São Paulo, sexta-feira, 12 de novembro de 2004

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Transição deixa tucano insatisfeito

DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), voltou da Argentina nada satisfeito com o ritmo da transição. Ontem, Serra recusou-se a comentar as queixas de sua equipe sobre dificuldades para obtenção de dados da prefeitura. "Não vou comentar. Tenho que montar minha equipe", esquivou-se. Mas, nas conversas entre tucanos, as expressões usadas para classificar o processo de transmissão de cargo são "encenação" e "teatro".
No quesito cena, os tucanos também encaixam o pedido da prefeita, Marta Suplicy (PT), para que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva adie o prazo para enquadramento dos municípios à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) e abatimento da dívida. Para aliados de Serra, Marta posa de magnânima, mas a situação foi ela quem fomentou.
O deputado Alberto Goldman foi escalado porta-voz do PSDB. Segundo ele, Marta ajudará se pagar, até dia 31 de dezembro, pelos serviços prestados ao governo. Quanto à dívida, chamou de ridícula a proposta de prorrogar por um ano o prazo para abatimento de R$ 7 bilhões. "Ela sabe que uma prefeitura que arrecada R$ 14 bilhões em um ano não pode reservar R$ 7 bilhões para dívida", argumentou.
E, por fim, reproduziu a crítica do tucanato: "Ela fez um gesto teatral. Nada mais que isso". Por isso, os tucanos duvidam que Serra procure Marta para uma reunião nos próximos dias.
Escalado por Marta para a transição, o secretário de Transportes, Jilmar Tatto, reage, chamando de bobagens as críticas do PSDB. Ele alega que a prefeitura vai disponibilizar todos os dados, mas que não podem ser fornecidos imediatamente depois do pedido. "Se eles estivessem com tanta pressa, não estariam viajando", ironiza.
E esse é o clima de transição. Os petistas acusam os tucanos de buscar uma blindagem, uma desculpa para um eventual fracasso da administração Serra.
Os petistas afirmam que os tucanos se queixam da falta de espaço para trabalhar sem nunca ter feito qualquer pedido à prefeitura. O discurso petista é o mesmo na Câmara Municipal.
Na polêmica discussão do Orçamento, os petistas têm dito que não vão defender, por exemplo, margem de remanejamento muito pequena, de 1%, o que engessaria o primeiro ano do PSDB. O Orçamento, argumentam, será o definido por Serra. Assim, planejam debitar a conta de futuros problemas já na gestão tucana.
Hoje, essa briga terá mais um round. Considerando insatisfatório o teor dos relatórios sobre pessoal, a equipe de Serra prepara nova bateria de perguntas, sobre economia, estoque de medicamentos, material escolar, bombas hidráulicas nos túneis e fluxo de pagamento.
A justificativa dos tucanos estaria nos 29 com organogramas da prefeitura. O da CET apresenta, segundo um integrante da equipe de Serra, apenas siglas, como "DECJD", para todos os cargos abaixo da superintendência.
A do Anhembi, contam, só revela o prenome dos seus ocupantes. Exemplo: "coordenadoria de pós-venda -Raquel".
O da Emurb mostraria apenas o organograma, sem titulares nem atribuições.
Na Secretaria de Abastecimento, haveria programas que estão a cargo de outras secretarias, como o Departamento de Divisão Técnica de Silêncio Urbano (Psiu) e Departamento de Inspeção Municipal de Alimentos.
(CATIA SEABRA E PEDRO DIAS LEITE)

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