São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2004

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ÁREA VIP

Consumidoras de outros Estados, em busca de novidades, chegam a consumir até R$ 60 mil em roupas e acessórios

Turistas de luxo movimentam grifes em São Paulo

PAULO SAMPAIO
DA REVISTA

Sentada em frente ao espelho do salão, com uma foto de Gisele Bündchen no colo, a produtora Mariana Fortes, 24, explica que arrancou a página da revista porque quer a cor de seu cabelo igualzinha à da modelo. "Quem não adora a Gisele? Ela é linda!"
Filha do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), Mariana mora em Recife e costuma encarar cerca de sete horas de avião, ida e volta, só para cortar e tingir o cabelo no salão de Wanderley Nunes, o W, um dos mais bombados da cidade. O corte dura 15 minutos, explica Wanderley, 44, que cobra R$ 180 só a tesourada.
Mariana não é a única turista no salão. No dia da reportagem, havia mulheres do Rio, Belo Horizonte, Avaré, Bauru, Londrina, Uberlândia e Novo Hamburgo. "Mais ou menos 70% da minha clientela vem de fora da cidade", diz o cabeleireiro, que chega a receber 400 clientes em um dia e fatura cerca de R$ 500 mil mensais só na unidade do shopping Iguatemi -ele tem mais três salões.
Fazer cabeças itinerantes não é prerrogativa de cabeleireiro, assim como atrair milhares de consumidoras de todo o país não é privilégio do Brás ou da 25 de Março. O mercado de alto luxo paulistano recebe uma senhora contribuição de forasteiros VIP, clientes acostumadas a abastecer na cidade suas malinhas Louis Vitton. São profissionais liberais, empresárias, herdeiras do agrobusiness, mulheres e filhas de pecuaristas e políticos, ricos e enriquecidos de todos os escalões.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, entre janeiro e outubro deste ano o Brasil importou US$ 165 milhões só em roupas e acessórios. São Paulo respondeu por um terço desse valor, US$ 55 milhões. Mas, quando se trata do consumo de muitos cifrões, a balança se desequilibra:
"O Estado é responsável por pelo menos 75% dos U$ 2 bilhões consumidos em luxo, por ano, no Brasil (somando nacionais e importados)", diz Carlos Ferreirinha, 35, consultor e coordenador do curso de MBA Gestão de Luxo, na Faap. Ferreirinha atribui 30% desse consumo a visitantes. Rio, Belo Horizonte, Recife, Salvador, Ceará e Porto Alegre são os primeiros do ranking, ele afirma.
As lojas esbanjam grifes, mas regulam a informação sobre negócios; concedem no máximo alguns percentuais. "Algo em torno de 30% das nossas consumidoras vêm de fora de São Paulo", afirma a diretora geral da Christian Dior para o Brasil, Rosângela Lyra.
As consumidoras são menos reticentes. "Na festa de dez anos da (revista) "Caras", fui à Dior e gastei R$ 60 mil em uma tarde", conta a baiana Lia Ferreira, 45, cuja família tem uma empresa de transporte público em Salvador.

Bem-vindas!
As turistas nada acidentais são disputadas por todas as facções do mercado de luxo, incluindo, os hotéis cinco estrelas. Alguns oferecem serviços especiais para atender o "segmento", como motorista particular e "personal buyer" (comprador pessoal), caso a hóspede não queira sair do hotel.
"Criamos o serviço a partir da demanda dos mercados do Rio e Brasília. Fizemos a pesquisa em agências de viagens especializadas em trazer socialites cariocas para comprar aqui", conta o gerente de relações públicas do Sofitel, Ricardo Bueno Hida, 28, que instituiu há sete meses o "Promenade & Haute Couture", um extra em que, além de café da manhã no restaurante francês do hotel, o hóspede tem direito a oito horas de tour com motorista particular por lojas como Daslu, Louis Vuitton e Christian Dior. Tudo por um acréscimo de R$ 277, por pessoa, na diária.
Entre os argumentos usados pelas abastadas consumidoras para justificar a vinda a São Paulo está, em primeiro lugar, a possibilidade de comprar peças mais atuais. Elas reclamam que, nas multimarcas de suas cidades, só encontram rescaldo de coleções passadas. "É impressão delas", afirma Tânia Mortari, que reconhece um senão: "É claro que as peças nas multimarcas são do gosto do comerciante local. Mesmo em Nova York, você não vai achar toda a coleção da Prada (italiana). Se quiser, vai ter de ir a Milão."
A advogada goiana Stela Machado, 43, prefere vir a São Paulo. "Confesso que tenho preconceito com multimarca, porque me cheira à coleção passada ou sobra", diz ela. Em uma dessas vindas, desembolsou R$ 24 mil em um anel de ouro com brilhantes.
As grifes de luxo não parecem muito interessadas com o uso "errado" ou a possível queima de sua imagem por uma mulher desinformada. Se a cliente for boa pagante e o evento a que ela pretende ir não coincidir com uma sessão de compras paulistana, a loja despacha as roupas pelo correio.
"No dia 9 tenho uma confraternização de senadores em Brasília. Até estarei em São Paulo antes, mas vai ser muito corrido. Então, eles me mandaram um conjuntinho de saia e casaquinho Chanel "off-light" (branco sujo), mais o sapato e a bolsa", conta Maika, 42, mulher do senador Delcídio do Amaral (PT-MS).
No caso dela, que desenvolve um trabalho social com a população carente, existe um outro bom motivo para ir às compras longe da cidade onde mora. "Às vezes, não dá pra fazer tudo o que a gente gostaria em Campo Grande, porque passa imagem de arrogância, prepotência", explica.
A propósito, todas as mulheres entrevistadas nesta reportagem gostam de tratar "sua" vendedora por nome e sobrenome, como se a moça fosse também uma grife ambulante.


Leia a reportagem completa no site da Revista: www.uol.com.br/revista


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