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EDUCAÇÃO
Alunos de profissionais que não tiveram formação no magistério apresentam notas mais altas em exame do MEC
Professor de 2ª opção dá mais resultado
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Eles são engenheiros, psicólogos, químicos..., mas decidiram
abandonar a profissão original
para se dedicar ao magistério.
Apesar de viverem num país onde
uma das queixas mais comuns é a
de que o professor não é valorizado, não se arrependeram da decisão. Dados tabulados pelo educador João Batista Araújo Oliveira
mostram que as escolas que os
acolheram também não têm motivos para arrependimento.
A partir da análise do Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade da educação no Brasil), Oliveira comparou a média de alunos
de quarta série em português e
matemática de acordo com o tipo
de professor. Os resultados mostram que os estudantes que têm
aulas com esses profissionais que
não se graduaram nas carreiras
tradicionais do magistério, como
pedagogia ou licenciaturas, têm
médias superiores aos demais.
Segundo o Saeb, 13% dos professores de português e 12% dos
docentes de matemática na quarta série se formaram em outros
cursos que não os específicos para
o magistério, pedagogia ou licenciaturas. São os alunos desses professores, no entanto, que obtiveram as melhores médias no exame. Em português, a média foi
180 e, em matemática, 187.
As médias mais baixas foram
encontradas entre os alunos de
professores com formação em nível médio em cursos específicos
de preparação para o magistério.
Em português, a média desse grupo foi de 160 pontos, enquanto
em matemática ficou em 169. A
escala de notas do Saeb vai até 500
pontos, mas, para a quarta série, o
nível mínimo considerado satisfatório é de 200.
Para dar aula até a quarta série
do ensino fundamental, o docente
pode ter formação em cursos específicos para isso de nível médio,
em pedagogia ou em licenciatura
em disciplinas específicas, como
matemática. Para que um profissional formado em outra carreira
possa dar aula, é necessário fazer
complementação pedagógica.
Para Oliveira, a comparação entre as médias no Saeb indica que é
preciso pesquisar mais as razões
que fazem com que alunos de determinados professores aprendam mais do que outros. Ele esclarece que essa tabulação não leva em conta se outros fatores podem estar influenciando esse melhor resultado dos professores
sem formação específica.
"Do pouco que sabemos a partir
desses dados do Saeb, podemos
dizer que eles sugerem que ter
uma formação boa em alguma
coisa é muito mais eficaz do que
ter uma formação ruim em qualquer coisa. Podemos estar privilegiando um tipo de formação que
dá menos resultado", afirma.
Para a diretora-presidente do
instituto Protagonistes e ex-secretária estadual da Educação de São
Paulo, Rose Neubauer, não deve
haver preconceito com relação a
capacidade do profissional de outras áreas de dar aulas.
"O Brasil tem em algumas áreas
um déficit muito grande de professores. É preciso potencializar
os recursos humanos que nós temos. Se um químico, um jornalista ou um advogado, após receber
complementação pedagógica,
quiser dar aula e for um bom professor, ótimo", diz ela.
Ela afirma que, a partir dessas
tabulações do Saeb, ainda não é
possível fazer relações conclusivas. Na opinião dela, trata-se de
um indicador que precisa ser
mais bem detalhado, mas diz que
algumas conclusões são referendadas por outros estudos também. "Quanto mais o professor
tem formação e quanto mais formação ele tem numa área específica, melhor é seu desempenho."
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