São Paulo, segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

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"Crime é política de emprego mais eficaz do país"

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO

Para o juiz Guaraci Viana, 43, da 2ª Vara de Infância e Juventude do Rio, mais impressionante do que os relatos de crimes bárbaros cometidos por menores é constatar que, em pelo menos 40% dos casos, eles conseguem se recuperar. Juiz desde 1991, ele trabalha na área da infância e adolescência desde 1992 e recebe pelo menos 50 novos casos por dia de crimes cometidos por crianças e adolescentes.

 

Folha - O que leva o jovem ao tráfico?
Guaraci Vianna -
É a questão econômica que leva o jovem ao crime. Isso não é de hoje. O que mudou da década de 60 para cá foi o aumento da violência. Antes, no tráfico, o jovem era o aviãozinho, aquele que transportava droga, hoje é o vapor, aquele que vende em consignação para o traficante.

Folha - O adolescente vê o tráfico como uma possibilidade de emprego?
Vianna -
É a política de emprego mais eficiente de nosso país. Ela não discrimina na entrada, não exige qualificação prévia, tem um plano de carreira definido, garante remuneração satisfatória e dá esperança de que ele chegará ao topo. O jovem de 14 ou 15 anos pensa: o que eu vou ser quando crescer? Ele vê a realidade de colegas mais velhos e vê que não tem caminho melhor para ele do que o tráfico.

Folha - Mesmo crianças de 11 ou 12 anos?
Vianna -
Há 20 anos, as crianças de 10 ou 11 anos saíam para soltar pipa, jogar bola. Hoje, e isto é uma tendência mundial, esta fase da infância está suprimida. Os jovens têm a imaturidade da idade biológica, mas têm que se apresentar socialmente como uma pessoa segura, capaz e apta.

Folha -E no caso da menina de 13 anos que participou do ataque ao ônibus 350?
Vianna -
É um exemplo de falência das políticas públicas. O Estatuto da Criança e do Adolescente precisa ser cumprido. O artigo 4º garante destinação privilegiada de recursos às áreas de proteção à infância e à juventude. Qual o município deste país, qual o Estado, qual o governo que destinou recursos para a área da infância?

Folha - Como recuperar esses jovens?
Vianna -
Temos conseguido muitos casos de recuperação. Temos 17 projetos, com cerca de 3.000 jovens participando. Dos 6.000 que são condenados, metade não cumpre a pena por alguma razão. Dos 3.000 que cumprem, pelo menos 40% são recuperados. A maioria dos reincidentes não cumpriram a medida toda.


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