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PERIGO NO HOSPITAL
PF acredita que técnico em enfermagem provocava parada respiratória para depois salvar pacientes no Rio
Auxiliar é suspeito de intoxicar crianças
TALITA FIGUEIREDO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Um técnico de enfermagem de
28 anos foi preso ontem pela Polícia Federal sob a suspeita de ter
provocado paradas respiratórias
em 15 crianças no Rio. Policiais e
médicos desconfiam que ele aplicava injeções com sedativos para
estimular as paradas e depois
"salvar" as crianças.
Em depoimento à Polícia Federal, ele negou a acusação.
Os casos investigados são de pacientes do Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira,
da UFRJ, na Ilha do Fundão (zona
norte do Rio), onde o suspeito
trabalhava.
Até agora a polícia investiga a
intoxicação de seis crianças, cujos
prontuários já foram entregues
pela direção do hospital. De acordo com o diretor da unidade, Antônio Ledo, os outros nove prontuários serão entregues ao longo
da próxima semana.
Os quatro óbitos que aconteceram neste ano na emergência da
unidade também serão investigados. Não há ainda, porém, nada
que ligue o suspeito a esses casos.
Ele vai responder sob a acusação de tentativa de homicídio triplamente qualificado e poderá, se
condenado, cumprir de 12 a 30
anos de prisão.
Desconfiança
A desconfiança de médicos na
atuação do funcionário começou
no final do mês passado, quando
duas crianças apresentaram "parada respiratória" e precisaram de
aparelhos para respirar.
"O que chama a atenção é que,
apesar de as crianças que tratamos terem doenças graves, como
leucemia e Aids, nessas ocasiões o
quadro de parada respiratória
não era natural. Além disso, elas
voltavam a respirar sem aparelhos muito rapidamente, o que
demonstra que possivelmente
elas estavam sob efeito de alguma
medicação que provocasse a parada respiratória", afirmou o diretor Antônio Ledo.
Alguns médicos da equipe perceberam que os casos aconteciam
sempre no mesmo plantão. Desconfiaram do técnico de enfermagem e, no último dia 2, mantiveram uma médica o acompanhando o tempo todo. Quando ela foi
embora, duas crianças tiveram
parada respiratória em menos de
três horas. "É difícil acreditar que
alguém possa fazer isso, mas mais
difícil é monitorar uma pessoa
que tem em sua função aplicar
medicamentos", disse Ledo. O diretor afirma que os depoimentos
de mães serão fundamentais para
ajudar no caso.
Na última terça, foi pedido aos
plantonistas que mostrassem
suas bolsas. Após hesitar, o funcionário mostrou a sua. Lá foram
encontrados psicotrópicos, sedativos, barbitúricos e curare, medicamentos que não tinha autorização para carregar, por não ser médico. Os remédios não foram roubados do hospital, segundo Ledo.
Problemas psicológicos
O diretor disse acreditar que, se
comprovada a suspeita, ele sofra
de algum problema psicológico.
"Parece que ele criava situações
médicas para mostrar competência, porque ele sempre detectava o
problema antes de ele acontecer.
Talvez seja um médico frustrado,
alguém que não conseguiu realizar seu sonho", disse.
O técnico em enfermagem foi
descrito como um bom funcionário. Trabalhava no instituto desde
2003. Ele também trabalha na UI
(Unidade Intermediária) do Hospital Estadual Albert Schweitzer e
na pediatria Miguel Couto, municipal. A Secretaria Municipal da
Saúde informou que vai abrir sindicância para apurar possíveis
crimes. O Estado também abrirá
sindicância para "apurar os prejuízos que ele possa ter causado à
vida humana".
Ontem de manhã, durante reunião no hospital da UFRJ para informar a equipe do que havia
acontecido, alguns médicos chegaram a chorar. "Uns não conseguem acreditar. Outros, começaram a chorar muito porque se
lembraram dos casos. Lembraram de crianças que sofreram as
paradas cardíacas e que eles não
perceberam na hora o que estava
acontecendo", disse o diretor.
O funcionário foi preso em
cumprimento de mandado de
prisão expedido pela Justiça Federal. Segundo a PF, ele negou que
tenha cometido qualquer crime.
A PF informou ainda que não poderia divulgar nenhum detalhe do
caso, que está sob segredo de Justiça. Não disse, inclusive, se o suspeito já tem advogado.
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