São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2000


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J., 3, acompanha a mãe na mendicância

ALESSANDRO SILVA
da Reportagem Local

MARLENE BERGAMO
repórter fotográfica

O pequeno J. S., 3, acompanha a mãe há quase um ano em um dos pontos de mendicância da capital. O motivo é o apego, explica a mãe, Tatiana dos Santos, 18. Acorda tarde todos os dias e vai dormir sempre de madrugada, ao retornar da rua.
Os dois moram em Osasco (Grande São Paulo) e viajam de segunda a sexta para São Paulo. O destino é a praça Panamericana, na zona sudoeste da cidade.
J. toma banho na casa dos avós, troca de roupa e recebe uma mamadeira antes de sair para o compromisso, às 18h. Na sacola a mãe leva uma blusa e um pouco de leite -o lanche da madrugada para o garoto.
O turno de trabalho começa depois das 19h, após quase uma hora dentro do ônibus. A Folha acompanhou um dia na vida dos dois, na semana passada.
No caminho, a garota revela que sente vergonha do que faz. ""Mas foi o único jeito que achei para botar comida na mesa de casa."
Demitida de uma fábrica de autopeças, há um ano, a garota descobriu um supermercado 24 horas conversando com uma tia. Tatiana é a mais velha de dez irmãos, cujo pai, o único empregado, ganha cerca de R$ 240 por mês.
A essência desse subemprego é esperar as idas e vindas de quem compra no supermercado. Do lado de fora, os dois esperam que alguém estacione o carro e o abordam. Às vezes, o contato é feito na saída. O que muda, nas duas situações, é o tipo de esmola. No primeiro caso é em dinheiro. No outro, em alimentos.
A chuva atrapalhou a noite dos dois, considerada uma das mais rentáveis por ser próxima do final de semana. ""Não fizemos nem para o ônibus", diz Tatiana.
Na sacola, porém, estão cinco quilos de arroz, um de feijão, um frango inteiro, dois pacotes de bolacha e um litro de leite -a refeição do dia seguinte.
Foram os alimentos que convenceram a família a tolerar a idéia de Tatiana. ""No começo, minha mãe ficou sem falar comigo uma semana", diz.


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