São Paulo, sábado, 12 de julho de 2008

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Chefe de fiscais e assessor político são presos

Além deles, mais 9 pessoas foram presas acusadas de usar Subprefeitura da Mooca para extorquir dinheiro de camelôs

Segundo a polícia, acusados arrecadavam cerca de R$ 1 milhão por mês; subprefeito exonerou dois dos suspeitos e pediu o afastamento de 3


Robson Ventura/Folha Imagem
Policiais prendem Georges Marcelo Eivazian, 29, assessor da Subprefeitura da Mooca, acusado de cobrar propina de camelôs em SP

KLEBER TOMAZ
ANDRÉ CARAMANTE

DA REPORTAGEM LOCAL

Onze pessoas foram presas ontem pela Polícia Civil, acusadas de integrar duas quadrilhas que usavam a infra-estrutura da Subprefeitura da Mooca para extorquir mais de R$ 1 milhão a cada mês de vendedores ambulantes, donos de bares e de empreendimentos imobiliários na zona leste de São Paulo.
Dos 11 presos, cinco eram funcionários da subprefeitura. Todos tiveram a prisão temporária -por cinco dias- decretada pela Justiça. Dois camelôs estão foragidos.
Um dos presos é Georges Marcelo Eivazian, 29, assessor político do subprefeito da Mooca, Eduardo Odlak, e militante do DEM, partido do prefeito Gilberto Kassab, candidato à reeleição. Ele foi detido em um motel, com uma prostituta, durante o horário de trabalho.
Candidato em 2006 a deputado estadual pelo então PFL (atual DEM), Marcelo Eivazian é apontado como chefe da quadrilha acusada de achacar ambulantes ilegais que atuam no Brás, Mooca e Tatuapé.
Com o irmão Felipe, chefe dos fiscais da subprefeitura, também preso na operação de ontem, Eivazian é acusado de exigir R$ 1.000 por mês, em média, para que cerca de 500 ambulantes pudessem atuar sem sofrer fiscalização. A cada mês, o grupo arrecadaria, segundo a polícia, R$ 500 mil.
Os irmãos foram contratados pelo subprefeito Odlak e seus cargos eram considerados de confiança. Outro preso ontem, o advogado Leandro Giannasi Severino Ferreira, foi candidato a deputado estadual pelo PL, atual PR, em 2002.
Ferreira advoga para Marcelo Eivazian e é suspeito de exigir dinheiro de donos de bares da Mooca, onde os irmãos tinham atuação profissional, para que os estabelecimentos pudessem operar sem seguir a lei -funcionar além do horário permitido e manter mesas nas calçadas, por exemplo.
Além dos três, a polícia ainda procura um outro suspeito, identificado como Leandro.

A outra quadrilha
Além dos irmãos Eivazian, também foram presos três agentes de apoio de fiscalização da Subprefeitura da Mooca: Edson Alves Mosqueira, Nilson Alves de Abreu e Ronaldo Correa da Silva. Sem atribuição para realizar qualquer tipo de apreensão contra camelôs, os três, de acordo com a polícia, se passavam por fiscais para praticar as extorsões a outro grupo de ambulantes.
Após as prisões, o subprefeito da Mooca anunciou ter exonerado os dois irmãos e pedido o afastamento dos três agentes de apoio, para que eles respondam processo administrativo. Odlak disse que "foi traído".
Os camelôs Manoel Severino Bezerra de Melo, Hugo de Santana Andrade, Lisoamar Rodrigues de Souza, Maria Ivanilde Lima da Silva e João Jorge Cunha também foram presos. Estão foragidos os ambulantes Juvemar Pinto dos Santos, o Mazinho, e Ademir Batista.
Todos eles são acusados pela polícia e pela Promotoria de recolher junto aos outros ambulantes o dinheiro da propina para repassá-lo aos agentes de apoio presos ontem.
Em troca, a quadrilha dava informação antecipada sobre a fiscalização e proteção aos ambulantes. Quem não pagasse -cada camelô dava entre R$ 20 e R$ 30, por semana -tinha a mercadoria apreendida. Esse esquema, segundo a polícia, renderia R$ 560 mil mensais.
Segundo o promotor José Carlos Blat, os cinco funcionários da subprefeitura são acusados de concussão (extorsão praticada por funcionário público) e formação de quadrilha. Os camelôs são suspeitos de corrupção ativa e de integrar a quadrilha formada para realizar as extorsões.
Marcelo Eivazian também foi acusado de tráfico de influência e terá de responder por porte de entorpecente. Segundo a polícia, foram achados dois papelotes de cocaína.
A ação dos funcionários da Subprefeitura da Mooca e dos camelôs acusados de fazer a recolha das propinas para eles, de acordo com a polícia, era investigada havia três meses.
Escutas telefônicas realizadas com autorização judicial serviram como base para os pedidos de prisões feitos à Justiça. Nas escutas, Marcelo Eivazian foi flagrado dizendo que, cada semana, "o acerto é esse: todos os dias é o dobro de mil. Se não vier, acabou, velho! Ninguém mais trabalha."


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