São Paulo, quinta-feira, 12 de novembro de 2009

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"Usei o celular para iluminar a sala de parto do meu filho"

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Foram 20 segundos apenas, mas que para mim (pode ser um chavão, mas nesse caso valeu) foram uma eternidade.
Não é todo dia que você é pai. Como se não bastasse a ansiedade, a preocupação natural que um momento assim traz, imagine quando isso acontece durante um dos maiores blecautes da história do país.
Minha mulher, Susana, estava internada desde o início do dia no Hospital Santa Catarina, na avenida Paulista. À noite, ao entrar na sala de operações, ouvi a médica me aconselhar que, se quisesse boas imagens para registrar o momento do nascimento, o melhor a fazer seria me posicionar de frente para minha mulher.
Além de acompanhar e de fotografar, em detalhes, parte da cesariana e o nascimento do pequeno Leonardo, uma emoção maior viria a seguir, desta vez sem nenhum aviso.
Com os médicos ainda com seus instrumentos cirúrgicos em posição, as luzes do andar inteiro, sem nenhum aviso, apagaram.
O apagão foi o bastante para, em um ato reflexo, ligar o celular e, com sua pequena luminosidade, ora tentava iluminar a área onde a cirurgia prosseguia, ora o local onde uma enfermeira acolhia meu filho no colo (tinha medo que tropeçasse em algo e caíssem os dois).
Os médicos, porém, simplesmente ficaram parados. A médica disse, de forma quase imperceptível, apenas duas palavras, sem explicação, a seus colegas: "20 segundos".
Eu não entendia como ela mantinha o sangue frio. Ela sabia de algo que eu não tinha conhecimento, e logo suas palavras fizeram sentido. Após 20 segundos, a energia voltou e me dei conta de que o hospital contava com um gerador próprio.
Ao encontrar com parentes que estavam na sala de espera da maternidade, fui recebido por uma avalanche de perguntas. Depois do tradicional "Foi tudo bem?", as perguntas se voltaram para o blecaute: "Como foi para fazer o parto no escuro?", "Há condições para fazerem o pós-operatório?".
Olhei pela janela, para o caos em que se transformara São Paulo, mas pelo menos naquela madrugada esse não seria um problema para Leonardo, que passou a noite no berçário.


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