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São Paulo, sábado, 12 de julho de 2003

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URBANISMO

Das 36 ruas e avenidas da região, só houve acordo para 9; sem consenso, prefeitura deverá definir futuro de áreas

Pinheiros não define o uso de corredores

SIMONE IWASSO
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Após nove meses de discussões para a formulação de um plano diretor regional adequado à expectativa da população, a Subprefeitura de Pinheiros irá encaminhar seu plano à Câmara Municipal com apenas nove corredores em áreas residenciais definidos. Outras 27 ruas e avenidas, muitas das quais abrigam algum tipo de serviço ou comércio irregular, ainda estão classificadas como "áreas de conflito" e poderão ser arbitradas pela prefeitura.
A situação de Pinheiros é o exemplo mais forte do que acontece em outros bairros: disputas entre associações de moradores e comerciantes ou até mesmo entre os próprios moradores para definir o que será ou não permitido nas ruas e avenidas.
De modo geral, as propostas para esses lugares sofrem pressão tanto de moradores, que defendem a manutenção do uso estritamente residencial, como de comerciantes e empresas prestadoras de serviço, que lutam pela transformação das vias em corredores de serviço e/ou comércio.
Para Ivan Maglio, coordenador da equipe da Secretaria do Planejamento que cuida dos planos e da nova lei de zoneamento, a situação de Pinheiros deve-se à própria localização do bairro, espremido entre a marginal Pinheiros e a avenida Paulista, duas regiões nas quais o comércio e a atividade de serviços se desenvolveram muito nas últimas décadas.
"Pinheiros tem vias com muito tráfego, como a Rebouças e a Nove de Julho. No entanto, o miolo ainda é um bairro residencial sob pressão. Você não consegue evitar esse conflito", diz.
Não faltam exemplos nem argumentos para os defensores de cada proposta. Um dos casos é o final da avenida Rebouças, entre a Brigadeiro Faria Lima e a rua Ibiapinópolis. Muitos imóveis foram abandonados ao longo do tempo e hoje são utilizados irregularmente por empresas de serviço.
Os moradores desejam que a área permaneça como zona exclusivamente residencial e com controle de tráfego de passagem -instalação de ferramentas como lombadas eletrônicas para diminuir a velocidade dos carros.
Outra proposta pede que o trecho seja regulamentado como corredor de serviços, permitindo escritórios, consultórios e imobiliárias, por exemplo.
"É impossível, neste local, controlar o tráfego de passagem. Afeta todo o trânsito da cidade. A proposta da prefeitura seria o corredor de serviços com restrições de construção", afirma Maglio.
Mas o contrário também ocorre. As ruas de apoio à praça Panamericana ainda conservam um perfil predominantemente residencial. Entretanto, uma das propostas pede a criação de um corredor de serviços.
"O que foi chamado de conflito, na verdade, é uma posição majoritária das associações de moradores contra corredores de serviço e comércio. A área verde que se tem em Alto de Pinheiros deve ser preservada, mantida como uma área residencial", afirma o arquiteto Paulo Bastos, da Sociedade Amigos do Alto de Pinheiros.
Caso não haja consenso nas reuniões para a discussão desse caso, a proposta da subprefeitura é a manutenção da zona residencial com controle do tráfego.
"Os moradores de alta renda dos antigos casarões foram se mudando para condomínios verticais e horizontais na periferia da cidade e esses espaços foram ocupados para usos não-residenciais", explica o arquiteto e urbanista Kazuo Nakano, do Instituto Pólis. Para o arquiteto, os conflitos são inevitáveis na cidade, cabendo ao poder público oferecer espaços para negociação e mediação dessas posições.

Outras subprefeituras
Nas subprefeituras da Lapa e da Sé, houve consenso na maioria das propostas, com exceção dos estabelecimentos comerciais que já funcionam irregularmente na avenida Pacaembu, e que os moradores desejam retirar do local.
Porém, também há casos em que a discussão ocorre entre os próprios moradores.
Na Vila Mariana, entre as ruas Capitão Macedo e Conselheiro Rodrigues Alves, discute-se duas propostas: a da Associação de Moradores e dos Amigos da Vila Mariana e a República da Vila Mariana. A primeira defende a adoção de uma zona mista de baixa densidade, ou seja, mantém os estabelecimentos de comércio e serviço no local, mas freando a verticalização do bairro. A segunda, defende um potencial construtivo maior, que incentivaria a construção de novos edifícios.
"Não temos nada contra o comércio e os serviços. Acho bom termos lojas, padaria e locadora de vídeo no bairro. Nosso problema é com o trânsito intenso e a verticalização", afirma César Michel Angelucci, da Amav.


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