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Futuros controladores já temem Brasília
Turma da academia de operadores de vôo que terá o destino definido na próxima sexta não quer trabalhar no "olho do furacão"
Alunos citam o silêncio de seus professores nas últimas semanas e afirmam que o tema tem tirado o sossego dos quase 70 formandos
ALENCAR IZIDORO
ENVIADO ESPECIAL A GUARATINGUETÁ
A semana vai ser tensa para
os estudantes que estão prestes
a se formar no curso militar de
controladores de tráfego aéreo
da Escola de Especialistas da
Aeronáutica, que fica em Guaratinguetá, a 176 km de São
Paulo.
Eles esperam saber na próxima sexta-feira que destino terão na FAB (Força Aérea Brasileira) a partir do ano que vem.
Nos dois anos da formação
como controladores de vôo, a
expectativa da maioria sempre
foi a de poder trabalhar e voltar
a morar perto da cidade de origem e da família -e há gente de
todos os cantos do Brasil-,
prioridade que seus instrutores
sempre exaltaram em aulas.
Mas nas últimas semanas
houve um silêncio do corpo docente e quase todo mundo passou a acreditar que terá, compulsoriamente, um dos destinos mais indesejados: Brasília.
"Não estamos sossegados.
Todo mundo só fala nisso",
afirmava Renata (nome fictício), 23. "O clima lá não deve estar muito bom", acrescentava
Ricardo, da mesma idade. Eles,
outros dois alunos e um professor conversaram com a Folha
na última semana, porém sob a
condição do anonimato -diante da rigidez do sistema militar
que envolve a profissão, alegam
que não poderiam falar nem
sobre a rotina de estudos, menos ainda emitir opiniões.
Boa parte dos quase 70 futuros sargentos temem ser deslocados para Brasília em razão da
crise desencadeada depois do
acidente entre um jato da Embraer e um Boeing da Gol, que
deixou 154 mortos, e reforçada
pela operação-padrão dos controladores na capital federal. O
movimento causou atrasos em
vôos do país todo e expôs algumas deficiências do sistema aéreo no país -como carência de
mão-de-obra capacitada para
exercer a função.
Além de serem jogados na
"fogueira", em um ambiente de
tensão, eles resistem a esse remanejamento por causa da distância em relação aos lugares
onde querem trabalhar, dos
custos da vida em Brasília e da
preocupação em serem vistos
como homens de confiança dos
chefes para ajudar a contornar
"os problemas criados por algumas influências negativas".
Quem não acredita que os
novatos -que terão um período de adaptação, sempre em
dupla, acompanhados de instrutores, nas funções mais simples- serão jogados no "olho
do furacão" avalia que, de qualquer maneira, deverão ao menos "tapar buracos" em áreas
onde os mais experientes sejam deslocados para a capital.
Ou seja, a expectativa geral é
que a minoria dos recém formados controladores vai trabalhar aonde realmente pretendia -e já devem começar na
carreira com alguma "pontinha
de insatisfação", conforme relato de um deles, que também
pediu anonimato.
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