São Paulo, Sexta-feira, 12 de Novembro de 1999
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SAÚDE

Criocirurgia destrói células cancerígenas por congelamento; método reduz internação e recuperação

Câncer de próstata ganha nova cirurgia

PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local

Chegou ao Brasil um método cirúrgico menos invasivo que a cirurgia tradicional para pacientes com idade avançada que têm câncer na próstata. Trata-se da criocirurgia, que destrói os tecidos da glândula por meio de um processo de congelamento.
O método começou a ser realizado na semana passada pelo Hospital das Clínicas de São Paulo, que criou o primeiro Centro de Crioterapia da América do Sul. Cinco pacientes foram submetidos à cirurgia com sucesso.
Mas os médicos alertam: a crioterapia não deve ser considerada substituta da cirurgia tradicional.
Apesar de já ter sido aprovada pela FDA (agência reguladora norte-americana) e de já ter sido usada em milhares de pacientes nos Estados Unidos nos últimos sete anos, ainda não se conhecem seus efeitos a longo prazo.
No HC, a cirurgia será feita inicialmente em pacientes que sofrem de hipertensão, diabetes, problemas cardíacos, pacientes com idade avançada e outros que não têm condições clínicas de se submeter à cirurgia convencional, que é mais invasiva. Ela será oferecida a pacientes do SUS, a conveniados e a particulares.
Uma das vantagens do método é o menor tempo de internação -o paciente vai para casa após 24 horas, contra três ou quatro dias na cirurgia tradicional. O pós-operatório é indolor, e o tempo de recuperação é de até uma semana. O paciente mantém uma sonda para drenagem da urina durante 30 dias.
Por outro lado, mais de 80% dos pacientes tornam-se impotentes após a criocirurgia, contra 50% após a cirurgia tradicional.
De acordo com o urologista Sami Arap, professor titular da Faculdade de Medicina da USP, pesquisas apontam que entre 75% e 80% dos pacientes norte-americanos que fizeram a criocirurgia tiveram biopsia negativa após a cirurgia. "O método é eficaz, mas deve ser feito com moderação até que tenhamos estudado seus efeitos a longo prazo", diz.
A crioterapia já foi usada no Brasil há cerca de dez anos, mas o procedimento era mais arriscado porque não havia mecanismos de controle como os usados hoje.
São introduzidas na próstata seis agulhas com argônio em forma líquida. A próstata inteira é congelada, atingindo, no mínimo, 40C negativos. Os tecidos morrem, e o que restou da glândula é absorvido pelo organismo.
Todo o procedimento, que dura cerca de duas horas e meia, é monitorado por imagens de um ultra-som introduzido no ânus. São usados sensores para evitar o congelamento do reto e da bexiga.
Para o urologista Miguel Srougi, professor titular de urologia da Universidade Federal de São Paulo, o método ainda deve ser encarado como experimental. Segundo ele, pesquisas norte-americanas recentes mostraram que 35% dos pacientes que se submeteram à crioterapia estavam satisfeitos com os resultados, contra 70% dos que fizeram cirurgia convencional. "O alto índice de impotência e de biopsia positiva após cirurgia foram os principais fatores apontados pelos que se disseram insatisfeitos com o método."


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