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PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Prédio, palco de uma tragédia familiar nos anos 30, já foi tido como um dos locais mal-assombrados da capital
Tombamento facilita restauro do castelinho
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Palco de uma chocante tragédia
familiar nos anos 30, o castelinho
da rua Apa, na esquina com a avenida São João (centro de São Paulo), agora integra o patrimônio
histórico da cidade. O local foi
tombado pelo Conpresp (órgão
municipal de preservação histórica, cultural e ambiental) na semana passada.
Apesar da alcunha aristocrática,
o castelinho possui hoje um ar decadente. Parte do teto caiu, algumas paredes perderam o reboco e
as vidraças estão quebradas. Para
resgatar a beleza que o prédio teve
no passado, o tombamento será
um instrumento fundamental,
afirma Maria Eulina Hilsenbeck,
53, que, desde 1997, desenvolve
no terreno em que está o prédio
um projeto social -o Clube de
Mães do Brasil. "Eu estava esperando o tombamento para procurar parceiros para o projeto de
restauração", diz.
O castelinho foi construído em
1912, e seu estilo eclético é um
exemplo da arquitetura residencial adotada em São Paulo nas primeiras décadas do século 20. Mas
sua fama não decorre apenas de
suas características arquitetônicas
repletas de detalhes e adornos
-diretamente contrastantes com
a estrutura do Minhocão, construído ao lado do imóvel. O castelinho é conhecido entre os paulistanos devido a um crime.
Em maio de 1937, os três moradores do local (uma mulher e seus
dois filhos) foram encontrados
mortos. A explicação dada é a de
que houve uma discussão entre os
dois irmãos quanto ao rumo dos
negócios da família. Após a briga,
o irmão mais velho, Álvaro César
dos Reis, 45, assassinou a tiros sua
mãe, Maria Cândida, que tinha 73
anos, e o irmão, Armando César,
42. Em seguida, ele se suicidou.
Na falta de herdeiros, o castelinho
passou a pertencer à União.
A história, somada à degradação do imóvel, fez com que o castelinho chegasse a ser incluído por
uma agência de turismo de São
Paulo, chamada Graffit, num roteiro voltado aos locais mal-assombrados da cidade.
Nada disso, porém, assustava
Maria Eulina, que hoje administra
o local, mas, há 30 anos, costumava invadi-lo à noite para dormir.
Recém chegada do Maranhão,
com pouco mais de 20 anos e sem
dinheiro ou experiência profissional (exceto o curso de normalista), Maria Eulina logo integrou o
número de sem-teto da cidade. À
noite, ela entrava escondida no
prédio para dormir na torre.
Quase dois anos depois, Maria
Eulina conseguiu sair das ruas,
mas manteve a ligação com o Castelinho: queria desenvolver um
projeto social no local. No início
de 1998, ela conseguiu autorização para abrigar o Clube de Mães
do Brasil no terreno, onde instalou um anexo e passou a oferecer
cursos profissionalizantes.
"Para mim, esse lugar é um símbolo de São Paulo e se refere a cada um de nós. Afinal, todo mundo, algum dia, sonhou em conquistar um castelo."
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