WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Samir Achôa era advogado ocupado, cuja hora de trabalho valia muito no mercado. Mas um dia foi ao supermercado comprar macarrão pra fazer para amigos, bom cozinheiro que era, e viu, possesso, que a mesma massa custava 30% a menos em outra loja da rede. Voltou na loja, comprou o mais barato, juntou as notas e passou cinco horas ligando para o dono, um dos maiores empresários do país. "É pela causa, não pelo macarrão", disse.
O filho de libaneses não gostava de perder. Ele mesmo, nascido em Vera Cruz (SP), fora vendedor -diz o sobrinho que até de abacates, na rua-, até entrar na faculdade de direito. "Daí para a política foi um passo." Elegeu-se vereador pelo MDB em 1964 e depois em 1976.
"Aí pulou logo para deputado e federal", diz a orgulhosa secretária. Foram 12 anos em três mandatos pelo MDB -PMDB, passando pela Assembléia Constituinte. "Foi um dos idealizadores do código de defesa do consumidor", diz um colega político.
Não se reelegeu e desistiu -"a família (mulher, três filhos e cinco netos) não queria mais". Ficou com o rádio.
Tinha o programa "Falando Francamente", cujo estilo "era o da porrada", diz o amigo. "Ele xingava (de bandido, safado, sem-vergonha) os ladrões que via nos jornais." E sem deixar de advogar -há um mês deixara o hospital para uma reunião onde pôs "os pingos nos is" e voltou para a internação. Morreu dia três, aos 74, de câncer.

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