São Paulo, segunda-feira, 13 de janeiro de 2003

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RELIGIÃO

Babalorixás pedem direito de resposta em programa da Rede Record

Pais-de-santo denunciam discriminação

LUIZ FRANCISCO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Conhecida em todo o Brasil pela sua diversidade religiosa, a população de Salvador tem acompanhado, nos últimos dias, uma verdadeira "guerra santa" entre pais-de-santo e pastores evangélicos, principalmente os ligados à Igreja Universal do Reino de Deus.
Desde o início da semana passada, oito babalorixás (pais-de-santo) ingressaram na Justiça com ações contra a igreja, exigindo direito de resposta no programa "Ponto de Luz", exibido pelas emissoras Itapoan (retransmissora da Record) e Cabrália (afiliada da mesma rede em Itabuna).
O programa, que vai ao ar de segunda a sexta-feira, utiliza símbolos e elementos do candomblé -quiabo cortado, vasilhames, água, farinha e óleo- para criticar a religião afrodescendente.
Apresentador do programa, o bispo Sérgio Corrêa também costuma entrevistar pessoas que, antes da conversão à Universal, afirmam ter participado de rituais de magia negra, feitiçaria e bruxaria em terreiros de candomblé.
O promotor da Justiça e Cidadania Lidivaldo Brito encaminhou no último final de semana um ofício à Rede Record, em Salvador, solicitando todas as fitas do programa desde o início do ano.
"Com a análise das fitas, vamos saber se os evangélicos estão realmente discriminando o candomblé", disse o promotor.
A Universal diz que só comentará sobre a ação dos pais-de-santo quando notificada pela Justiça.
Além do direito de resposta, os pais-de-santo também pedem uma punição aos responsáveis pelo programa. "A Constituição, em seu artigo 72, assegura a todos os brasileiros e residentes no país o livre exercício de qualquer culto religioso", afirmou o babalorixá Paulo Roberto Pinheiro, do terreiro Axé Ieié Yápondá Omim Onilê.
"O evangélicos querem segregar adeptos do candomblé. Não vamos aceitar. Mais do que isso, reagiremos à altura", disse o diretor do Ceao (Centro de Estudos Afro-Orientais), Ubiratan Castro.
Segundo a Federação Brasileira do Culto Afro, há cerca de 7.000 terreiros de candomblé na Bahia.


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