São Paulo, quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

MINHA HISTÓRIA MATHEUS HENRIQUE MOURA, 14

Troca de papéis

(...) Antes, enquanto eu estava em tratamento, Gianecchini me abraçou, agora tenho que dar uma força

RESUMO Em setembro, Matheus Henrique Moura, 14, de São José dos Campos (97 km de SP), escreveu uma carta para o ator Reynaldo Gianecchini, 38, que luta contra um câncer. Eles se conheceram em 2003, na gravação de uma campanha do Gacc (Grupo de Assistência à Criança com Câncer). Depois disso, perderam contato. Agora, Matheus está curado e o ator em tratamento.

(...) Depoimento a
FELIPE LUCHETE
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DOS CAMPOS (SP)

Conheci o [Reynaldo] Gianecchini quando tinha seis anos. Gravamos uma campanha do Gacc [Grupo de Assistência à Criança com Câncer] num estúdio em São Paulo.
Não me lembro muito porque eu era pequeno, mas me contaram que fui escolhido por ser um dos pacientes mais extrovertidos. Também disseram que, quando o vi, perguntei se ele era mesmo o Toni [personagem que o ator Gianecchini havia interpretado meses antes na novela "Esperança", da Rede Globo].
Eu fazia tratamento há uns cinco meses, quando o Gacc nem tinha um hospital próprio ainda. Eu era atendido no hospital municipal. Tive um tipo grave de leucemia. Foram seis meses de quimioterapia, e depois de um ano e meio a doença voltou. Fiz de novo a quimioterapia e fui com minha mãe para São Paulo.
Passamos uns oito meses lá, sem voltar para São José, longe do meu pai e dos meus irmãos. Minha mãe até deixou o emprego. Eu ficava no quarto sozinho com ela, sem poder ir à escola. Às vezes aparecia uma professora. Futebol, só pela TV. Durante todo o tratamento contra o câncer minha mãe ficava preocupada e não me deixava jogar, porque uma vez arranhei o dedo e isso levou a uma infecção grave. Depois do transplante, em 2005, foram mais cinco anos de exames e visitas ao hospital até saber que eu estava curado. Hoje só preciso ir uma vez por ano, é tranquilo, nem sinto mais dor.
Vi que o Gianecchini estava doente pela TV. O pessoal do Gacc sugeriu que eu escrevesse uma carta para ele. Na escola não gosto muito de escrever, mas fiz a carta dizendo que venci o câncer com muita força e que tenho certeza de que ele também vai conseguir vencer.
Minha mãe achou que ele nem leria a carta de alguém que mora tão longe, mas ele decidiu visitar o Gacc depois do que escrevi. Ele veio há duas semanas, muita gente parou para ver. Minha mãe ficou gritando e acenando para ele. A primeira vez que o reencontrei foi no corredor da UTI. Ele começou visitando outros jovens internados e perguntou para uma funcionária se eu era o Matheus. Ele falou que sou um campeão!
A gente se cumprimentou, ele perguntou se eu estava bem, eu respondi que sim e perguntei como ele estava. Ele também disse que estava bem. Depois, ele fez outras visitas e entrei na fila para conseguir um autógrafo. Falei que ele vai conseguir sair dessa, vai se curar da doença, do mesmo jeito que eu me curei. Sinto que agora os papéis foram trocados. Antes, enquanto eu estava em tratamento, ele me abraçou, agora tenho que dar uma força.

JOGADOR
Às vezes via o Gianecchini em novelas. Mas costumo assistir mesmo é futebol na TV. Sou corintiano, sou fã do Ronaldo, e quero muito ser jogador de futebol.
Agora que estou curado, a preocupação da minha mãe é quando eu, meu pai e meus irmãos ficamos gritando ao assistir jogo. Para ela é difícil aguentar.
Coloquei brinco no mês passado. Ela não gostou, mas meus irmãos apoiaram. Apareci na TV depois da visita do Gianecchini. Fiquei famoso, mas minhas amigas da escola queriam era saber dele, ficaram perguntando se ele é mesmo alto e bonito.
Não respondi nada. Eu lá vou achar homem bonito?


Texto Anterior: Meira tem perfil problemático desde a infância, diz laudo
Próximo Texto: Violência: Aluna da USP baleada no rosto recebe alta
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.