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Governo inaugura no dia 21 estatal que fará 100 milhões de camisinhas a cada ano
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Passada a série de privatizações dos anos 90, o país tem
agora uma nova empresa estatal: a fábrica de camisinhas de
Xapuri, Acre, cidade onde o líder seringueiro Chico Mendes
foi morto em 1988.
O empreendimento, uma
parceria entre o governo federal e o governo do Estado do
Acre, deverá ser inaugurado
no próximo dia 21. As primeiras camisinhas já passam por
testes de qualidade.
A fábrica será a primeira no
Brasil a usar látex nativo. Fará
100 milhões de preservativos
por ano, que serão vendidos a
cerca de R$ 0,70 cada. Em
2005, o governo comprou 1 bilhão de preservativos.
Segundo Daisy Silva, da
Funtac (Fundação de Tecnologia do Estado do Acre), cerca
de 700 seringueiros já coletam
o látex para a produção das camisinhas. A produção parou
em agosto por falta de pagamento, mas, segundo ela, o
problema foi resolvido.
Os religiosos têm ressalvas
quanto a nova empreitada da
região. "Preferia que houvesse
outro tipo de indústria", diz
dom Moacyr Grechi, arcebispo de Porto Velho (RO) e coordenador da regional noroeste
da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).
Ele não se mostra muito à
vontade para falar. "Se me perguntasse coisas mais ligadas
ao Pai Nosso... Me pegou de
surpresa", diz o arcebispo.
O xapuriense Adalcimar
Ferreira, 22, é católico, mas
entrou no projeto. É gerente
de recolhimento: pega o material coletado pelos extrativistas e lhes dá o pagamento.
"O importante, para os seringueiro, é o dinheiro que ele
ganha", diz. Como o governo
do Acre subsidia parte do látex
comprado, o preço por quilo
que, disse ele, era perto de R$
2 passou para R$ 4,10.
A idéia de uma fábrica do tipo surgiu durante o governo
FHC, em 1998, diz o diretor
para o Cone Sul do Unaids
(braço da ONU para a Aids),
Pedro Chequer, ex-diretor do
Programa Nacional de DST/
Aids do Ministério da Saúde.
O Brasil, segundo ele, compra um quarto da produção
mundial de camisinhas, mas
enfrenta o risco de desabastecimento. Ele estima que, se toda a população entre 15 e 49
anos usasse camisinha em metade das relações sexuais (com
freqüência de uma vez por semana), faltariam cerca de 30
bilhões de unidades.
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