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"Usei o celular para iluminar a sala de parto do meu filho"
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Foram 20 segundos apenas,
mas que para mim (pode ser
um chavão, mas nesse caso valeu) foram uma eternidade.
Não é todo dia que você é pai.
Como se não bastasse a ansiedade, a preocupação natural
que um momento assim traz,
imagine quando isso acontece
durante um dos maiores blecautes da história do país.
Minha mulher, Susana, estava internada desde o início do
dia no Hospital Santa Catarina,
na avenida Paulista. À noite, ao
entrar na sala de operações, ouvi a médica me aconselhar que,
se quisesse boas imagens para
registrar o momento do nascimento, o melhor a fazer seria
me posicionar de frente para
minha mulher.
Além de acompanhar e de fotografar, em detalhes, parte da
cesariana e o nascimento do
pequeno Leonardo, uma emoção maior viria a seguir, desta
vez sem nenhum aviso.
Com os médicos ainda com
seus instrumentos cirúrgicos
em posição, as luzes do andar
inteiro, sem nenhum aviso,
apagaram.
O apagão foi o bastante para,
em um ato reflexo, ligar o celular e, com sua pequena luminosidade, ora tentava iluminar a
área onde a cirurgia prosseguia,
ora o local onde uma enfermeira acolhia meu filho no colo (tinha medo que tropeçasse em
algo e caíssem os dois).
Os médicos, porém, simplesmente ficaram parados. A médica disse, de forma quase imperceptível, apenas duas palavras, sem explicação, a seus colegas: "20 segundos".
Eu não entendia como ela
mantinha o sangue frio. Ela sabia de algo que eu não tinha conhecimento, e logo suas palavras fizeram sentido. Após 20
segundos, a energia voltou e me
dei conta de que o hospital contava com um gerador próprio.
Ao encontrar com parentes
que estavam na sala de espera
da maternidade, fui recebido
por uma avalanche de perguntas. Depois do tradicional "Foi
tudo bem?", as perguntas se
voltaram para o blecaute: "Como foi para fazer o parto no escuro?", "Há condições para fazerem o pós-operatório?".
Olhei pela janela, para o caos
em que se transformara São
Paulo, mas pelo menos naquela
madrugada esse não seria um
problema para Leonardo, que
passou a noite no berçário.
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