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"As pessoas têm medo de mim"
da Reportagem Local
O menino A.M., 16, mora nas
ruas de São Paulo há dois anos e
sobrevive com cerca de R$ 5 que
consegue arrecadar por dia pedindo esmolas pela cidade.
M. diz que tem dois pontos preferidos para pedir trocados, perto
de onde costuma ficar até a 1h:
uma lanchonete da rede McDonalds e uma Blockbuster. Os dois
lugares ficam na região de Pinheiros, na zona sudoeste.
Apesar de passar suas noites na
frente de estabelecimentos que ficam abertos até a meia-noite, o
adolescente fala que consegue ganhar dinheiro mais facilmente pela manhã.
Ele explica: "As pessoas têm
medo de mim à noite. Elas me
vêem sujo e me tratam mal. Muitas vezes ameaçam chamar a polícia quando eu chego perto."
M. parou de estudar na terceira
série do ensino fundamental. Passa o dia perambulando pelas ruas
e, quando não consegue dinheiro
suficiente para comer, procura
entidades assistenciais.
Uma de suas únicas diversões é
assistir filmes do lado de fora da
videolocadora, onde costuma pedir esmola. Ele só consegue
acompanhar as imagens, mas diz
que "normalmente dá para entender alguma coisinha."
M. afirma que seu sonho é se
tornar um cientista. A inspiração
surgiu de um dos filmes vistos pelo vidro da videolocadora. "Deve
ser muito legal porque é possível
aprender e descobrir várias coisas", afirma.
Irmãos
Os irmãos L.C.M., 14, a menina
I.M.M., 12, e o caçula J.M., 7, trabalham em média sete horas por
dia para sustentar a família.
O pai das crianças morreu e a
mãe fica em casa cuidando de outros dois filhos menores no barraco da família.
Os três moram perto da estrada
do M" Boi Mirim, no extremo da
zona sul de São Paulo, e pegam
dois ônibus para chegar em uma
das travessas da avenida República do Líbano, em Moema, na zona sudoeste.
Os irmão saem de casa na parte
da tarde, depois da escola, e chegam por volta das 17h no "ponto
de trabalho".
Teoricamente, os três vão para a
rua vender balas. Mas dificilmente encontram compradores e conseguem dinheiro pedindo "dez
centavos só para ajudar" aos motoristas.
Segundo o irmão mais velho, J. é
o campeão de arrecadação. Consegue R$ 10 por noite.
L., responsável pelos irmãos
menores, diz que não vê perigo na
atividade.
"Aqui não tem perigo. Eles obedecem e tomam cuidado na hora
de atravessar na frente dos carros", disse L. "Na volta para casa,
também é tranquilo. Ninguém
mexe com a gente."
(GN)
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