São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Próximo Texto | Índice

"Barracos" em condomínios acabam na Justiça

Discussões por causa de cachorros, som alto ou uso de maconha terminam em agressões físicas e disputas judiciais

Advogada conta ter sido agredida por ter quatro cães; músico diz que vizinhos não entendem que há pessoas com horários diferentes

MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia chega ao condomínio Campos Elíseos, na região central de São Paulo, com a missão de conter atos de violência. Encontra uma cena de guerra: o portão está quebrado, e os veículos na garagem têm seus retrovisores destruídos.
Uma rápida investigação foi suficiente para constatar que a causa da devastação não fora um arrastão, mas outro tipo de ocorrência que mobiliza policiais todas as semanas na capital: briga entre os moradores.
Os motivos dos barracos nos condomínios são os mais variados: barulho causado por salto alto e instrumentos musicais, disputas por vagas na garagem, presença de animais etc.
Em alguns casos, os conflitos só são resolvidos pela Justiça. A reportagem encontrou oito casos em apenas uma tarde de visita a três juizados especiais cíveis (pequenas causas).
Até mesmo excesso de peso no elevador gera confusão entre moradores, como ocorreu no condomínio Campos Elíseos. A moradora Lúcia (a reportagem usará nomes fictícios) contou à polícia que queixou-se à vizinha Roberta de sua "falta de bom senso". Ela havia entrado com amigos em um elevador já cheio, que travou. Ambas relataram à polícia agressões recebidas, como tapas e puxões de cabelo.
As câmeras de segurança instaladas no prédio mostraram, de acordo com a Habitacional Administradora, que o grupo de Roberta perseguiu os vizinhos pela garagem, causando danos. Roberta foi multada e ingressou sem sucesso com ação por danos morais em juizado especial no Pacaembu.
Os barracos ocorrem tanto em prédios simples como nos condomínios luxuosos.
A advogada Isabel, moradora de um prédio da rua São Vicente de Paula, em Higienópolis, bairro nobre da região central, conta ter sido agredida pelo fato de ter quatro cachorros.
"Ela [sua vizinha] afirmou que eles "eram um saco" e que iria matá-los. Também me insultou na entrada do prédio. Já do lado de fora, disse que era hora de acertar contas e me deu um tapa no rosto", afirma.
A denúncia feita por Isabel rendeu decisão que prevê que ela receba R$ 5.000 da algoz. Ela, contudo, já fez as pazes com a vizinha e retirou a ação.

Música alta
Até quem irrita os outros tem motivo para reclamações. Em um prédio na avenida Nove de Julho com a alameda Franca, nos Jardins, zona oeste da cidade, o músico Kefren Buso (que aceitou divulgar o nome) confessa que seus ensaios são a causa da discórdia.
Como ele trabalha durante o dia e tem apenas a noite para estudar violão e bateria, a confusão é garantida. "É eu começar a tocar e o pessoal reclamar para o porteiro. Só param quando desligo", diz.
Buso, por outro lado, queixa-se de que as pessoas não entendem que cada um tem horários diferentes. "Os mesmos que reclamam são os que põem o pedreiro às 8h e me acordam. Às vezes chego tarde de shows que faço e não posso dormir."
Em outras situações, a rusga vira guerra declarada. O Fórum Criminal, em São Paulo, abriga um caso em que uma moradora da rua Herculano de Freitas -Consolação (centro)- queixava-se de um vizinho que, diz no processo, usava maconha.
Após bater à porta dele para reclamar, recebeu a visita da mãe do rapaz, que trouxe junto uma ameaça: "Vou chegar às vias de fato", disse.
A mãe foi condenada a comparecer diante de um juiz durante dois anos. No processo, ela disse que seu filho, na verdade, era budista e acendia o incenso para meditar.
Sem fazer as pazes, como a advogada Isabel de Higienópolis, resta-lhes agora tentar viver em comunidade. Ou seja, encontrar-se no elevador e nas áreas comuns do prédio sem permitir que suas rixas estraguem a paz dos outros.


Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.