|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
NEGÓCIO
A cada ano são realizadas 3,3 milhões de doações no Brasil, apenas um quarto das feitas nos Estados Unidos
Mercado do sangue movimenta R$ 1 bi
AURELIANO BIANCARELLI
RENATO KRAUSZ
da Reportagem Local
O mercado do sangue no Brasil
movimenta por ano cerca de R$ 1
bilhão. O valor equivale a um sétimo do orçamento da Prefeitura de
São Paulo, o terceiro maior do país
depois da União e do Estado.
As cifras desse negócio -somadas à dança dos comandos na Saúde provocada pela troca de ministro- explicariam o surgimento
dos dossiês que acabaram gerando
a atual crise no sangue. Só a importação de hemoderivados significa 14% do bolo, ou R$ 140 milhões anuais. Apenas o teste do
sangue custa R$ 223 milhões
-preços do SUS-, envolvendo
30 milhões de kits sorológicos por
ano.
A dimensão e os riscos desse
mercado exigem a presença do Estado. Sem controle, corre-se o risco de mercadores do sangue fazerem economia reduzindo o número de testes necessários.
Surpreendido pelas acusações e
sem muito o que dizer, o Ministério da Saúde optou por demitir o
coordenador de Sangue e Hemoderivados. Até agora, não conseguiu tranquilizar as pessoas quanto à segurança de uma transfusão.
A questão afeta a saúde pública
como um todo. Por ano, são 8,25
milhões de pessoas que recebem
sangue fracionado em hemácias,
plasmas, plaquetas ou crio. Esse
total de hemocomponentes é produzido a partir das cerca de 3,3 milhões de doações feitas por ano no
país, pois cada bolsa é fracionada
em outras 2,5, em média.
Do ponto de vista do mercado,
trata-se de um segmento que ainda
tem muito para crescer. Nos EUA,
por exemplo, são feitas 12 milhões
de doações por ano, quatro vezes
mais que no Brasil. Esse mercado
potencial do sangue explicaria o
interesse cada vez maior de empresas no setor.
Do ponto de vista da saúde pública, significa que no país ainda
"há gente morrendo por falta de
sangue", como diz Dante Mário
Langui Júnior, da Associação Paulista de Medicina (APM).
A falta de uma cultura de doação,
além de aumentar a mortalidade
nos hospitais, faz crescer o risco do
sangue fornecido pelo brasileiro.
Na Europa e nos EUA, 85% dos
doadores são de repetição. Doam
sangue a cada seis meses e por isso
têm a saúde monitorada. No Brasil, só 15% fazem isso.
A cifra de R$ 1 bilhão movimentada pelo mercado do sangue foi
alcançada com ajuda de especialistas do setor. Considerou-se as cerca de 2,2 milhões de doações faturadas pelo SUS, que correspondem a 5,5 milhões de transfusões
-R$ 53,84 cada. Somou-se a isso
os cerca de 1,1 milhão de bolsas recolhidas pelo sistema privado,
com 2,75 milhões de transfusões
cobradas a um preço médio de R$
196.
Outros R$ 140 milhões são gastos
com hemoderivados e cerca de R$
60 milhões são consumidos em
treinamentos e deslocamentos de
técnicos.
O mercado do sangue parece
ainda maior quando se recorda
que os gastos públicos com saúde
ficam em torno de R$ 20 bilhões. E
parece gigantesco quando se considera que, diferentemente do que
ocorre nos EUA, a venda do sangue é proibida no Brasil.
Ao "faturar" uma bolsa de sangue, o SUS e os bancos privados
estariam cobrando apenas os custos da coleta, do processamento e
da triagem sorológica. Por lei, toda
bolsa de sangue deve passar por
nove testes diferentes, que descartariam sete doenças transmissíveis
pelo sangue.
Os testes são para o vírus da
Aids, hepatite C, hepatite B (dois
testes), HTLV1 e 2, doença de Chagas (dois testes), sífilis e a dosagem
da enzima ALT.
Em alguns hemocentros, como o
da Santa Casa de São Paulo e o da
Fundação Pró-Sangue, chegam a
ser feitos até 14 testes.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|