São Paulo, segunda-feira, 12 de setembro de 2005

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EDUCAÇÃO

Alunos de profissionais que não tiveram formação no magistério apresentam notas mais altas em exame do MEC

Professor de 2ª opção dá mais resultado

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

Eles são engenheiros, psicólogos, químicos..., mas decidiram abandonar a profissão original para se dedicar ao magistério. Apesar de viverem num país onde uma das queixas mais comuns é a de que o professor não é valorizado, não se arrependeram da decisão. Dados tabulados pelo educador João Batista Araújo Oliveira mostram que as escolas que os acolheram também não têm motivos para arrependimento.
A partir da análise do Saeb (exame do MEC que avalia a qualidade da educação no Brasil), Oliveira comparou a média de alunos de quarta série em português e matemática de acordo com o tipo de professor. Os resultados mostram que os estudantes que têm aulas com esses profissionais que não se graduaram nas carreiras tradicionais do magistério, como pedagogia ou licenciaturas, têm médias superiores aos demais.
Segundo o Saeb, 13% dos professores de português e 12% dos docentes de matemática na quarta série se formaram em outros cursos que não os específicos para o magistério, pedagogia ou licenciaturas. São os alunos desses professores, no entanto, que obtiveram as melhores médias no exame. Em português, a média foi 180 e, em matemática, 187.
As médias mais baixas foram encontradas entre os alunos de professores com formação em nível médio em cursos específicos de preparação para o magistério. Em português, a média desse grupo foi de 160 pontos, enquanto em matemática ficou em 169. A escala de notas do Saeb vai até 500 pontos, mas, para a quarta série, o nível mínimo considerado satisfatório é de 200.
Para dar aula até a quarta série do ensino fundamental, o docente pode ter formação em cursos específicos para isso de nível médio, em pedagogia ou em licenciatura em disciplinas específicas, como matemática. Para que um profissional formado em outra carreira possa dar aula, é necessário fazer complementação pedagógica.
Para Oliveira, a comparação entre as médias no Saeb indica que é preciso pesquisar mais as razões que fazem com que alunos de determinados professores aprendam mais do que outros. Ele esclarece que essa tabulação não leva em conta se outros fatores podem estar influenciando esse melhor resultado dos professores sem formação específica.
"Do pouco que sabemos a partir desses dados do Saeb, podemos dizer que eles sugerem que ter uma formação boa em alguma coisa é muito mais eficaz do que ter uma formação ruim em qualquer coisa. Podemos estar privilegiando um tipo de formação que dá menos resultado", afirma.
Para a diretora-presidente do instituto Protagonistes e ex-secretária estadual da Educação de São Paulo, Rose Neubauer, não deve haver preconceito com relação a capacidade do profissional de outras áreas de dar aulas.
"O Brasil tem em algumas áreas um déficit muito grande de professores. É preciso potencializar os recursos humanos que nós temos. Se um químico, um jornalista ou um advogado, após receber complementação pedagógica, quiser dar aula e for um bom professor, ótimo", diz ela.
Ela afirma que, a partir dessas tabulações do Saeb, ainda não é possível fazer relações conclusivas. Na opinião dela, trata-se de um indicador que precisa ser mais bem detalhado, mas diz que algumas conclusões são referendadas por outros estudos também. "Quanto mais o professor tem formação e quanto mais formação ele tem numa área específica, melhor é seu desempenho."

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