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É preciso gerir rede com mais inteligência, diz especialista
Pesquisador diz que sistema deveria ter mecanismos para não propagar falha
"Não dá para aceitar São Paulo ficar apagada por tanto tempo; temos que pensar em como dar maior segurança ao sistema"
DA SUCURSAL DO RIO
Para o diretor da Coppe/
UFRJ e ex-presidente da Eletrobrás entre 2003 e 2004, Luiz
Pinguelli Rosa, o governo tem
de estudar formas de garantir
maior proteção ao sistema elétrico. Ele diz que é preciso gerir
a rede com maior inteligência e
automação. "Não é simples,
mas não dá para botar a culpa
na mudança climática."
(SAMANTHA LIMA)
FOLHA - O senhor acha que o apagão da última terça era evitável?
LUIZ PINGUELLI ROSA - O sistema
deveria possuir mecanismos de
isolamento para não propagar
problemas como esse, protegendo as grandes cidades. Não
dá para aceitar São Paulo ficar
apagada por tanto tempo. Temos que pensar em como dar
maior segurança ao sistema.
FOLHA - Dado que nosso sistema
elétrico é todo interligado, é possível tecnicamente fazê-lo?
PINGUELLI - É uma questão de
inteligência, de melhorar a automação do sistema. As redes
inteligentes estão sendo muito
discutidas nos EUA, onde ocorreram muitos apagões nos últimos seis anos, e um deles deixou a população de Nova York
às escuras e histérica. Lá é mais
fácil, porque não tem hidrelétricas tão grandes. Mas nosso
papel é cobrar pela melhoria do
sistema. É difícil, não é simples.
FOLHA - O senhor acha que demorou demais para restabelecer a energia nas regiões afetadas?
PINGUELLI - Uma vez derrubado, não é possível ligá-lo todo
de uma vez. É preciso de um
tempo para que se retome com
calma, sem danos. Além disso,
ligar uma usina térmica para
substituir a energia que deixou
de vir de Itaipu é complicado
porque isso requer tempo, não
se liga de uma hora para outra.
FOLHA - O senhor vê alguma falha
no modelo regulatório do setor elétrico que contribua para a vulnerabilidade do sistema?
PINGUELLI - Não gosto desse
modelo, é muito complicado.
Falando especificamente do
sistema de transmissão, acho
errado que uma linha que cruze
diversos Estados seja fatiada
em dois, três pedaços e dados
para que a iniciativa privada
administre cada um deles. Isso
é resultado da febre neoliberal
de dividir as coisas para dar para as empresas administrarem.
Esse nem foi o caso da linha de
ontem, já que ela é totalmente
gerenciada por Furnas. Mas é
um ponto vulnerável do sistema que precisava ser revisto.
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