São Paulo, sexta, 12 de setembro de 1997.



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BARBÁRIE
Motoboy que confessou sequestro de Ives Ota, de 8 anos, foi também espancado duas vezes na prisão em SP
Acusado de sequestrar garoto é violentado

OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local

O motoboy Silvio da Costa Batista, 26, que confessou ter participado do sequestro do estudante Ives Yoshiaki Ota, 8, foi espancado e violentado sexualmente duas vezes na carceragem do Depatri (Departamento de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio), no Carandiru (zona norte de SP).
Batista foi preso na última sexta-feira, quando telefonava de um orelhão para a família de Ives, exigindo R$ 80 mil de resgate.
O corpo do garoto, morto com dois tiros na cabeça, foi encontrado na segunda-feira enterrado no quarto onde Batista dormia com a mulher e a filha. Ele confessa ter sequestrado o garoto, mas acusa dois PMs pelo assassinato.
Desde sua prisão até a tarde de anteontem, Batista ficou em uma cela fora da carceragem, pois era levado constantemente para a Delegacia Especializada Anti-Sequestro (Deas), em outro prédio, para prestar depoimentos. No final da tarde de quarta, ele foi colocado em uma cela com outros 29 presos. Por volta das 19h, ele foi espancado e violentado pela primeira vez, segundo a polícia.
"Os presos souberam que ele havia participado do sequestro da criança e o torturaram por cerca de dez minutos. Quando os policiais ouviram os gritos, tiraram o preso da cela e levaram ao hospital", afirmou o delegado Paulo Fortunato, titular do Diprocom (Divisão de Proteção Comunitária), à qual o Deas é subordinado.
Socorro
"Quando entramos na cela, o preso não conseguia nem mais gritar por socorro. Ele apanhou até desmaiar. Se ele ficasse mais cinco minutos na cela, iria morrer", afirmou um policial do Depatri que participou do resgate de Batista.
Batista foi levado à unidade do PAS (Plano de Atendimento à Saúde) em Santana. Segundo os médicos, ele apresentava contusões em todas as partes do corpo devido às agressões. Ele também foi violentado sexualmente pelos presos.
Por volta das 5h, Batista teve alta médica e foi levado novamente ao Depatri. Para evitar novas agressões, ele foi colocado em uma cela separada da carceragem, com 19 presos jurados de morte.
Mas, três horas depois, houve uma rebelião na carceragem. Segundo a polícia, os presos rebelados arrombaram a cela onde Batista estava e tomaram os 20 presos do local como refém.
Pela segunda vez, o motoboy foi espancado e socorrido no PAS de Santana, junto com outros 11 presos feridos na rebelião. Esse segundo espancamento durou cerca de cinco minutos.
No início da tarde de ontem, ele foi levado pela terceira vez ao Depatri e colocado na cela fora da carceragem. Até a noite de ontem, segundo a polícia, o motoboy não havia sido ameaçado pelos outros cinco presos que dividem a cela.
A polícia não autorizou que Batista desse entrevista.



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