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Anhanduí acolhe Bruninho para o recomeço de sua vida
Bebê de Eliza Samudio está há dois meses com a avó no interior do país
ELIANE TRINDADE
ENVIADA ESPECIAL A ANHANDUÍ
Há dois meses, Bruno Samudio vive em Anhanduí,
distrito a 70 km de Campo
Grande (MS), aos cuidados
da avó materna, Sônia Fátima Silva de Moura, que tem
sua guarda provisória.
"Aqui virou a terra do Bruninho", afirma Wennya Souza, dona de uma das 50 barracas instaladas ao longo da
BR-163, que corta a localidade. "Os motoristas param para comprar pimenta, artesanato ou doce e sempre perguntam pelo filho da Eliza."
A notoriedade parece não
atrapalhar a rotina do bebê
que foi pivô de um crime que
o deixou órfão e levou seu suposto pai, o ex-goleiro do Flamengo Bruno Fernandes, para detrás das grades, acusado pelo desaparecimento e
pela morte de sua mãe.
Na sexta passada, o filho
de Eliza completou 7 meses.
No dia anterior, havia tomado a vacina contra hepatite.
No posto, foi medido e pesado -está com 8,8 kg e 74 cm.
O garoto rechonchudo e
sorridente dá sinais de que
está superando os traumas
de seu conturbado nascimento. "Ao chegar, ele não
dormia bem e ficava apavorado cada vez que se levava
um pano ao rosto para limpar
o narizinho", afirma a avó.
Sônia enumera as agruras
do neto nesses primeiros cinco meses de vida: "O Bruninho foi afastado repentinamente da mãe, desmamado e
andou com gente e por lugares que é melhor nem lembrar. Não se sabe como ele foi
afetado por tudo isso."
TERRA BATIDA
A Folha encontrou avó e
neto depois de falar com dois
moradores parados aleatoriamente na rua asfaltada
que margeia a rodovia que
cruza o distrito. O habitante
mais famoso de Anhanduí,
cuja população é de 3.400
moradores, vive em uma casa bem simples, mas confortável, ao lado da escola.
Trata-se de uma tranquila
rua de terra batida, com moradias esparsas e separadas
por amplos quintais, não
muito distante do vaivém da
BR por onde é escoada a riqueza do Estado.
Bruninho virou atração
nos cultos dominicais da
Congregação Cristã do Brasil,
que a avó evangélica costuma frequentar. Tem fixação
pela tuba e se diverte com os
hinos, conta uma orgulhosa
Sônia. Ela não conseguiu
converter a filha.
Eliza viveu com a mãe dos
14 aos 15 anos. Não se adaptou aos rigores do lar evangélico. "Ela ficou um ano em
Campo Grande, mas gostava
de ir para festa, baile, essas
coisas", lembra a mãe. "Comigo, ela não podia sair sozinha. Na casa do pai, saía e
voltava a hora que queria."
Sônia quer criar o neto no
modelo de educação que
aplica ao filho menor, Pedro,
12, fruto do seu segundo casamento. O meio irmão de
Eliza dá sinais de ser muito ligado à mãe, vai para a escola
a pé, frequenta os cultos e sonha em ser médico.
Tio e sobrinho brincam na
cama de casal, que fica ao lado do berço encostado na parede em que uma plaquinha
anuncia: "Aqui dorme um
príncipe".
FUTEBOL
Bruninho é louco por bola.
"Se depender de mim não vai
ser goleiro", brinca a avó,
que não vê semelhanças entre o neto e o suposto pai.
Mostra fotos de Eliza e Pedro
bebê para puxar a sardinha
para o seu DNA. "Mas é mais
moreninho", concede.
O filho de Eliza está começando a engatinhar. Coça a
gengiva, alertando que os
primeiros dentinhos vão despontar logo, logo. "Vem pra
mamãe, vem?", diz Sônia para o neto que brinca no cercadinho no meio da sala.
A avó está reunindo fotos
de Eliza para montar um álbum para mostrar a Bruninho no futuro. "Quando ele
tiver uns seis anos, eu vou falar a verdade. Ele vai me chamar de mãe, mas tem que saber que eu sou a avó e que foi
muito amado pela mãe."
O restante da biografia vai
esperar mais. "Sobre o crime
e todo o resto, a gente vai falando conforme o entendimento dele."
Sônia diz que, caso ganhe
a guarda do bebê, não irá pedir exame de paternidade,
nem pensão. "Tenho condições de criá-lo."
Ela arrendou a barraca que
tem na BR. Afirma que hoje
se dedica ao neto e ao filho 24
horas por dia. "Quero que
Bruninho cresça em um lar
onde haja amor e compreensão. Espero que ele seja um
homem de bem, com princípios e temente a Deus."
O atual marido de Sônia é
tapeçeiro. A família tem um
sítio, onde planta pimenta. A
diversão é ir para a chácara a
35 km do município. Lá, as
galinhas d'angola fazem a
alegria de Bruninho.
Cenas de uma vida pacata
em um Brasil distante que
Eliza deixou para trás em
busca do sonho de ser modelo famosa. Glamour que não
encontrou em Anhanduí
nem em São Paulo, onde Bruninho nasceu.
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