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OPINIÃO
É necessário acabar de vez com o fantasma de 1968
EUNICE DURHAM
ESPECIAL PARA A FOLHA
É necessário que a comunidade universitária se convença que os movimentos
grevistas de funcionários que
vem ocorrendo, tão regularmente como as festas de fim
de ano, são intoleráveis.
Não se trata mais de greve,
isto é, ausência coletiva de
uma categoria para a satisfação de uma reivindicação
justa. A força de uma greve
no sentido de impor o atendimento de suas demandas depende de uma adesão maciça
e da paralisação das atividades normais da instituição.
O que acontece regularmente nos últimos anos é
que os movimentos não conseguem a adesão necessária
e a USP segue funcionando.
Incapaz de mobilizar a categoria, o movimento apela
para ações violentas e ilegais. Piquetes que tentam impedir que docentes e servidores não grevistas tenham
acesso a prédios ferem uma
cláusula pétrea da Constituição, o direito de ir e vir.
A violência dos piquetes é
um ato criminoso. Quando
mesmo os piquetes não impõem a paralisação, apela-se
para a invasão de prédios.
A invasão e depredação de
patrimônio público também
constitui crime. Não pode
uma instituição que lutou pela democracia tolerar ações
ilegais, especialmente quando praticadas por grupos minoritários engrossados por
militantes políticos de dentro
e de fora da USP.
As intenções das ações são
óbvias. A primeira é chamar
a atenção da imprensa e causar a falsa impressão de que
há uma revolução em curso
na universidade. A segunda
é forçar a universidade a chamar a polícia e, no confronto,
produzir "mártires" capazes
de comover a opinião pública, posando como vítimas de
violência policial arbitrária.
Levanta-se então o fantasma de 1968 , quando as forças do regime militar invadiram o campus, prendendo
estudantes e docentes, ação
esta que se somou a ações rotineiras, que ocorriam fora
do campus, de prisão e tortura de professores e alunos.
Os grevistas tentam ilegitimamente se cobrir com o
manto do heroísmo dos que
lutaram contra a ditadura.
É preciso enterrar este fantasma. Em primeiro lugar,
porque não se trata mais de
lutar contra um regime militar opressivo em nome do
qual muitos sacrificaram
suas vidas. Em segundo lugar porque uma coisa é a invasão do campus pela forças
armadas; outro, muito diferente, num regime democrático, é solicitar à Justiça a
reintegração de posse. Se a
decisão de Justiça não for
acatada, configurando mais
um desrespeito à lei, só resta
chamar a polícia para restaurar a ordem no campus.
É entretanto o fantasma de
1968 e a confusão entre invasão militar e presença solicitada da polícia, que paralisa
os docentes e os leva a tolerar
ações que, em qualquer outro contexto, seriam inaceitáveis. Se o prédio da Reitoria e
do COSEAS estão ocupados,
o único caminho legítimo é
reivindicar judicialmente a
reintegração de posse e, se a
ordem da justiça for desrespeitada, solicitar a intervenção da polícia como ocorre
em sociedades democráticas.
Quanto às reivindicações
dos funcionários, de isonomia de aumento em relação
àquela concedida aos professores, elas não procedem.
Na última gestão os servidores foram beneficiados
com aumentos, promoções e
benefícios que os docentes
não receberam. Hoje, ganham mais na USP do que receberiam em empregos fora
dela. Com os professores
acontece o contrário -estão
ganhando menos que docentes de outras universidades
públicas e muito menos do
que outros funcionários públicos de qualificação igual
ou menor. Sem um aumento
diferencial para os docentes
a USP fica ameaçada de perder quadros qualificados e
dificilmente substituíveis.
EUNICE RIBEIRO DURHAM é pesquisadora
do núcleo de políticas públicas da USP
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