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ACIDENTE
Durante as explosões, moradores de Guaratinguetá, que fica a 12 km de Lorena, sentiram trepidações nas paredes
Estrondos assustaram até cidade vizinha
DA AGÊNCIA FOLHA
Moradores de Guaratinguetá,
distante 12 km de Lorena, cidade
onde ocorreram as explosões,
também foram afetados pelo acidente. Parentes e amigos de funcionários da Orica fizeram uma
corrente para obter informações.
Na fábrica de explosivos, os telefones de contato estavam mudos.
Durante as três explosões, os vizinhos de Guaratinguetá (176 km
a nordeste de São Paulo) perceberam trepidações nas paredes das
casas e de empresas da cidade. Os
estrondos foram comparados a
detonações de bombas.
"Foi muito alto [o som], como
se fosse uma bomba. Foi tão alto o
barulho que pensamos que era
aqui. Abrimos a saída de emergência e vimos que não havia fogo
ou labareda", disse Carmen Erika
Arrezzi, 27, analista de sistemas.
Ela afirmou que foi possível ouvir três explosões: duas seguidas e
a última depois de dez minutos.
"Pela sensação da proximidade
da explosão, achamos que seria
em alguma indústria local [de
Guaratinguetá]. Até procuramos
sinal de fumaça em direção de algumas fábricas."
Arrezzi fez contato com a mãe
de um amigo que trabalha na Orica. Ela confirmou que o acidente
havia sido no setor de explosivos.
"Depois até consegui falar com
esse meu amigo via celular. Ele
me disse que havia ambulâncias,
carros de resgate, bombeiros, mas
que não sabia mensurar o tamanho do estrago."
A analista também conseguiu
falar com a irmã de uma outra
funcionária da fábrica, ambas
moradoras de Lorena. "Entrei em
pânico até conseguir saber notícias da Andréa [engenheira]. Ela
[a irmã] me disse que a Andréa
estava bem e que no momento da
explosão estava no escritório."
No final da tarde, a sensação era
de alívio para quem não teve parentes e amigos vítimas das explosões. "Estou aliviada por saber
que meus amigos estão em segurança. E com a sensação de que eu
quero sempre trabalhar em uma
fábrica de qualquer coisa, menos
de explosivos", tentou brincar
Carmen Erika Arrezzi.
A dona-de-casa Fátima Aparecida Galvão, 42, mora desde que
nasceu no bairro Ponte Nova, em
Lorena, em uma casa vizinha a
Orica do Brasil. A explosão de ontem foi a terceira na empresa testemunhada por ela.
Galvão conta que lembra com
clareza apenas do penúltimo acidente, ocorrido em 1989, que não
teria deixado vítimas.
A atual assessoria de imprensa
da Orica não soube dar informações sobre o caso, já que a empresa foi negociada em 1998.
"Eu estava conversando com
minha filha na cozinha quando
aconteceram as três explosões,
uma em seguida da outra. O barulho foi ensurdecedor e tudo em
volta tremeu", disse Galvão.
Seu marido, o aposentado Gelson Luiz Galvão, 53, disse que realizava um conserto em uma das
janelas da casa no momento do
acidente. "Depois das explosões,
subiu uma fumaça preta muito
forte. Os bombeiros chegaram
aqui cerca de 20 minutos depois",
afirmou Galvão.
A dona-de-casa Elza Rozendo
Vieira, 40, também moradora do
bairro, correu para a portaria da
Orica assim que as explosões
aconteceram. Estava em busca de
informações sobre seu filho, Bruno Ricardo, 22, de sua irmã e de
um sobrinho, todos funcionários
da empresa. Nenhum deles saiu
ferido. "Foi um desespero muito
grande. Demorou mais de uma
hora até que tive notícia deles",
afirmou Vieira.
A agonia do lado de fora da fábrica não era diferente da sentida
por quem estava trabalhando, segundo relatou uma funcionária
da Orica, de 22 anos, que preferiu
manter o anonimato. Há um ano
e dez meses no local, ela disse que
trabalha com outras sete pessoas
em um galpão que fica 1,5 km distante do ponto da explosão. "Manuseava um explosivo na hora em
que a primeira explosão aconteceu. Saímos todos para a rua em
frente ao galpão, sem saber o que
estava acontecendo."
"Todos os funcionários saíram
dos galpões e seguiram para a
portaria da fábrica, na direção
oposta ao ponto de encontro. A
gente queria era sair dali", afirmou a funcionária. De acordo
com ela, apesar da apreensão, não
houve correria.
(SILVIA DE MOURA E FÁBIO AMATO)
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