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INFÂNCIA
Norte e Nordeste têm os piores índices sociais; dos 12 aos 17 anos, chance de não se alfabetizar é 16 vezes maior
Unicef mapeia desigualdade no Brasil
IURI DANTAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
As desigualdades econômica,
étnica, regional e urbana-rural,
entre outras, não só impedem o
acesso a bens como determinam
o sucesso de crianças e jovens brasileiros, consolidando as diferenças. A conclusão consta do relatório "Situação da Infância e Adolescência Brasileiras", divulgado
ontem pelo Unicef (Fundo das
Nações Unidas para a Infância).
"Ainda hoje, o fato de uma
criança nascer rica ou pobre, negra, branca ou indígena, viver na
cidade ou no campo, morar no
Sul ou no Nordeste, ter ou não
uma deficiência afeta de sobremaneira as suas oportunidades ao
longo da vida", disse Reiko Niimi,
representante do Unicef.
O relatório analisa a situação de
61 milhões de brasileiros com menos de 18 anos (35,9% da população). O Unicef lida com dados de
2002 do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística) e de outros órgãos do governo.
Os números refletem o posto do
Brasil de país com maior concentração de renda do continente. E
mais: as dificuldades de crianças e
adolescentes de hoje em ter acesso a educação e saúde representam o fantasma de manutenção
desse status quo. Cerca de 29 milhões de brasileiros negros menores de 18 anos, por exemplo, têm
duas vezes mais chances de ser
pobre do que os brancos.
Entre as regiões, o Norte e o
Nordeste apresentam os piores
índices. Lá, os jovens têm quatro
vezes mais possibilidade de morrer antes de completar um ano de
idade e 16 vezes mais chances de
não aprender a ler e a escrever na
comparação com aqueles que vivem nas regiões Sul e Sudeste.
O relatório do Unicef descreve
que o acesso à escola "está quase
universalizado, mas 5,5% das
crianças de sete a 14 anos ainda
não frequentam as aulas". Desses
alunos, 41,7% estão defasados e
12,7% não foram alfabetizados.
A Folha tentou localizar o ministro da Educação, Cristovam
Buarque, ontem, mas sua assessoria não respondeu aos recados.
Presente ao lançamento do relatório, o chefe-de-gabinete de Cristovam, Marcelo Aguiar, parabenizou o Unicef e disse que pretende trabalhar com o organismo para a redução das desigualdades.
Ao avaliar a educação levando
em conta a renda da família, previsivelmente há maior exclusão
dos mais pobres. Entre os 20%
mais pobres da população, 9,2%
dos que têm de sete a 14 anos estão fora da escola. Na faixa dos
20% mais ricos, esse percentual
cai para apenas 1,2%.
Situação mundial
Também foi lançado ontem o
relatório sobre a Situação Mundial da Infância do Unicef, em que
é feito um ranking dos 191 países
signatários das Metas do Milênio
-um conjunto de compromissos sociais que devem ser cumpridos até 2015. O Brasil subiu uma
posição em relação ao ano passado, mas manteve o mesmo índice.
O país ocupa a 93ª posição, com
uma taxa de 36 mortes até os cinco anos a cada mil nascidos vivos.
O Unicef recomenda que os governos nacionais invistam na inclusão das meninas na escola.
Sugestões
Investir mais na prevenção de
doenças, avançar no conteúdo escolar e fortalecer os potenciais comunitários e da família foram os
pontos delineados pelo Unicef para a superação das desigualdades.
"A escola precisa ser o lugar privilegiado para que as crianças e os
adolescentes dominem os conteúdos históricos e geográficos
dos povos, do papel do campo e
da cidade na dimensão social e
econômica do Brasil, numa leitura mais ampla e responsável das
dinâmicas nacionais", diz o texto.
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