São Paulo, terça-feira, 12 de setembro de 2006

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Nota de cotista em seleção na federal do ABC é 10% menor

Instituição destinou 50% das suas 1.500 vagas a alunos provenientes da escola pública

Sem cotas, 158 dos 750 aprovados pelo sistema não teriam entrado na universidade, cujas aulas começaram ontem

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

No primeiro vestibular da Universidade Federal do ABC, os candidatos cotistas tiveram um desempenho parecido com o dos demais inscritos: enquanto a nota média do primeiro grupo foi 61,1, a do segundo foi 67,1 (diferença de 9,8%).
A instituição, cujas aulas começaram ontem, em Santo André, destinou 50% das suas 1.500 vagas a alunos provenientes da escola pública. Dentro da reserva, houve ainda uma subcota para negros, pardos e indígenas.
Se o sistema de cotas não tivesse sido adotado, 158 dos 750 estudantes dessa rede não teriam sido aprovados.
A instituição considerou o resultado satisfatório, pois conseguiu aumentar o número de alunos da escola pública sem que isso derrubasse as notas dos aprovados -o que seria um indicativo de má qualidade dos alunos.
"As cotas na UFABC cumpriram o papel que desejávamos, de colocar na universidade pessoas com desempenho parecido no vestibular, mas que tiveram uma preparação muito diferente", afirmou o pró-reitor de pós-graduação Armando Milioni, designado pela instituição para falar à Folha.
"Se a diferença de rendimento é tão pequena, para que então aplicar as cotas?", questionou a pesquisadora Elizabeth Balbachevsky, do Núcleo de Pesquisas sobre o Ensino Superior da USP.
Para Balbachevsky, a polêmica que existe no país sobre a adoção ou não das cotas "tira o foco do que realmente precisa ser discutido, que é a implementação de uma política efetiva que leve à ampliação do ensino superior público".
Atualmente, apenas 10,4% da população entre 18 e 24 anos no país está na universidade.

Avanço
O desempenho semelhante entre cotistas e não-cotistas também foi verificado na Unifesp, a outra universidade federal de São Paulo que adotou a reserva de vagas, em 2005, quando a diferença entre as notas mínimas dos dois grupos ficou em 10%.
A UFABC espera agora que o rendimento dos cotistas durante a graduação seja até superior ao dos demais alunos.
A tese para sustentar isso é que, se com condições muito inferiores de preparação esses alunos da rede pública conseguiram um desempenho parecido com os da escola privada no vestibular, em condições iguais (na graduação), eles aproveitarão melhor o curso.
A UFABC exemplifica tal raciocínio com o verificado na Unicamp, que beneficiou os alunos da rede pública com um bônus. Na universidade de Campinas, esses vestibulandos tiveram notas médias maiores do que as dos demais em 29 dos 55 cursos já no primeiro semestre da graduação.
A Unicamp, porém, reitera que o resultado ocorre devido ao seu tipo de seleção no vestibular e ao perfil de aluno que presta o exame. Ou seja, o desempenho dos alunos da rede pública pode ser diferente em outras universidades.

Boa recepção
No primeiro dia de aula na UFABC, o cotista André Tavares de Oliveira, 20, afirmou que ouviu um grupo de alunos da universidade criticando a reserva de vagas. "Mas nem liguei. Estou sendo muito bem recebido, não há distinção", afirmou.
"Sou cotista, mas não concordo com nenhum tipo de discriminação. E cotas é uma discriminação. Precisamos é proteger na raiz, melhorando a educação básica", disse o aluno José Niudo Freitas, 51.


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