auxiliar de valor inestimável. "O robô não sente
fadiga nem treme a mão", diz. O
resultado é uma redução no tempo da cirurgia. O médico afirma
que normalmente leva de três a
quatro horas para fazê-la Ontem,
tardou no total duas horas e dez
minutos, mas interrompendo-a
para mudar a posição dos braços
do robô ou para explicar etapas
para estudantes.
Ao jogar nas telas dos monitores imagens dez vezes maiores do
que a realidade, o robô permitiu
que os alunos da Escola Paulista
de Medicina acompanhassem a
operação na sala de telecirurgia, a
30 metros de onde estavam o médico e o paciente.
Mas é uma distância ínfima perto das possibilidades que o uso
dessa máquina permite. Srougi
poderia estar em Brasília, a mil
quilômetros do Hospital São Paulo, e não obstante comandar com
a sua voz o robô travestido de cirurgião-auxiliar.
Pelas contas de Srougi, apenas
nos Estados Unidos, na França e,
talvez, na Alemanha, são utilizados, em operações de próstata, robôs como o que o Hospital São
Paulo agora tem.
O robô é o principal acréscimo
do novo centro cirúrgico construído no hospital da Escola Paulista de Medicina, graças a verbas
arrecadadas de particulares. O
hospital é federal, mas, queixa-se
Srougi, o SUS (Sistema Único de
Saúde) fornece apenas R$ 8 milhões por mês, para despesas que
atingem R$ 9,5 milhões.
A grande vantagem do novo
centro é que ele facilita o que o
professor de urologia chama de o
sexto grande salto dos métodos
cirúrgicos nos últimos 150 anos,
depois da assepsia, da anestesia,
dos antibióticos, da nutrição cirúrgica e dos transplantes.
Agora, o avanço é representado
por operações minimamente invasivas. Ou seja, "em vez de um
grande corte, o médico faz três pequenos buracos e utiliza a laparoscopia" (ou seja, opera com o
auxílio de uma microcâmera).
Os números sobre a incidência
de câncer da próstata no Brasil (20
mil casos por ano, com 7.000
mortes) são considerados subestimados pelo professor titular da
EPM, por não haver obrigatoriedade de notificação.
O especialista avisa, no entanto,
que os avanços cirúrgicos não
mudam o fato de que detectar
câncer da próstata continua sendo uma tarefa árdua, porque a
doença não tem sintomas na sua
etapa inicial. Pode, portanto, ser
diagnosticada tarde demais.
Continua de pé, assim, a necessidade de todo homem de mais de
50 anos fazer dois exames anualmente. O de toque, para ver se aumentou o tamanho da próstata,
potencial indicação de problemas, e o de nível de PSA, proteína
liberada na circulação sanguínea
tanto pelo tecido normal da próstata quanto pelas células malignas
prostáticas.
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