São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 2009

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Agentes da dengue têm de
trabalhar a pé

Contrato entre a Prefeitura de São Paulo e empresa que fornecia cerca de 500 Kombis terminou em junho e não foi renovado

Funcionários contam que, em razão do peso, parte do material de trabalho é deixada nos postos de saúde e não é usada nas rondas

RICARDO WESTIN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde junho, os 2.400 agentes da Prefeitura de São Paulo que buscam e eliminam larvas e mosquitos da dengue não têm carro para fazer o trabalho. Como agora são obrigados a ir de casa em casa a pé, não conseguem cobrir a cidade inteira.
A prefeitura tinha contrato com uma empresa que fornecia ao redor de 500 Kombis com motorista à Secretaria Municipal da Saúde. O acordo terminou em junho passado, e não se contratou outra empresa.
Sem carro, a gestão Gilberto Kassab (DEM) determinou que os agentes de zoonoses percorram um raio de 1,5 km a partir de uma UBS (posto de saúde). "Muita casa fica com larvas não detectadas. A cidade está praticamente indefesa diante da dengue", alerta uma agente.
Como outros funcionários, ela falou com a Folha sob a condição de que não se publicasse seu nome.
A prefeitura admite que agentes trabalham a pé, mas diz que é temporário. De qualquer forma, afirma não ver prejuízo na prevenção da dengue.

Jogando dominó
Segundo o biólogo Paulo Roberto Urbinatti, da Faculdade de Saúde Pública da USP, as autoridades precisam aumentar o "esforço amostral para detectar mais casos positivos". "Não se pode deixar de visitar as casas."
Esta é a época do ano em que a detecção e o combate à dengue se fazem mais necessários. Perto do verão, as chuvas se tornam frequentes e as temperaturas sobem -água parada e calor propiciam o rápido desenvolvimento das larvas do mosquito Aedes aegypti.
Os agentes vão às casas passando um pente-fino em caixas d'água, jardins e quintais e desenhando um mapa das áreas mais críticas. Havendo larva, colocam veneno em pó. Encontrando mosquito, borrifam fumaça. Também ensinam a população a evitar água parada.
"Você anda demais. E ainda passa por morro, baixada e favela. Sem carro não dá", afirma um agente. "As meninas são as que mais sentem."
A Folha ouviu de outro funcionário que, em razão do peso, parte do material de trabalho acaba sendo deixada nos postos de saúde e não é utilizada nas rondas a pé. O material inclui sacos de larvicida, bombas de fumaça, potes para recolher larvas, redes para cobrir caixas d'água, frascos de álcool e pranchetas com formulários.
Assim que o contrato de transporte terminou, os agentes, segundo eles próprios contam, ficavam nas bases distribuídas pela cidade sem ter o que fazer: "Ficávamos lá, um olhando para a cara do outro, conversando ou jogando dominó". Só recentemente foram deslocados para as UBSs.
A cidade de São Paulo registrou 564 casos de dengue neste ano. As últimas duas mortes ocorreram em 2007.


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