São Paulo, quarta-feira, 12 de setembro de 2007

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Governo inaugura no dia 21 estatal que fará 100 milhões de camisinhas a cada ano

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Passada a série de privatizações dos anos 90, o país tem agora uma nova empresa estatal: a fábrica de camisinhas de Xapuri, Acre, cidade onde o líder seringueiro Chico Mendes foi morto em 1988.
O empreendimento, uma parceria entre o governo federal e o governo do Estado do Acre, deverá ser inaugurado no próximo dia 21. As primeiras camisinhas já passam por testes de qualidade.
A fábrica será a primeira no Brasil a usar látex nativo. Fará 100 milhões de preservativos por ano, que serão vendidos a cerca de R$ 0,70 cada. Em 2005, o governo comprou 1 bilhão de preservativos.
Segundo Daisy Silva, da Funtac (Fundação de Tecnologia do Estado do Acre), cerca de 700 seringueiros já coletam o látex para a produção das camisinhas. A produção parou em agosto por falta de pagamento, mas, segundo ela, o problema foi resolvido.
Os religiosos têm ressalvas quanto a nova empreitada da região. "Preferia que houvesse outro tipo de indústria", diz dom Moacyr Grechi, arcebispo de Porto Velho (RO) e coordenador da regional noroeste da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Ele não se mostra muito à vontade para falar. "Se me perguntasse coisas mais ligadas ao Pai Nosso... Me pegou de surpresa", diz o arcebispo.
O xapuriense Adalcimar Ferreira, 22, é católico, mas entrou no projeto. É gerente de recolhimento: pega o material coletado pelos extrativistas e lhes dá o pagamento.
"O importante, para os seringueiro, é o dinheiro que ele ganha", diz. Como o governo do Acre subsidia parte do látex comprado, o preço por quilo que, disse ele, era perto de R$ 2 passou para R$ 4,10.
A idéia de uma fábrica do tipo surgiu durante o governo FHC, em 1998, diz o diretor para o Cone Sul do Unaids (braço da ONU para a Aids), Pedro Chequer, ex-diretor do Programa Nacional de DST/ Aids do Ministério da Saúde.
O Brasil, segundo ele, compra um quarto da produção mundial de camisinhas, mas enfrenta o risco de desabastecimento. Ele estima que, se toda a população entre 15 e 49 anos usasse camisinha em metade das relações sexuais (com freqüência de uma vez por semana), faltariam cerca de 30 bilhões de unidades.


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