São Paulo, domingo, 12 de maio de 2002

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HABITAÇÃO

Grupo admite ação política para pressionar por mais verbas; após confronto, PM conseguiu retirar ocupantes de um dos locais

Sem-teto fazem megainvasão em oito áreas de SP

ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL

Em menos de uma hora, movimentos de sem-teto fizeram na madrugada de ontem uma megainvasão de prédios e terrenos públicos e particulares em São Paulo, na primeira onda de invasões simultâneas dos últimos dois anos e sete meses.
As entidades conseguiram reunir cerca de 5.000 sem-teto e ocuparam oito áreas na capital paulista. Até ontem, eles continuavam em sete delas e só haviam tido problemas com a Polícia Militar em três das invasões.
Na zona sul, a PM deslocou mais de 20 carros para tirar os 1.500 sem-teto que invadiram um terreno particular perto do cemitério São Luís. Houve um princípio de confronto e, após serem atingidos por bombas de efeito moral, o grupo foi retirado.
A intenção do levante, segundo a UMM (União dos Movimentos de Moradia), é fazer reivindicações e pedir mais investimentos em habitação para as três esferas de governo: municipal, estadual e principalmente federal. A UMM reúne grupos de sem-teto das zonas sul, leste, norte, oeste e central e tem líderes ligados ao PT.
As críticas à administração do partido na capital paulista, porém, também fizeram parte da mobilização. "A moradia no governo Marta ainda não pegou. As promessas são muito tímidas para uma área que precisa de uma revolução", disse Evaniza Rodrigues, da direção da UMM.
A maior contestação na administração petista em São Paulo se refere ao Plano Diretor enviado à Câmara Municipal, que, segundo as entidades, contempla pouco espaço para as Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social).
Até agora, Marta Suplicy só havia tido problemas com um grupo de sem-teto ligado ao PSDB, rival da UMM e que chegou a invadir a sede da prefeitura em abril.
Na manhã de ontem, o secretário da Habitação, Paulo Teixeira, responsabilizou o governo federal pela falta de investimentos no setor e disse que, apesar da ligação do grupo com o PT, o partido não tomou parte nas invasões.
O governo FHC, no entanto, sofreu os principais ataques durante a megainvasão neste ano eleitoral. Das oito áreas invadidas (dois terrenos vazios, um galpão e cinco edifícios), quatro são do governo federal e quatro são particulares.

Mobilização política
Os sem-teto assumem a mobilização como "política", na tentativa de pressionar a gestão FHC e alertar os pré-candidatos para que eles discutam em seus programas a destinação de mais recursos para a habitação.
Em ao menos metade das áreas invadidas, eles não pretendem nem pedir a instalação definitiva das famílias no local. O prédio inacabado da Encol perto da estação de metrô Marechal Deodoro, por exemplo, só foi invadido em "solidariedade aos mutuários". Os sem-teto, porém, prometem só desocupar os terrenos quando houver a abertura de negociações com as três esferas de governo.
A invasão simultânea realizada ontem, da 0h à 1h, começou a ser preparada em outubro de 2001. Ela foi parecida com uma organizada em 1999, quando seis imóveis foram tomados por 6.100 sem-teto. O prédio do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) da Barra Funda, alvo de denúncias de desvios de verba, foi um deles.
Segundo a Folha apurou, a direção da UMM quer manter as invasões pelo menos até a próxima quarta-feira, quando representantes da entidade irão até Brasília para participar de uma audiência pública para a criação do Fundo Nacional de Moradia Popular.
Os sem-teto planejavam na mesma madrugada mais duas invasões, que foram "abortadas" horas antes. Em uma delas, eles temeram ter problemas com os cachorros que protegiam a área.
Na invasão ao prédio do Banco do Brasil, por exemplo, os organizadores estimam que 70% dos ocupantes eram mulheres. Uma delas, Elisa M., 26, estava grávida de oito meses. "É minha primeira vez. Se eu tiver algum problema, eles me levam ao hospital."
A assessoria de imprensa da PM afirmou que só fará a retirada dos manifestantes mediante mandado judicial de reintegração de posse. Segundo ela, a situação ficou tranquila após a invasão.



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