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ÁREA VIP
Consumidoras de outros Estados, em busca de novidades, chegam a consumir até R$ 60 mil em roupas e acessórios
Turistas de luxo movimentam grifes em São Paulo
PAULO SAMPAIO
DA REVISTA
Sentada em frente ao espelho do
salão, com uma foto de Gisele
Bündchen no colo, a produtora
Mariana Fortes, 24, explica que
arrancou a página da revista porque quer a cor de seu cabelo igualzinha à da modelo. "Quem não
adora a Gisele? Ela é linda!"
Filha do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), Mariana mora em
Recife e costuma encarar cerca de
sete horas de avião, ida e volta, só
para cortar e tingir o cabelo no salão de Wanderley Nunes, o W, um
dos mais bombados da cidade. O
corte dura 15 minutos, explica
Wanderley, 44, que cobra R$ 180
só a tesourada.
Mariana não é a única turista no
salão. No dia da reportagem, havia mulheres do Rio, Belo Horizonte, Avaré, Bauru, Londrina,
Uberlândia e Novo Hamburgo.
"Mais ou menos 70% da minha
clientela vem de fora da cidade",
diz o cabeleireiro, que chega a receber 400 clientes em um dia e fatura cerca de R$ 500 mil mensais
só na unidade do shopping Iguatemi -ele tem mais três salões.
Fazer cabeças itinerantes não é
prerrogativa de cabeleireiro, assim como atrair milhares de consumidoras de todo o país não é
privilégio do Brás ou da 25 de
Março. O mercado de alto luxo
paulistano recebe uma senhora
contribuição de forasteiros VIP,
clientes acostumadas a abastecer
na cidade suas malinhas Louis
Vitton. São profissionais liberais,
empresárias, herdeiras do agrobusiness, mulheres e filhas de pecuaristas e políticos, ricos e enriquecidos de todos os escalões.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, entre janeiro e outubro deste ano o Brasil
importou US$ 165 milhões só em
roupas e acessórios. São Paulo
respondeu por um terço desse valor, US$ 55 milhões. Mas, quando
se trata do consumo de muitos cifrões, a balança se desequilibra:
"O Estado é responsável por pelo menos 75% dos U$ 2 bilhões
consumidos em luxo, por ano, no
Brasil (somando nacionais e importados)", diz Carlos Ferreirinha, 35, consultor e coordenador
do curso de MBA Gestão de Luxo,
na Faap. Ferreirinha atribui 30%
desse consumo a visitantes. Rio,
Belo Horizonte, Recife, Salvador,
Ceará e Porto Alegre são os primeiros do ranking, ele afirma.
As lojas esbanjam grifes, mas regulam a informação sobre negócios; concedem no máximo alguns percentuais. "Algo em torno
de 30% das nossas consumidoras
vêm de fora de São Paulo", afirma
a diretora geral da Christian Dior
para o Brasil, Rosângela Lyra.
As consumidoras são menos reticentes. "Na festa de dez anos da
(revista) "Caras", fui à Dior e gastei
R$ 60 mil em uma tarde", conta a
baiana Lia Ferreira, 45, cuja família tem uma empresa de transporte público em Salvador.
Bem-vindas!
As turistas nada acidentais são
disputadas por todas as facções
do mercado de luxo, incluindo, os
hotéis cinco estrelas. Alguns oferecem serviços especiais para
atender o "segmento", como motorista particular e "personal buyer" (comprador pessoal), caso a
hóspede não queira sair do hotel.
"Criamos o serviço a partir da
demanda dos mercados do Rio e
Brasília. Fizemos a pesquisa em
agências de viagens especializadas em trazer socialites cariocas
para comprar aqui", conta o gerente de relações públicas do Sofitel, Ricardo Bueno Hida, 28, que
instituiu há sete meses o "Promenade & Haute Couture", um extra
em que, além de café da manhã no
restaurante francês do hotel, o
hóspede tem direito a oito horas
de tour com motorista particular
por lojas como Daslu, Louis Vuitton e Christian Dior. Tudo por
um acréscimo de R$ 277, por pessoa, na diária.
Entre os argumentos usados pelas abastadas consumidoras para
justificar a vinda a São Paulo está,
em primeiro lugar, a possibilidade de comprar peças mais atuais.
Elas reclamam que, nas multimarcas de suas cidades, só encontram rescaldo de coleções passadas. "É impressão delas", afirma
Tânia Mortari, que reconhece um
senão: "É claro que as peças nas
multimarcas são do gosto do comerciante local. Mesmo em Nova
York, você não vai achar toda a
coleção da Prada (italiana). Se
quiser, vai ter de ir a Milão."
A advogada goiana Stela Machado, 43, prefere vir a São Paulo.
"Confesso que tenho preconceito
com multimarca, porque me
cheira à coleção passada ou sobra", diz ela. Em uma dessas vindas, desembolsou R$ 24 mil em
um anel de ouro com brilhantes.
As grifes de luxo não parecem
muito interessadas com o uso "errado" ou a possível queima de sua
imagem por uma mulher desinformada. Se a cliente for boa pagante e o evento a que ela pretende ir não coincidir com uma sessão de compras paulistana, a loja
despacha as roupas pelo correio.
"No dia 9 tenho uma confraternização de senadores em Brasília.
Até estarei em São Paulo antes,
mas vai ser muito corrido. Então,
eles me mandaram um conjuntinho de saia e casaquinho Chanel
"off-light" (branco sujo), mais o
sapato e a bolsa", conta Maika, 42,
mulher do senador Delcídio do
Amaral (PT-MS).
No caso dela, que desenvolve
um trabalho social com a população carente, existe um outro bom
motivo para ir às compras longe
da cidade onde mora. "Às vezes,
não dá pra fazer tudo o que a gente gostaria em Campo Grande,
porque passa imagem de arrogância, prepotência", explica.
A propósito, todas as mulheres
entrevistadas nesta reportagem
gostam de tratar "sua" vendedora
por nome e sobrenome, como se a
moça fosse também uma grife
ambulante.
Leia a reportagem completa no site da
Revista: www.uol.com.br/revista
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