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SP 450
Pioneiros tiveram de improvisar para colocar no ar o programa "TV na Taba", da Tupi, o primeiro a ser transmitido no país
Falha técnica quase adiou a estréia da TELEVISÃO
KIYOMORI MORI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Estava tudo programado para a noite de
estréia: festa no Jockey Club, presença
do governador e até
mesmo missa celebrada pelo bispo. Só
não esperavam que
uma das duas únicas
câmeras existentes
no Brasil quebrasse
poucas horas antes
de ter início a primeira transmissão da TV
brasileira, em 18 de
setembro de 1950.
"Foi o maior pânico. O técnico que veio
dos EUA para acompanhar a estréia pediu que cancelassem
a transmissão. O risco de acabar em um
tremendo fiasco era
grande, mas o diretor
Cassiano Gabus
Mendes disse que
não, que tinha de
continuar de qualquer jeito", conta a
atriz Vida Alves, 75,
que presenciou a cena dos bastidores da
TV Tupi.
E foi assim, de improviso, com
uma só câmera, que o programa
de variedades "TV na Taba" entrou ao vivo no ar, e deu-se início
às transmissões da TV brasileira.
Apresentado por Homero Silva,
"TV na Taba" contou com a participação de Lima Duarte, Hebe Camargo, Mazzaropi, Ciccilo, Lia
Aguiar, Vadeco, Ivon Cury, Lolita
Rodrigues, Wilma Bentivegna,
Aurélio Campos, do jogador Baltazar e da orquestra de George
Henri.
"Ninguém tinha a menor idéia
do que seria uma transmissão de
TV até então, muito menos o que
era o conceito "ao vivo". A gente
achava que daria para espiar as
atrizes nos camarotes", lembra a
animada Vida, que hoje preside o
Museu da TV Brasileira.
Grávida de oito meses, Vida não
protagonizou o primeiro programa porque "seria muito deselegante aparecer com aquele barrigão naquela época". Mas também
não deixou de comparecer na TV
Tupi no dia. "Fiz questão, sabia
que presenciaria um momento
histórico", diz ela, que um ano
mais tarde protagonizaria, junto com o
ator Walter Forster
(1917-1996), o primeiro beijo na TV
brasileira, na novela
"Sua Vida me Pertence", de 1951.
Todo o equipamento, fabricado pela RCA, havia sido
importado dos EUA
por Assis Chateaubriand, dono do grupo Diário Associados e da TV Tupi.
Quando o material
chegou a Santos, em
25 de março, uma
comitiva das rádios
Tupi e Difusora foi
ao porto receber a
parafernália, trazendo-a para um desfile
no centro da capital.
Depois dos EUA,
Inglaterra e França, o
Brasil seria o quarto
país do mundo a ter
uma transmissora de
televisão. "Era a
grande sensação, estávamos na vanguarda, e o Brasil todo ficou curioso em relação à novidade."
A transmissão aconteceu de um
estúdio montado na avenida Alfonso Bovero, onde funciona
atualmente a MTV. Uma outra
antena de retransmissão foi instalada no prédio Altino Arantes
(onde hoje fica o Banespa, no centro de São Paulo).
Como não havia aparelhos de
televisão, Chateaubriand mandou
importar 200 televisores e os espalhou em lugares públicos para
que as pessoas pudessem acompanhar a transmissão. O Jockey
Club e o saguão do prédio da Diários Associados, na rua Sete de
Abril, foram alguns dos locais escolhidos para se instalar os aparelhos públicos.
Mas o maior problema ainda estava por vir. "Quando acabou a
transmissão, que durou pouco
mais de uma hora, o Cassiano
perguntou: "E amanhã, o que a
gente vai passar?". Esse era o problema, ninguém havia pensado
no dia seguinte", lembra Vida, aos
risos. A solução foi buscar, em
universidades e bibliotecas, filmes
educativos para as transmissões,
que passaram a acontecer diariamente das 18h às 23h.
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