São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2004

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SISTEMA PRISIONAL

Motim no presídio Hélio Gomes foi controlado na manhã de ontem após invasão; 16 pessoas ficaram feridas

Rebelião no Rio termina com um morto

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

TALITA FIGUEIREDO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Um preso morreu e 16 pessoas ficaram feridas -entre elas dois agentes penitenciários- durante uma rebelião no presídio Hélio Gomes (complexo penitenciário Frei Caneca), no Estácio (zona norte do Rio). Dois helicópteros da polícia sobrevoaram o presídio e trocaram tiros com presos que ameaçavam matar cinco reféns. Apenas uma pistola foi encontrada com os presos.
O motim começou por volta das 18h de sábado, quando um preso identificado como Carlão, armado com uma pistola, rendeu seis agentes penitenciários que distribuíam o jantar. Um dos agentes, Celso Rodrigues, 56, escapou e acionou a polícia.
Cerca de 20 presos tentaram fugir, mas a PM já havia cercado a unidade. Eles se rebelaram com a ajuda de pelo menos outros 80 detentos. Segundo o subsecretário de Administração Penitenciária, Aldney Peixoto, não houve negociação com os presos.
Às 5h, o Bope (Batalhão de Operações Especiais) da PM ocupou o morro de São Carlos, vizinho à penitenciária.
Quando amanheceu, parte dos presos foi para o telhado, de onde ameaçava matar os reféns. O agente Joel Bastos dos Santos foi esfaqueado nas costas. Ele sofreu uma perfuração no pulmão e está internado no Hospital Central da Polícia Militar, que fica a cerca de 200 metros do complexo.
Às 6h40, a Secretaria de Administração Penitenciária decidiu invadir o presídio, o que aconteceu por volta das 7h30.
Dezesseis agentes penitenciários do Grupamento de Intervenção Tática armados com escopetas com balas de borracha, gás de pimenta e gás lacrimogêneo entraram no prédio. Ao mesmo tempo, dez policiais em dois helicópteros, um da PM e um da Polícia Civil, trocaram tiros com os presos que estavam no telhado.
No tiroteio, o preso Ubiratan Francisco do Couto, 24, foi morto, e o agente João Demerval se jogou ou foi atirado do telhado, sofrendo traumatismo craniano. Seu estado de saúde é estável, segundo o Hospital Central da PM.
A rebelião foi controlada. Os outros três reféns, Leonardo Marques, Carlos Menezes e Ivan Carlos Braz foram libertados sem ferimentos. Segundo a polícia, 14 presos ficaram feridos. Cinco estão em estado grave -dois à bala e três queimados- e foram transferidos para o Hospital Municipal Souza Aguiar.
Aldney Peixoto disse que dois motivos levaram o governo a decidir pela invasão do presídio Hélio Gomes: receio de que houvesse uma matança entre os detentos -a exemplo da ocorrida no final de maio, na Casa de Custódia de Benfica, com a morte de 31 pessoas- e a ameaça dos presos de jogar os reféns do telhado. "A invasão foi em legítima defesa dos reféns", disse o subsecretário.
O presídio Hélio Gomes tem 1.100 presos. Segundo a secretaria, é um presídio "neutro", pois os presos não pertencem a facções criminosas, como acontece em Benfica e no complexo de Bangu, o que diminuiria a possibilidade de matança entre presos.
O deputado estadual Geraldo Moreira (PSB), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Rio, que visitou ontem o presídio, lamentou a invasão. "Acho lastimável. Sou daqueles que acreditam que a vida humana deve sempre ser preservada. Eles deveriam negociar à exaustão antes de tomar uma atitude dessas", disse.


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