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SEGURANÇA
Investigação do Ministério Público Federal aponta esquema de acobertamento a criminoso conhecido como Lobão
Apuração liga 100 policiais a contrabandista
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de cem policiais, entre civis, militares e federais, estariam
ligados ao homem apontado como o maior contrabandista de cigarros do país, Roberto Eleutério
da Silva, conhecido como Lobão,
segundo investigação do Ministério Público Federal revelada ontem pelo Jornal Nacional. Lobão
foi preso na semana passada em
São Paulo.
De acordo com a apuração da
Procuradoria da República do
Distrito Federal, um grupo de
PMs seria responsável por escoltar as carretas de cigarros contrabandeados que chegavam ao Estado. Policiais civis e federais cuidariam da proteção pessoal de
Lobão e dos depósitos usados pela quadrilha como entrepostos de
distribuição.
Silva, que usava um escritório
no centro de São Paulo, teria ligações com fábricas de cigarros do
Paraguai e dominaria o comércio
de cigarros clandestinos. O esquema montado por ele estaria faturando cerca de US$ 2 milhões por
semana, conforme estimativa do
Ministério Público Federal.
Pelo menos 30 policiais trabalhariam para ele na zona oeste e
no centro da capital, outros dez na
zona norte, mais 20 na região leste
e 20 na zona sul. Outros 25 cuidariam da proteção pessoal dele.
Eles estão sendo investigados, e os
nomes não foram divulgados.
O esquema foi descoberto a partir de interceptações telefônicas
pedidas pela Procuradoria da República à Justiça Federal, em Brasília, a partir de dezembro do ano
passado. A Polícia Rodoviária Federal realizou as escutas.
Informações dessa apuração levaram à prisão, nesta semana, do
delegado Alexandre Morato Crenite, da Corregedoria da Polícia
Federal, que teria ligações com o
empresário Ari Natalino da Silva,
dono da Petroforte, investigado
por adulteração de combustíveis,
evasão de divisas, sonegação fiscal, contrabando de cigarros e formação de quadrilha.
O delegado teria recebido R$
500 mil para "trabalhar" a liberdade do empresário, a quem deveria investigar. Ontem, segundo
a assessoria da Polícia Federal de
São Paulo, ele ainda não havia
constituído advogado.
Segundo o Ministério Público, o
delegado teria deixado de cumprir mandados de busca e apreensão, entre outros "serviços".
Operação
Lobão acabou detido no último
dia 3, em uma operação da Polícia
Federal em São Paulo, que envolveu policiais de outros Estados.
No mesmo dia, outras quatro
pessoas foram detidas, entre elas
um irmão de Lobão.
Na ação, a Polícia Federal cumpriu 29 mandados de busca e
apreensão em endereços que seriam usados pela quadrilha no
Rio de Janeiro, em São Paulo, no
Ceará e na Paraíba.
Entre os documentos apreendidos nesses locais estariam pistas
do envolvimento de juízes, policiais e políticos ligados ao esquema do suposto contrabandista.
Segundo o procurador da república Guilherme Schelb, que coordenou a investigação, a quadrilha
vinha agindo desde 1977. "Jamais
tivemos contato com uma realidade em que tantos servidores
públicos integravam efetivamente o crime organizado", afirmou
Schelb ao Jornal Nacional.
Gravações telefônicas em que
policiais paulistas aparecem falando sobre valores e serviços
prestados integram a apuração da
Procuradoria da República.
Polícia
Por meio de nota, divulgada ontem à noite, a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou que pedirá informações à
Justiça Federal sobre as denúncias
de suposta participação de policiais no esquema de contrabando
e que será aberto inquérito para
investigar o caso.
"A Secretaria da Segurança não
foi informada sobre as denúncias,
apesar de ter tido o conhecimento
de que o procurador Guilherme
Schelb esteve em São Paulo, onde
teria afirmado a outras autoridades que qualquer investigação envolvendo policiais paulistas seria
feita com a participação da secretaria", afirma o texto.
O procurador não foi encontrado ontem à noite pela Folha para
falar sobre o caso.
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