São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2010

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Festa resiste ao "encaretamento" da noite paulistana

Insatisfeitos com o que dizem ser onda de conservadorismo, baladeiros se reúnem para promover diversão clandestina

Leis do Psiu e antifumo são criticadas por frequentadores, que fumam livremente e ignoram proibição ao cigarro; lugar não tem licenças legais


VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL

É nas noites de sábado, num prédio sombrio com ares de abandonado na av. São João, bem no centro do centro de São Paulo, que surge um movimento de resistência ao que os baladeiros dizem ser uma onda de conservadorismo e excesso de normatizações que tem minguado a noite paulistana.
Na lista de reclamações, estão as leis do Ruído, do Silêncio, da 1h -que obriga bares a fechar nesse horário- e a antifumo, que baniu o cigarro dos lugares públicos fechados.
Clandestina, a festa Voodoohop funciona à revelia da lista de exigências da prefeitura, como alvará e vistorias do Contru (órgão da prefeitura responsável pela fiscalização da segurança dos imóveis). A lista na porta é o único rigor. Só entra quem tiver o nome nela, e a checagem é inflexível. São R$ 20 de entrada, metade disso para quem estiver fantasiado.
Lá dentro, cada sala comercial é um ambiente: bar, pistas de dança, salas de descanso com colchões e esteiras largadas no chão. De improviso, como é o ar da festa, as bebidas são guardadas em geladeiras. Tudo tem de ser pago em dinheiro vivo, nada de comandas ou cartões de débito.
"Aqui não tem frescura, fumo à vontade e ninguém enche o saco. A noite, a única coisa que São Paulo tem, não é mais o que era alguns anos atrás. Essa festa é uma resposta a esse "encaretamento'", diz a designer Ana Flávia, de piteira na mão.
Os avisos de que é proibido fumar -resquício dos escritórios que haviam ali- não intimidam quem queira tragar cigarros bem ao lado deles. A lei antifumo, uma das reclamações dos noctívagos, é deliberadamente descumprida. Todos podem fumar à vontade.
O sucesso da balada foi conquistado à base do boca a boca on-line. Moda em Londres, onde surgiram, essas festas clandestinas também são comuns em Berlim, organizadas em bunkers e prédios abandonados do antigo regime socialista.

Carandiru
"Ai, gente. Isso está parecendo o Carandiru, pavilhão 9. Só falta o show da Rita Cadillac", diz o estudante de relações públicas Isaac Carvalho, em referência à decadência do prédio.
DJ e um dos organizadores da festa, o alemão Thomas Haferlach afirma que o objetivo também é trazer vida à degradada região central. No começo itinerantes, as últimas festas ocorreram no mesmo prédio na esquina da São João com a rua Dom José de Barros.
"Estamos tentando revitalizar o centro. Tem muito mendigo por aqui, não tem nada cultural. Os botecos do lado vão adorar", diz Haferlach.
Segundo a prefeitura, por reunir mais de 250 pessoas, a festa precisaria de alvará e inspeções de segurança para funcionar regularmente.
Estimativas do órgão revelam que mais de 60% dos imóveis de São Paulo estão irregulares. A dificuldade para obtenção do alvará e as multas pesadas, que chegam a R$ 27 mil, como as do Psiu, são as principais queixas dos empresários da noite paulistana. À 1h, um carro de polícia para na porta, liga a sirene, mas não faz nada.


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