São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2006

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Falta de vitamina B1 causou as mortes no Maranhão

Ministério diz que 33 pessoas morreram desde janeiro; segundo Estado, foram 16

Pobreza e má alimentação marcam famílias de vítimas; para governador, registros incorretos afetaram identificação da doença


Lalo de Almeida/Folha Imagem
Maria de Souza Gomes, moradora de Davinópolis, cujo filho Nilton Souza Gomes, 31, morreu em decorrência da síndrome neurológica


SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM IMPERATRIZ

O Ministério da Saúde concluiu que a falta de vitamina B1 é a causa da síndrome neurológica que atinge a população da região oeste do Maranhão, e que, de acordo com dados do próprio órgão, matou 33 pessoas desde janeiro. Outras 123 pessoas tiveram sintomas da doença, chamada beribéri.
Para o coordenador da Vigilância Epidemiológica do ministério, Expedito Luna, a investigação sobre a causa da síndrome está encerrada.
"A literatura médica reconhece que a prova terapêutica é uma confirmação diagnóstica. Tínhamos três pacientes muito mal na UTI e que reagiram com a suplementação da B1 e estão curados", disse. Segundo ele, a absorção da vitamina B1, quando já ingerida em quantidade insuficiente, é prejudicada pelo consumo de bebidas alcoólicas.
No Maranhão, a doença atinge sobretudo homens entre 14 e 44 anos, muitos deles trabalhadores rurais e que tiveram contato com agrotóxicos. No entanto, há relatos de pacientes que não manusearam venenos e negam o consumo de álcool.
O número de mortos confirmados pela Secretaria da Saúde do Maranhão é outro: 16 desde janeiro. A última, de um jovem agricultor de 21 anos, foi anteontem à noite no Hospital Municipal de Imperatriz.

Arroz e abóbora
O beribéri foi identificado no século 19. Tem como sintomas dormência e inchaço das pernas, dificuldade de caminhar e fraqueza. Evolui para insuficiência respiratória e cardíaca, fatores que levam à morte. Quando é tratado no início, antes de atingir o músculo cardíaco, não é mortal.
A pobreza e a má alimentação que decorre dela são traços que unem as vítimas no interior do Maranhão.
Nas famílias com integrantes atingidos visitadas pela reportagem, o arroz branco era a base da alimentação diária. A região é grande produtora do cereal. Feijão, verduras e carne, mais caros, nem sempre estão na mesa. A vitamina B1 é encontrada principalmente em cereais integrais, legumes, ovos e leite.
"Não dá para ter feijão todos os dias, não. Tá caro, cobram R$ 5 por dois litros", disse Clarisse da Silva Soares, 37, mãe de Dihonatan da Silva Soares, 20, que ainda se recupera da doença. Ele mora com a mãe, o pai e cinco irmãos em Montes Altos (cerca de 60 km de Imperatriz).
Na quarta-feira passada, o cardápio da família era arroz e abóbora, que crescia no quintal da casa. A única renda certa que recebem por mês são R$ 80 do programa Bolsa-Família, do governo federal.
"A comida daqui de casa é arroz, feijão e uma carne quando aparece", disse Maria de Souza Gomes, 59, mãe de Nilton Souza Gomes, 31, que morreu em decorrência da síndrome. "Ele bebia bastante, mas não sei se tem relação [com a doença]."

Registros
Para o governador do Maranhão, José Reinaldo Tavares (PSB), é possível que o beribéri já estivesse vitimando moradores do interior há algum tempo, mas, como as mortes não eram registradas de maneira correta, a doença não era identificada. "Já devia ser uma coisa que já vinha acontecendo há tempo, mas entrando como morte desconhecida, sem investigação."
O governador esteve reunido na última segunda-feira em Brasília com o ministro da Saúde, Agenor Álvares, para discutir as causas a doença.
Segundo ele, o Estado fará uma estudo nutricional da região para verificar qual o quadro alimentar da população e que servirá de base para implementação de ações preventivas.


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