|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Nota de cotista em seleção na federal do ABC é 10% menor
Instituição destinou 50% das suas 1.500 vagas a alunos provenientes da escola pública
Sem cotas, 158 dos 750 aprovados pelo sistema não teriam entrado na universidade, cujas aulas começaram ontem
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
No primeiro vestibular da
Universidade Federal do ABC,
os candidatos cotistas tiveram
um desempenho parecido com
o dos demais inscritos: enquanto a nota média do primeiro
grupo foi 61,1, a do segundo foi
67,1 (diferença de 9,8%).
A instituição, cujas aulas começaram ontem, em Santo André, destinou 50% das suas
1.500 vagas a alunos provenientes da escola pública. Dentro da reserva, houve ainda
uma subcota para negros, pardos e indígenas.
Se o sistema de cotas não tivesse sido adotado, 158 dos 750
estudantes dessa rede não teriam sido aprovados.
A instituição considerou o
resultado satisfatório, pois conseguiu aumentar o número de
alunos da escola pública sem
que isso derrubasse as notas
dos aprovados -o que seria um
indicativo de má qualidade dos
alunos.
"As cotas na UFABC cumpriram o papel que desejávamos,
de colocar na universidade pessoas com desempenho parecido no vestibular, mas que tiveram uma preparação muito diferente", afirmou o pró-reitor
de pós-graduação Armando
Milioni, designado pela instituição para falar à Folha.
"Se a diferença de rendimento é tão pequena, para que então aplicar as cotas?", questionou a pesquisadora Elizabeth
Balbachevsky, do Núcleo de
Pesquisas sobre o Ensino Superior da USP.
Para Balbachevsky, a polêmica que existe no país sobre a
adoção ou não das cotas "tira o
foco do que realmente precisa
ser discutido, que é a implementação de uma política efetiva que leve à ampliação do
ensino superior público".
Atualmente, apenas 10,4%
da população entre 18 e 24 anos
no país está na universidade.
Avanço
O desempenho semelhante
entre cotistas e não-cotistas
também foi verificado na Unifesp, a outra universidade federal de São Paulo que adotou a
reserva de vagas, em 2005,
quando a diferença entre as notas mínimas dos dois grupos ficou em 10%.
A UFABC espera agora que o
rendimento dos cotistas durante a graduação seja até superior
ao dos demais alunos.
A tese para sustentar isso é
que, se com condições muito
inferiores de preparação esses
alunos da rede pública conseguiram um desempenho parecido com os da escola privada
no vestibular, em condições
iguais (na graduação), eles
aproveitarão melhor o curso.
A UFABC exemplifica tal raciocínio com o verificado na
Unicamp, que beneficiou os
alunos da rede pública com um
bônus. Na universidade de
Campinas, esses vestibulandos
tiveram notas médias maiores
do que as dos demais em 29 dos
55 cursos já no primeiro semestre da graduação.
A Unicamp, porém, reitera
que o resultado ocorre devido
ao seu tipo de seleção no vestibular e ao perfil de aluno que
presta o exame. Ou seja, o desempenho dos alunos da rede
pública pode ser diferente em
outras universidades.
Boa recepção
No primeiro dia de aula na
UFABC, o cotista André Tavares de Oliveira, 20, afirmou que
ouviu um grupo de alunos da
universidade criticando a reserva de vagas. "Mas nem liguei. Estou sendo muito bem
recebido, não há distinção",
afirmou.
"Sou cotista, mas não concordo com nenhum tipo de discriminação. E cotas é uma discriminação. Precisamos é proteger na raiz, melhorando a
educação básica", disse o aluno
José Niudo Freitas, 51.
Texto Anterior: Exército fará treinamento em cidade cenográfica Próximo Texto: Frases Índice
|