São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Futuros controladores já temem Brasília

Turma da academia de operadores de vôo que terá o destino definido na próxima sexta não quer trabalhar no "olho do furacão"

Alunos citam o silêncio de seus professores nas últimas semanas e afirmam que o tema tem tirado o sossego dos quase 70 formandos

ALENCAR IZIDORO
ENVIADO ESPECIAL A GUARATINGUETÁ

A semana vai ser tensa para os estudantes que estão prestes a se formar no curso militar de controladores de tráfego aéreo da Escola de Especialistas da Aeronáutica, que fica em Guaratinguetá, a 176 km de São Paulo.
Eles esperam saber na próxima sexta-feira que destino terão na FAB (Força Aérea Brasileira) a partir do ano que vem.
Nos dois anos da formação como controladores de vôo, a expectativa da maioria sempre foi a de poder trabalhar e voltar a morar perto da cidade de origem e da família -e há gente de todos os cantos do Brasil-, prioridade que seus instrutores sempre exaltaram em aulas.
Mas nas últimas semanas houve um silêncio do corpo docente e quase todo mundo passou a acreditar que terá, compulsoriamente, um dos destinos mais indesejados: Brasília.
"Não estamos sossegados. Todo mundo só fala nisso", afirmava Renata (nome fictício), 23. "O clima lá não deve estar muito bom", acrescentava Ricardo, da mesma idade. Eles, outros dois alunos e um professor conversaram com a Folha na última semana, porém sob a condição do anonimato -diante da rigidez do sistema militar que envolve a profissão, alegam que não poderiam falar nem sobre a rotina de estudos, menos ainda emitir opiniões.
Boa parte dos quase 70 futuros sargentos temem ser deslocados para Brasília em razão da crise desencadeada depois do acidente entre um jato da Embraer e um Boeing da Gol, que deixou 154 mortos, e reforçada pela operação-padrão dos controladores na capital federal. O movimento causou atrasos em vôos do país todo e expôs algumas deficiências do sistema aéreo no país -como carência de mão-de-obra capacitada para exercer a função.
Além de serem jogados na "fogueira", em um ambiente de tensão, eles resistem a esse remanejamento por causa da distância em relação aos lugares onde querem trabalhar, dos custos da vida em Brasília e da preocupação em serem vistos como homens de confiança dos chefes para ajudar a contornar "os problemas criados por algumas influências negativas".
Quem não acredita que os novatos -que terão um período de adaptação, sempre em dupla, acompanhados de instrutores, nas funções mais simples- serão jogados no "olho do furacão" avalia que, de qualquer maneira, deverão ao menos "tapar buracos" em áreas onde os mais experientes sejam deslocados para a capital.
Ou seja, a expectativa geral é que a minoria dos recém formados controladores vai trabalhar aonde realmente pretendia -e já devem começar na carreira com alguma "pontinha de insatisfação", conforme relato de um deles, que também pediu anonimato.


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