São Paulo, terça-feira, 12 de novembro de 2002

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CRIME ORGANIZADO

Conflito entre as facções CRBC e Seita Satânica durou 12 horas; reféns foram libertados sem ferimentos

SP tem rebelião mais violenta desde 99

DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"

A rebelião mais violenta desde 99 em São Paulo terminou ontem com dez presos mortos, após uma guerra de 12 horas entre duas facções rivais: o CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade) e a Seita Satânica.
Três das vítimas tiveram as cabeças cortadas no presídio Mário de Moura Albuquerque, a P1 de Franco da Rocha (Grande SP). Houve pelo menos 35 feridos.
O conflito começou anteontem, às 18h30, após a saída das visitas, quando os presos retornavam às celas. Na ala onde ficam integrantes do CRBC, os detentos, armados com facas e pelo menos duas pistolas, renderam três agentes.
Com os reféns, segundo a direção do presídio, eles abriram as portas que dão acesso a outro setor e atacaram integrantes da Seita Satânica. Depois, foram ao pavilhão 3, dos presos "neutros", que não pertencem a facções.
Os encarcerados atacados pelo CRBC se defenderam com barricadas de colchões queimados.
Todos os corpos foram mutilados. Integrantes das duas organizações criminosas -CRBC e Seita Satânica- reivindicam a autoria dos cortes de cabeças.
"Todos os que estiverem sem cabeças foram mortos por nós", disse um preso do CRBC, ouvido pela reportagem por meio de um celular. "Tem uns presos com cabeça cortada, mas isso faz parte da rotina", afirmou outro, da Seita.
Do lado de fora, parentes usavam telefones para informar rebelados sobre os passos da polícia do lado de fora. Eles temiam uma invasão da Polícia Militar.
Dissidência do PCC (Primeiro Comando da Capital), o CRBC existe desde 99. É considerada a segunda maior facção no Estado.
A Penitenciária 1 de Franco da Rocha tinha anteontem 1.010 presos, 18,5% acima da sua capacidade (158 detentos a mais). Cerca de 300 participaram da rebelião.
Mas em nenhum momento, segundo a PM, os presos tentaram fugir ou fizeram reivindicações. "Foi uma guerra interna", disse o comandante do Batalhão de Choque, Tomaz Cangerana.
O primeiro refém só foi liberado pouco depois da meia-noite. Em troca, dois presos feridos foram socorridos e levados para um hospital. Os dois outros agentes saíram no início da manhã, após a rendição dos rebelados. Nenhum refém se feriu, segundo a PM.
O clima de tensão entre os grupos rivais era forte no presídio havia pelo menos duas semanas, segundo familiares dos presos. Nesse período, a direção da penitenciária teria flagrado membros do CRBC fabricando facas na oficina da unidade, onde consertam e produzem carteiras escolares.
"O governo provocou a briga porque errou ao colocar duas facções inimigas na mesma cadeia", disse um parente de preso.
A Secretaria da Administração Penitenciária, por meio de sua assessoria, informou que os presos são mantidos separados de acordo com suas respectivas facções, como ocorre em outras unidades.
A tropa de choque da PM ocupou o presídio de Franco da Rocha ao final da rebelião. Cinco presos apontados como líderes da revolta foram transferidos para o presídio de Avaré, onde irão cumprir pena no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), o mesmo em que estão os líderes do PCC.
Além das duas pistolas 6.35, a revista encontrou dois celulares e 330 facas, segundo a PM.
A Corregedoria Administrativa, ligada à secretaria, abriu sindicância para investigar o motim e como as armas entraram na prisão.
A secretaria irá aplicar a resolução nš 11/2001: os colchões queimados não serão repostos, as visitas serão suspensas e, se a cozinha estiver destruída, eles receberão alimentos frios até o conserto.
Nos últimos três anos, a rebelião de ontem só teve menos mortos que a ocorrida em Pirajuí (400 km de SP), em 1999, quando 13 presos foram queimados vivos.


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