São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2004

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PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Prédio, palco de uma tragédia familiar nos anos 30, já foi tido como um dos locais mal-assombrados da capital

Tombamento facilita restauro do castelinho

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Palco de uma chocante tragédia familiar nos anos 30, o castelinho da rua Apa, na esquina com a avenida São João (centro de São Paulo), agora integra o patrimônio histórico da cidade. O local foi tombado pelo Conpresp (órgão municipal de preservação histórica, cultural e ambiental) na semana passada.
Apesar da alcunha aristocrática, o castelinho possui hoje um ar decadente. Parte do teto caiu, algumas paredes perderam o reboco e as vidraças estão quebradas. Para resgatar a beleza que o prédio teve no passado, o tombamento será um instrumento fundamental, afirma Maria Eulina Hilsenbeck, 53, que, desde 1997, desenvolve no terreno em que está o prédio um projeto social -o Clube de Mães do Brasil. "Eu estava esperando o tombamento para procurar parceiros para o projeto de restauração", diz.
O castelinho foi construído em 1912, e seu estilo eclético é um exemplo da arquitetura residencial adotada em São Paulo nas primeiras décadas do século 20. Mas sua fama não decorre apenas de suas características arquitetônicas repletas de detalhes e adornos -diretamente contrastantes com a estrutura do Minhocão, construído ao lado do imóvel. O castelinho é conhecido entre os paulistanos devido a um crime.
Em maio de 1937, os três moradores do local (uma mulher e seus dois filhos) foram encontrados mortos. A explicação dada é a de que houve uma discussão entre os dois irmãos quanto ao rumo dos negócios da família. Após a briga, o irmão mais velho, Álvaro César dos Reis, 45, assassinou a tiros sua mãe, Maria Cândida, que tinha 73 anos, e o irmão, Armando César, 42. Em seguida, ele se suicidou. Na falta de herdeiros, o castelinho passou a pertencer à União.
A história, somada à degradação do imóvel, fez com que o castelinho chegasse a ser incluído por uma agência de turismo de São Paulo, chamada Graffit, num roteiro voltado aos locais mal-assombrados da cidade.
Nada disso, porém, assustava Maria Eulina, que hoje administra o local, mas, há 30 anos, costumava invadi-lo à noite para dormir.
Recém chegada do Maranhão, com pouco mais de 20 anos e sem dinheiro ou experiência profissional (exceto o curso de normalista), Maria Eulina logo integrou o número de sem-teto da cidade. À noite, ela entrava escondida no prédio para dormir na torre.
Quase dois anos depois, Maria Eulina conseguiu sair das ruas, mas manteve a ligação com o Castelinho: queria desenvolver um projeto social no local. No início de 1998, ela conseguiu autorização para abrigar o Clube de Mães do Brasil no terreno, onde instalou um anexo e passou a oferecer cursos profissionalizantes.
"Para mim, esse lugar é um símbolo de São Paulo e se refere a cada um de nós. Afinal, todo mundo, algum dia, sonhou em conquistar um castelo."


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