São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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ACIDENTE

Durante as explosões, moradores de Guaratinguetá, que fica a 12 km de Lorena, sentiram trepidações nas paredes

Estrondos assustaram até cidade vizinha

DA AGÊNCIA FOLHA

Moradores de Guaratinguetá, distante 12 km de Lorena, cidade onde ocorreram as explosões, também foram afetados pelo acidente. Parentes e amigos de funcionários da Orica fizeram uma corrente para obter informações. Na fábrica de explosivos, os telefones de contato estavam mudos.
Durante as três explosões, os vizinhos de Guaratinguetá (176 km a nordeste de São Paulo) perceberam trepidações nas paredes das casas e de empresas da cidade. Os estrondos foram comparados a detonações de bombas.
"Foi muito alto [o som], como se fosse uma bomba. Foi tão alto o barulho que pensamos que era aqui. Abrimos a saída de emergência e vimos que não havia fogo ou labareda", disse Carmen Erika Arrezzi, 27, analista de sistemas.
Ela afirmou que foi possível ouvir três explosões: duas seguidas e a última depois de dez minutos.
"Pela sensação da proximidade da explosão, achamos que seria em alguma indústria local [de Guaratinguetá]. Até procuramos sinal de fumaça em direção de algumas fábricas."
Arrezzi fez contato com a mãe de um amigo que trabalha na Orica. Ela confirmou que o acidente havia sido no setor de explosivos. "Depois até consegui falar com esse meu amigo via celular. Ele me disse que havia ambulâncias, carros de resgate, bombeiros, mas que não sabia mensurar o tamanho do estrago."
A analista também conseguiu falar com a irmã de uma outra funcionária da fábrica, ambas moradoras de Lorena. "Entrei em pânico até conseguir saber notícias da Andréa [engenheira]. Ela [a irmã] me disse que a Andréa estava bem e que no momento da explosão estava no escritório."
No final da tarde, a sensação era de alívio para quem não teve parentes e amigos vítimas das explosões. "Estou aliviada por saber que meus amigos estão em segurança. E com a sensação de que eu quero sempre trabalhar em uma fábrica de qualquer coisa, menos de explosivos", tentou brincar Carmen Erika Arrezzi.
A dona-de-casa Fátima Aparecida Galvão, 42, mora desde que nasceu no bairro Ponte Nova, em Lorena, em uma casa vizinha a Orica do Brasil. A explosão de ontem foi a terceira na empresa testemunhada por ela.
Galvão conta que lembra com clareza apenas do penúltimo acidente, ocorrido em 1989, que não teria deixado vítimas.
A atual assessoria de imprensa da Orica não soube dar informações sobre o caso, já que a empresa foi negociada em 1998.
"Eu estava conversando com minha filha na cozinha quando aconteceram as três explosões, uma em seguida da outra. O barulho foi ensurdecedor e tudo em volta tremeu", disse Galvão.
Seu marido, o aposentado Gelson Luiz Galvão, 53, disse que realizava um conserto em uma das janelas da casa no momento do acidente. "Depois das explosões, subiu uma fumaça preta muito forte. Os bombeiros chegaram aqui cerca de 20 minutos depois", afirmou Galvão.
A dona-de-casa Elza Rozendo Vieira, 40, também moradora do bairro, correu para a portaria da Orica assim que as explosões aconteceram. Estava em busca de informações sobre seu filho, Bruno Ricardo, 22, de sua irmã e de um sobrinho, todos funcionários da empresa. Nenhum deles saiu ferido. "Foi um desespero muito grande. Demorou mais de uma hora até que tive notícia deles", afirmou Vieira.
A agonia do lado de fora da fábrica não era diferente da sentida por quem estava trabalhando, segundo relatou uma funcionária da Orica, de 22 anos, que preferiu manter o anonimato. Há um ano e dez meses no local, ela disse que trabalha com outras sete pessoas em um galpão que fica 1,5 km distante do ponto da explosão. "Manuseava um explosivo na hora em que a primeira explosão aconteceu. Saímos todos para a rua em frente ao galpão, sem saber o que estava acontecendo."
"Todos os funcionários saíram dos galpões e seguiram para a portaria da fábrica, na direção oposta ao ponto de encontro. A gente queria era sair dali", afirmou a funcionária. De acordo com ela, apesar da apreensão, não houve correria.
(SILVIA DE MOURA E FÁBIO AMATO)


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