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VIOLÊNCIA
Para promotor, gravação aponta tráfico de influência
CPI investiga acusado de mandar assassinar mulheres no Ceará
KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA
Gravações feitas a pedido da
Justiça e entregues nesta semana à
CPI do Extermínio apontam a
tentativa de uso do tráfico de influência de um acusado de ser o
mandante da morte de duas mulheres no Cariri, sul do Ceará, para se esquivar das investigações.
Na região, 57 mulheres foram assassinadas de 2001 a 2003.
O advogado Alfredo Couto foi
denunciado, com outras quatro
pessoas, pela morte da publicitária Luiza Alexandra de Alencar e
da servidora pública Maria Eliane
Gonçalves da Silva, em junho de
2001, em Juazeiro do Norte. Ele e o
acusado de ter contratado os matadores continuam soltos.
As duas foram mortas no momento em que explodiu uma onda de violência contra mulheres
no Cariri. De maio de 2001 a novembro de 2003, 57 mulheres foram mortas de forma violenta em
municípios da região. Esses dados
e o inquérito com as degravações
foram entregues pela União das
Mulheres do Ceará à CPI.
Entre as mortes, há casos de crimes passionais, de queima de arquivo e até de envolvimento com
o crime organizado. A maioria
tem uma semelhança: os mandantes não foram condenados.
Passional
A denúncia contra o advogado é
de que as mortes teriam motivação passional. Couto reconhece
que mantinha um caso extraconjugal com Alencar, mas nega participação no crime.
O envolvimento amoroso entre
os dois foi o fio condutor das investigações, de acordo com o promotor Germano Guimarães Rodrigues, mas não a única evidência. Segundo a denúncia, Silva
morreu por ser amiga de Alencar
e "saber demais".
A morte das amigas foi bastante
violenta. Foram verificadas marcas de tortura, como unhas e dedos arrancados e partes do corpo
decepadas ainda com vida. Por
fim, as duas foram queimadas.
Como executores, foram denunciados três homens, que estão
presos, aguardando julgamento.
Sob a acusação de ter contratado
matadores, foi denunciado o empresário Aníbal Couto Gondim,
primo de Couto.
Por causa da suspeita de envolvimento, foram autorizadas pela
Justiça escutas às ligações telefônicas de Couto. Foram gravadas
22 fitas, transcritas em cerca de
800 páginas.
Nas conversas, não há confissão
nem evidências de envolvimento,
mas há indícios de tentativa do
uso do tráfico de influência para
mudar os rumos da investigação,
como concluiu o promotor.
A família de Couto é conhecida
no meio jurídico cearense. Couto
quase chegou a ser indicado ao
Tribunal Regional Eleitoral, o que
não aconteceu por causa da denúncia de envolvimento nas mortes. Como álibis para provar que
não estava em Juazeiro do Norte
no dia dos assassinatos, Couto
afirmou ter estado com políticos e
desembargadores em Fortaleza.
Nas gravações, Couto cita a
amizade com desembargadores e
políticos, além da tentativa de interferência de autoridades do governo e da chefia do Ministério
Público a agentes que estavam à
frente das investigações.
Em diálogo com um jornalista,
Couto diz que Socorro França,
chefe do Ministério Público Estadual, havia ligado para um promotor pedindo cópia do inquérito, mas o promotor disse não poder fazê-lo por estar em segredo
de Justiça. "Rapaz, esse pessoal
[promotores] precisa levar...
umas porradas na cabeça", diz.
Em setembro de 2001, Couto
chegou a ser preso, com Gondim,
mas conseguiu um habeas corpus
do STJ (Superior Tribunal de Justiça). A Justiça ainda não definiu
se acata ou não a denúncia feita
pelo Ministério Público.
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