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"Crime é política de emprego mais eficaz do país"
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Para o juiz Guaraci Viana,
43, da 2ª Vara de Infância e
Juventude do Rio, mais impressionante do que os relatos de crimes bárbaros cometidos por menores é
constatar que, em pelo menos 40% dos casos, eles conseguem se recuperar. Juiz
desde 1991, ele trabalha na
área da infância e adolescência desde 1992 e recebe pelo
menos 50 novos casos por
dia de crimes cometidos por
crianças e adolescentes.
Folha - O que leva o jovem
ao tráfico?
Guaraci Vianna - É a questão econômica que leva o jovem ao crime. Isso não é de
hoje. O que mudou da década de 60 para cá foi o aumento da violência. Antes, no
tráfico, o jovem era o aviãozinho, aquele que transportava droga, hoje é o vapor,
aquele que vende em consignação para o traficante.
Folha - O adolescente vê o
tráfico como uma possibilidade de emprego?
Vianna - É a política de emprego mais eficiente de nosso país. Ela não discrimina
na entrada, não exige qualificação prévia, tem um plano
de carreira definido, garante
remuneração satisfatória e
dá esperança de que ele chegará ao topo. O jovem de 14
ou 15 anos pensa: o que eu
vou ser quando crescer? Ele
vê a realidade de colegas
mais velhos e vê que não tem
caminho melhor para ele do
que o tráfico.
Folha - Mesmo crianças de
11 ou 12 anos?
Vianna - Há 20 anos, as
crianças de 10 ou 11 anos
saíam para soltar pipa, jogar
bola. Hoje, e isto é uma tendência mundial, esta fase da
infância está suprimida. Os
jovens têm a imaturidade da
idade biológica, mas têm
que se apresentar socialmente como uma pessoa segura, capaz e apta.
Folha -E no caso da menina
de 13 anos que participou do
ataque ao ônibus 350?
Vianna - É um exemplo de
falência das políticas públicas. O Estatuto da Criança e
do Adolescente precisa ser
cumprido. O artigo 4º garante destinação privilegiada de
recursos às áreas de proteção à infância e à juventude.
Qual o município deste país,
qual o Estado, qual o governo que destinou recursos
para a área da infância?
Folha - Como recuperar esses jovens?
Vianna - Temos conseguido muitos casos de recuperação. Temos 17 projetos,
com cerca de 3.000 jovens
participando. Dos 6.000 que
são condenados, metade
não cumpre a pena por alguma razão. Dos 3.000 que
cumprem, pelo menos 40%
são recuperados. A maioria
dos reincidentes não cumpriram a medida toda.
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