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"Barracos" em condomínios acabam na Justiça
Discussões por causa de cachorros, som alto ou uso de maconha terminam em agressões físicas e disputas judiciais
Advogada conta ter sido agredida por ter quatro cães; músico diz que vizinhos não entendem que há pessoas com horários diferentes
MÁRCIO PINHO
DA REPORTAGEM LOCAL
A polícia chega ao condomínio Campos Elíseos, na região
central de São Paulo, com a
missão de conter atos de violência. Encontra uma cena de
guerra: o portão está quebrado,
e os veículos na garagem têm
seus retrovisores destruídos.
Uma rápida investigação foi
suficiente para constatar que a
causa da devastação não fora
um arrastão, mas outro tipo de
ocorrência que mobiliza policiais todas as semanas na capital: briga entre os moradores.
Os motivos dos barracos nos
condomínios são os mais variados: barulho causado por salto
alto e instrumentos musicais,
disputas por vagas na garagem,
presença de animais etc.
Em alguns casos, os conflitos
só são resolvidos pela Justiça. A
reportagem encontrou oito casos em apenas uma tarde de visita a três juizados especiais cíveis (pequenas causas).
Até mesmo excesso de peso
no elevador gera confusão entre moradores, como ocorreu
no condomínio Campos Elíseos. A moradora Lúcia (a reportagem usará nomes fictícios) contou à polícia que queixou-se à vizinha Roberta de sua
"falta de bom senso". Ela havia
entrado com amigos em um
elevador já cheio, que travou.
Ambas relataram à polícia
agressões recebidas, como tapas e puxões de cabelo.
As câmeras de segurança instaladas no prédio mostraram,
de acordo com a Habitacional
Administradora, que o grupo
de Roberta perseguiu os vizinhos pela garagem, causando
danos. Roberta foi multada e
ingressou sem sucesso com
ação por danos morais em juizado especial no Pacaembu.
Os barracos ocorrem tanto
em prédios simples como nos
condomínios luxuosos.
A advogada Isabel, moradora
de um prédio da rua São Vicente de Paula, em Higienópolis,
bairro nobre da região central,
conta ter sido agredida pelo fato de ter quatro cachorros.
"Ela [sua vizinha] afirmou
que eles "eram um saco" e que
iria matá-los. Também me insultou na entrada do prédio. Já
do lado de fora, disse que era
hora de acertar contas e me deu
um tapa no rosto", afirma.
A denúncia feita por Isabel
rendeu decisão que prevê que
ela receba R$ 5.000 da algoz.
Ela, contudo, já fez as pazes
com a vizinha e retirou a ação.
Música alta
Até quem irrita os outros tem
motivo para reclamações. Em
um prédio na avenida Nove de
Julho com a alameda Franca,
nos Jardins, zona oeste da cidade, o músico Kefren Buso (que
aceitou divulgar o nome) confessa que seus ensaios são a
causa da discórdia.
Como ele trabalha durante o
dia e tem apenas a noite para
estudar violão e bateria, a confusão é garantida. "É eu começar a tocar e o pessoal reclamar
para o porteiro. Só param
quando desligo", diz.
Buso, por outro lado, queixa-se de que as pessoas não entendem que cada um tem horários
diferentes. "Os mesmos que reclamam são os que põem o pedreiro às 8h e me acordam. Às
vezes chego tarde de shows que
faço e não posso dormir."
Em outras situações, a rusga
vira guerra declarada. O Fórum
Criminal, em São Paulo, abriga
um caso em que uma moradora
da rua Herculano de Freitas
-Consolação (centro)- queixava-se de um vizinho que, diz
no processo, usava maconha.
Após bater à porta dele para
reclamar, recebeu a visita da
mãe do rapaz, que trouxe junto
uma ameaça: "Vou chegar às
vias de fato", disse.
A mãe foi condenada a comparecer diante de um juiz durante dois anos. No processo,
ela disse que seu filho, na verdade, era budista e acendia o incenso para meditar.
Sem fazer as pazes, como a
advogada Isabel de Higienópolis, resta-lhes agora tentar viver
em comunidade. Ou seja, encontrar-se no elevador e nas
áreas comuns do prédio sem
permitir que suas rixas estraguem a paz dos outros.
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