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CRIME ORGANIZADO
Conflito entre as facções CRBC e Seita Satânica durou 12 horas; reféns foram libertados sem ferimentos
SP tem rebelião mais violenta desde 99
DA REPORTAGEM LOCAL
DO "AGORA"
A rebelião mais violenta desde
99 em São Paulo terminou ontem
com dez presos mortos, após uma
guerra de 12 horas entre duas facções rivais: o CRBC (Comando
Revolucionário Brasileiro da Criminalidade) e a Seita Satânica.
Três das vítimas tiveram as cabeças cortadas no presídio Mário
de Moura Albuquerque, a P1 de
Franco da Rocha (Grande SP).
Houve pelo menos 35 feridos.
O conflito começou anteontem,
às 18h30, após a saída das visitas,
quando os presos retornavam às
celas. Na ala onde ficam integrantes do CRBC, os detentos, armados com facas e pelo menos duas
pistolas, renderam três agentes.
Com os reféns, segundo a direção do presídio, eles abriram as
portas que dão acesso a outro setor e atacaram integrantes da Seita Satânica. Depois, foram ao pavilhão 3, dos presos "neutros",
que não pertencem a facções.
Os encarcerados atacados pelo
CRBC se defenderam com barricadas de colchões queimados.
Todos os corpos foram mutilados. Integrantes das duas organizações criminosas -CRBC e Seita Satânica- reivindicam a autoria dos cortes de cabeças.
"Todos os que estiverem sem
cabeças foram mortos por nós",
disse um preso do CRBC, ouvido
pela reportagem por meio de um
celular. "Tem uns presos com cabeça cortada, mas isso faz parte da
rotina", afirmou outro, da Seita.
Do lado de fora, parentes usavam telefones para informar rebelados sobre os passos da polícia
do lado de fora. Eles temiam uma
invasão da Polícia Militar.
Dissidência do PCC (Primeiro
Comando da Capital), o CRBC
existe desde 99. É considerada a
segunda maior facção no Estado.
A Penitenciária 1 de Franco da
Rocha tinha anteontem 1.010 presos, 18,5% acima da sua capacidade (158 detentos a mais). Cerca de
300 participaram da rebelião.
Mas em nenhum momento, segundo a PM, os presos tentaram
fugir ou fizeram reivindicações.
"Foi uma guerra interna", disse o
comandante do Batalhão de Choque, Tomaz Cangerana.
O primeiro refém só foi liberado
pouco depois da meia-noite. Em
troca, dois presos feridos foram
socorridos e levados para um hospital. Os dois outros agentes saíram no início da manhã, após a
rendição dos rebelados. Nenhum
refém se feriu, segundo a PM.
O clima de tensão entre os grupos rivais era forte no presídio havia pelo menos duas semanas, segundo familiares dos presos. Nesse período, a direção da penitenciária teria flagrado membros do
CRBC fabricando facas na oficina
da unidade, onde consertam e
produzem carteiras escolares.
"O governo provocou a briga
porque errou ao colocar duas facções inimigas na mesma cadeia",
disse um parente de preso.
A Secretaria da Administração
Penitenciária, por meio de sua assessoria, informou que os presos
são mantidos separados de acordo com suas respectivas facções,
como ocorre em outras unidades.
A tropa de choque da PM ocupou o presídio de Franco da Rocha ao final da rebelião. Cinco
presos apontados como líderes da
revolta foram transferidos para o
presídio de Avaré, onde irão cumprir pena no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), o mesmo
em que estão os líderes do PCC.
Além das duas pistolas 6.35, a
revista encontrou dois celulares e
330 facas, segundo a PM.
A Corregedoria Administrativa,
ligada à secretaria, abriu sindicância para investigar o motim e como as armas entraram na prisão.
A secretaria irá aplicar a resolução nš 11/2001: os colchões queimados não serão repostos, as visitas serão suspensas e, se a cozinha
estiver destruída, eles receberão
alimentos frios até o conserto.
Nos últimos três anos, a rebelião
de ontem só teve menos mortos
que a ocorrida em Pirajuí (400 km
de SP), em 1999, quando 13 presos
foram queimados vivos.
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