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Agentes da dengue têm de
trabalhar a pé
Contrato entre a Prefeitura de São Paulo e empresa que fornecia cerca de 500 Kombis terminou em junho e não foi renovado
Funcionários contam que, em razão do peso, parte do material de trabalho é deixada nos postos de saúde e não é usada nas rondas
RICARDO WESTIN
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde junho, os 2.400 agentes da Prefeitura de São Paulo
que buscam e eliminam larvas e
mosquitos da dengue não têm
carro para fazer o trabalho. Como agora são obrigados a ir de
casa em casa a pé, não conseguem cobrir a cidade inteira.
A prefeitura tinha contrato
com uma empresa que fornecia
ao redor de 500 Kombis com
motorista à Secretaria Municipal da Saúde. O acordo terminou em junho passado, e não se
contratou outra empresa.
Sem carro, a gestão Gilberto
Kassab (DEM) determinou que
os agentes de zoonoses percorram um raio de 1,5 km a partir
de uma UBS (posto de saúde).
"Muita casa fica com larvas não
detectadas. A cidade está praticamente indefesa diante da
dengue", alerta uma agente.
Como outros funcionários,
ela falou com a Folha sob a
condição de que não se publicasse seu nome.
A prefeitura admite que
agentes trabalham a pé, mas
diz que é temporário. De qualquer forma, afirma não ver prejuízo na prevenção da dengue.
Jogando dominó
Segundo o biólogo Paulo Roberto Urbinatti, da Faculdade
de Saúde Pública da USP, as autoridades precisam aumentar o
"esforço amostral para detectar
mais casos positivos". "Não se
pode deixar de visitar as casas."
Esta é a época do ano em que
a detecção e o combate à dengue se fazem mais necessários.
Perto do verão, as chuvas se
tornam frequentes e as temperaturas sobem -água parada e
calor propiciam o rápido desenvolvimento das larvas do
mosquito Aedes aegypti.
Os agentes vão às casas passando um pente-fino em caixas
d'água, jardins e quintais e desenhando um mapa das áreas
mais críticas. Havendo larva,
colocam veneno em pó. Encontrando mosquito, borrifam fumaça. Também ensinam a população a evitar água parada.
"Você anda demais. E ainda
passa por morro, baixada e favela. Sem carro não dá", afirma
um agente. "As meninas são as
que mais sentem."
A Folha ouviu de outro funcionário que, em razão do peso,
parte do material de trabalho
acaba sendo deixada nos postos de saúde e não é utilizada
nas rondas a pé. O material inclui sacos de larvicida, bombas
de fumaça, potes para recolher
larvas, redes para cobrir caixas
d'água, frascos de álcool e pranchetas com formulários.
Assim que o contrato de
transporte terminou, os agentes, segundo eles próprios contam, ficavam nas bases distribuídas pela cidade sem ter o
que fazer: "Ficávamos lá, um
olhando para a cara do outro,
conversando ou jogando dominó". Só recentemente foram
deslocados para as UBSs.
A cidade de São Paulo registrou 564 casos de dengue neste
ano. As últimas duas mortes
ocorreram em 2007.
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