São Paulo, sábado, 12 de dezembro de 1998

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ACIDENTE
Cerca de 70 pessoas trabalhavam em fábrica de fogos clandestina na hora; 54 ficaram feridos em estado grave
Explosão em fábrica de fogos mata 20

José Simões/Correio da Bahia
Mulher que foi vítima da explosão em fábrica clandestina de fogos em Santo Antônio de Jesus é levada para atendimento no Hospital Geral do Estado, em Salvador


CHRISTIANNE GONZÁLEZ
da Agência Folha, em Salvador

LUIZ FRANCISCO
em Santo Antônio de Jesus (BA)

Pelo menos 20 pessoas morreram e outras 66 ficaram feridas (54 em estado grave) em consequência da explosão de uma fábrica clandestina de fogos de artifícios no final da manhã de ontem, em Santo Antônio de Jesus (BA). A explosão aconteceu no bairro de Costa Dajuara, na periferia da cidade.
Um galpão de 200 m2 -onde havia 1,5 tonelada de fogos- explodiu, provocando a morte imediata de 11 pessoas, segundo informações do 14º Batalhão da Polícia Militar de Santo Antônio de Jesus (184 km a oeste de Salvador).
Outros dois galpões foram atingidos parcialmente pela explosão. O comandante do 14º Batalhão da PM, tenente Souza Cruz, disse que cerca de 70 pessoas trabalhavam na fábrica na hora da explosão.
Até o início da noite de ontem, a perícia técnica não tinha divulgado as causas da explosão.
Os peritos apontam três causas como as mais prováveis para o acidente -fagulha de uma ponta de cigarro, calor excessivo dentro do galpão ou curto-circuito.
"Qualquer informação agora sobre a causa da tragédia seria precipitada. Precisamos esperar primeiro a divulgação do laudo dos peritos para uma conclusão definitiva", disse o tenente.
Após a explosão, cerca de 2.000 pessoas, segundo a PM, fizeram uma manifestação em frente à casa do empresário Oswaldo Bastos Prazeres, apontado por parentes das vítimas como o proprietário da fábrica clandestina.
"Os manifestantes estavam revoltados e queriam linchar o empresário", disse Cruz. Até o final da tarde de ontem, Prazeres não havia sido localizado pela polícia.
O delegado Suzano Sulivan Macedo de Carvalho disse que a fábrica não tinha licença para funcionar. "Nosso papel é manter a ordem pública. A concessão de alvarás de licenciamento é uma tarefa da prefeitura", disse o delegado.
Após a explosão, a Prefeitura de Santo Antônio de Jesus suspendeu o expediente para ajudar no trabalho de socorro às vítimas.
O delegado Carvalho disse, no final da tarde de ontem, que vai encaminhar inquérito à Justiça pedindo o indiciamento de Prazeres por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar).

Atendimento
Os feridos foram transportados inicialmente para o Hospital Luiz Argolo. Por falta de infra-estrutura (o hospital não dispõe de UTI), todos os 54 pacientes que apresentavam queimaduras de segundo e terceiro graus foram encaminhados para dois hospitais públicos em Salvador -Hospital Geral do Estado e Roberto Santos.
Até as 17h de ontem, 12 feridos permaneciam internados na UTI do Hospital Geral de Estado.
Para atender à demanda, a diretoria do HGE pediu a empresas de saúde e outros hospitais de Salvador a doação de remédios e materiais cirúrgicos utilizados em queimaduras graves.
"Parecia cena de guerra. Recebemos pacientes mutilados, desesperados e com crises de choro. Dos 54 pacientes transferidos para Salvador, oito não puderam nem mesmo ser reconhecidos, pela gravidade dos ferimentos", disse Sidnei Rodrigues Araújo, que trabalha no hospital.



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