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SEGURANÇA PÚBLICA
Secretaria investiga liberação de US$ 900 mil para reforma de prédio com 3 celas em Guará (SP)
Cadeia recebe verba por obra não realizada
MARCELO TOLEDO
DA FOLHA RIBEIRÃO
CAROLINA ALVES
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
A Cadeia Pública Estadual de
Guará (400 km de São Paulo), interditada há 11 anos por falta de
condições de funcionamento, está
sendo investigada pela Secretaria
de Estado da Segurança Pública
por ter recebido verba para uma
reforma que não foi realizada.
Quando o dinheiro foi liberado,
em maio de 1991, o local já estava
fechado havia dois anos. A cadeia
foi interditada pela Vigilância Sanitária de Franca (401 km de São
Paulo) a pedido da Justiça, em junho de 89.
De acordo com o engenheiro
Carlos Migliori Júnior, que interditou o local, não foi feita nenhuma reforma no prédio. "Acho que
o que "reformaram" foi o dinheiro", afirmou.
Uma sindicância aberta pela secretaria apontou o Deplan (Departamento de Planejamento e
Controle da Polícia Civil) -hoje
DAP (Departamento de Administração da Polícia)- como o foco
das irregularidades.
No total, foram liberados US$
900 mil (R$ 1,6 milhão, ao câmbio
de ontem) para a obra, o que corresponde a 23% do Orçamento de
Guará (cerca de R$ 7 milhões). Esse valor foi liberado para reformar
uma cadeia que possui apenas
três celas, numa cidade de 20 mil
habitantes.
Do total liberado, existe uma fatura comprovando que US$ 330
mil já foram pagos à construtora
Zocolotto. O diretor da construtora, Valdek Araújo, não foi encontrado pela Folha ontem.
O delegado-seccional de Franca, José Mauro Davi, e o prefeito
da cidade, César Antônio Moreira
(PSDB), confirmam que nenhuma reforma foi realizada após a
interdição do local pela Justiça.
Davi afirmou ainda que nenhuma delegacia tem conhecimento
do valor ou de detalhes das reformas. "Quando era para acontecer
alguma reforma, alguém do Deplan aparecia falando das obras,
mas não ficávamos sabendo dos
valores ou o que ia ser feito."
O Deplan foi apontado como o
foco das irregularidades porque
era o setor responsável pelas licitações das cadeias estaduais nos
governos de Orestes Quércia e de
Luiz Antonio Fleury Filho.
Apenas duas reformas, de manutenção, foram realizadas em
Guará. O local foi pintado e teve o
telhado consertado. Elas só foram
realizadas porque, no mesmo local da cadeia, funcionam a delegacia e a Ciretran (Circunscrição
Regional de Trânsito). Uma das
reformas foi paga pela prefeitura.
A cadeia foi interditada por falta
de condições de segurança e por
não possuir instalações, como pátio para o banho de sol. As instalações hidráulicas também estão
deterioradas.
No entanto ela pode ser reativada. Isso porque, há cerca de uma
semana, a Comarca de Guará foi
aprovada, faltando apenas ser
sancionada pelo governador Mário Covas (PSDB). A prefeitura
enviou um projeto à seccional pedindo a reativação da cadeia. O
fórum local também recebeu um
pedido de desinterdição.
Agora, o prefeito acredita que,
com a investigação, o processo
possa ser interrompido. "No momento em que precisamos da cadeia, talvez tenhamos dificuldades em reabri-la", disse.
Outra cadeia que está sendo investigada é a de Cajuru (310 km de
São Paulo). O delegado Paulo José
Esteia Piçarro, no cargo desde
1991, afirma que foi realizada uma
reforma em 92. Ele não soube informar o valor.
A Secretaria de Estado da Segurança Pública não se manifestou
sobre o assunto.
Colaborou Raquel Lima, da Folha Campinas
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