São Paulo, sábado, 12 de novembro de 2005

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PERIGO NO HOSPITAL

PF acredita que técnico em enfermagem provocava parada respiratória para depois salvar pacientes no Rio

Auxiliar é suspeito de intoxicar crianças

TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Um técnico de enfermagem de 28 anos foi preso ontem pela Polícia Federal sob a suspeita de ter provocado paradas respiratórias em 15 crianças no Rio. Policiais e médicos desconfiam que ele aplicava injeções com sedativos para estimular as paradas e depois "salvar" as crianças.
Em depoimento à Polícia Federal, ele negou a acusação.
Os casos investigados são de pacientes do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira, da UFRJ, na Ilha do Fundão (zona norte do Rio), onde o suspeito trabalhava.
Até agora a polícia investiga a intoxicação de seis crianças, cujos prontuários já foram entregues pela direção do hospital. De acordo com o diretor da unidade, Antônio Ledo, os outros nove prontuários serão entregues ao longo da próxima semana.
Os quatro óbitos que aconteceram neste ano na emergência da unidade também serão investigados. Não há ainda, porém, nada que ligue o suspeito a esses casos.
Ele vai responder sob a acusação de tentativa de homicídio triplamente qualificado e poderá, se condenado, cumprir de 12 a 30 anos de prisão.

Desconfiança
A desconfiança de médicos na atuação do funcionário começou no final do mês passado, quando duas crianças apresentaram "parada respiratória" e precisaram de aparelhos para respirar.
"O que chama a atenção é que, apesar de as crianças que tratamos terem doenças graves, como leucemia e Aids, nessas ocasiões o quadro de parada respiratória não era natural. Além disso, elas voltavam a respirar sem aparelhos muito rapidamente, o que demonstra que possivelmente elas estavam sob efeito de alguma medicação que provocasse a parada respiratória", afirmou o diretor Antônio Ledo.
Alguns médicos da equipe perceberam que os casos aconteciam sempre no mesmo plantão. Desconfiaram do técnico de enfermagem e, no último dia 2, mantiveram uma médica o acompanhando o tempo todo. Quando ela foi embora, duas crianças tiveram parada respiratória em menos de três horas. "É difícil acreditar que alguém possa fazer isso, mas mais difícil é monitorar uma pessoa que tem em sua função aplicar medicamentos", disse Ledo. O diretor afirma que os depoimentos de mães serão fundamentais para ajudar no caso.
Na última terça, foi pedido aos plantonistas que mostrassem suas bolsas. Após hesitar, o funcionário mostrou a sua. Lá foram encontrados psicotrópicos, sedativos, barbitúricos e curare, medicamentos que não tinha autorização para carregar, por não ser médico. Os remédios não foram roubados do hospital, segundo Ledo.

Problemas psicológicos
O diretor disse acreditar que, se comprovada a suspeita, ele sofra de algum problema psicológico. "Parece que ele criava situações médicas para mostrar competência, porque ele sempre detectava o problema antes de ele acontecer. Talvez seja um médico frustrado, alguém que não conseguiu realizar seu sonho", disse.
O técnico em enfermagem foi descrito como um bom funcionário. Trabalhava no instituto desde 2003. Ele também trabalha na UI (Unidade Intermediária) do Hospital Estadual Albert Schweitzer e na pediatria Miguel Couto, municipal. A Secretaria Municipal da Saúde informou que vai abrir sindicância para apurar possíveis crimes. O Estado também abrirá sindicância para "apurar os prejuízos que ele possa ter causado à vida humana".
Ontem de manhã, durante reunião no hospital da UFRJ para informar a equipe do que havia acontecido, alguns médicos chegaram a chorar. "Uns não conseguem acreditar. Outros, começaram a chorar muito porque se lembraram dos casos. Lembraram de crianças que sofreram as paradas cardíacas e que eles não perceberam na hora o que estava acontecendo", disse o diretor.
O funcionário foi preso em cumprimento de mandado de prisão expedido pela Justiça Federal. Segundo a PF, ele negou que tenha cometido qualquer crime. A PF informou ainda que não poderia divulgar nenhum detalhe do caso, que está sob segredo de Justiça. Não disse, inclusive, se o suspeito já tem advogado.


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