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Foco
Vítima de doença grave, mulher escreve poesia com o movimento dos olhos
FABIANA REWALD
DA REDAÇÃO
Falar e escrever exclusivamente a partir do movimento
dos olhos. Foi essa a maneira
que a paulista nascida em
Franca (400 km de São Paulo)
Leide Moreira, 59, encontrou
para superar um enorme obstáculo: a perda, em apenas um
ano, de todos os movimentos
de seu corpo -com exceção
dos relativos ao globo ocular.
Vítima de ELA (Esclerose
Lateral Amiotrófica), uma grave doença degenerativa que
mostrou os seus primeiros sinais no final de 2004, Leide teve de abandonar as corridas no
parque Ibirapuera -na zona
sul da capital paulista, onde ela
vive hoje-, a maioria das brincadeiras com os netos e o trabalho com marketing cultural.
No entanto, não deixou de lado sua maior paixão: escrever
poesias.
Hoje, comunica-se com o
mundo por meio de seus poemas e é um exemplo de mulher guerreira, que luta por
uma melhor qualidade de vida
e não abre mão de suas vontades.
"Ela falou, a água parou",
conta rindo Leide Moreira Jacob, de 36 anos de idade e o
mesmo nome da mãe. A filha
diz que a família faz questão de
respeitar as decisões da matriarca, que manteve a personalidade forte, mas se tornou
uma pessoa mais paciente.
"Agora ela tem que esperar
por tudo."
Escrever as poesias, por
exemplo, é um tanto trabalhoso. Leide usa uma tabela visual, que permite formar palavras a partir da composição
das letras dispostas em linhas
e colunas numeradas. Com os
olhos, ela "dita" os versos, em
sua maioria marcados por
mensagens de esperança.
No ano passado, eles foram
reunidos no livro "Letras da
Minha Emoção", distribuído
principalmente aos amigos.
Às vezes, o poema "ditado" é
um tanto melancólico, como o
"Dilema": "Minha vida se esvaindo. / Não sei se vou chorando ou sorrindo. / Sorrindo
pondo fim a uma agonia que
não agüento mais. / Chorando
por deixar para trás pessoas
que amo demais".
Mas o preferido da autora,
"Meu Jardim", é bastante alto-astral: "Plantei flores no meu
jardim, / Rosas vermelhas em
meio a heras, / Violetas, cravos
e jasmim, / Amor-perfeito, dálias, primaveras. / Colhi flores
no meu jardim, / Margaridas,
costela de Adão, / Lírios, um
ramo de alecrim, / Muito cipreste e um coração. / Plantei
e colhi flores no meu jardim, /
Retirei as ervas daninhas, /
Cultivá-lo faz bem para mim, /
Nem acredito que as flores são
minhas!".
Definido por Leide como
"uma campanha pela vida",
seu próximo desafio é estrelar
um documentário sobre a sua
vida. Nas palavras dela, o objetivo do filme é "divulgar a
doença para mais investimentos em pesquisa objetivando a
busca da cura".
Com 2.500 novos portadores por ano no Brasil, segundo
a AbrELA (Associação Brasileira de ELA), a doença de Leide acometeu um dos homens
mas inteligentes da atualidade, o físico inglês Stephen
Hawking. Segundo a filha de
Leide, ele topou dar um depoimento para o documentário.
O filme ainda não foi produzido, pois depende de patrocínio. O diretor Ralph Peticov
aguarda a posição de empresas
já procuradas.
E para os portadores de
ELA, qual é a dica de Leide?
"Tenham fé e esperança. Vamos ser criativos."
NA INTERNET
www.leidemoreira.com.br
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