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URBANIDADE
Design da periferia
GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA
Um dos principais designers gráficos brasileiros, o
arquiteto Rafic Farah deixou
sua assinatura em projetos de
marcas sofisticadas de lojas e de
restaurantes, em revistas e em
produtos. Depois de ter criado o
projeto gráfico da revista "Trip"
e as logomarcas da Zoomp e do
restaurante Spot, quer disseminar a arquitetura e o design pela
periferia de São Paulo.
Ele está envolvido com um
grupo de professores da "Escola
da Cidade", uma faculdade de
arquitetura que pretende fazer
da sombria periferia um ateliê
de rua. Dentro da grade curricular da faculdade, professores
orientam os alunos a desenvolver com a comunidade áreas de
convivência. Um dos programas,
em parceria com a revista
"Trip", está sendo realizado no
Jardim Ângela, uma das regiões
mais violentas do Brasil. Ali se
desenhou uma quadra de esportes combinada com um centro
de convivência comunitária, cercada por palmeiras. Delimitou-se, assim, uma nova perspectiva
de paisagem, com a criação de
um oásis visual. "Criar espaços
de lazer e de convivência ajuda a
combater a violência. É tarefa de
uma faculdade de arquitetura
ajudar os moradores das regiões
abandonadas a serem protagonistas urbanos e a melhorarem
seu próprio espaço", diz Rafic.
Sua filosofia é estimular que os
alunos façam da cidade uma escola. Os projetos buscam integrar os conhecimentos ministrados, evitando que sejam fragmentados, dispersos, reféns de
uma grade curricular. A idéia
não é trabalhar disciplinas, mas
temas articuladores. Isso é feito
por diferentes professores, mas
sempre com ênfase na realização
de projetos experimentais, entre
os quais estão em andamento o
da recuperação de áreas abandonadas ou descuidadas do
Horto Florestal e ações em parceira com a associação Sou da
Paz. "Faculdade sem experiência não é faculdade", resume.
Paulistano apaixonado, Rafic
foi convidado na semana passada para desenvolver num restaurante um design de sanduíche. Certamente essa não é uma
tarefa para um arquiteto, mas
talvez para um filho de Jorge Farah, que entrou na história da cidade justamente por causa de
um sanduíche. Comerciante,
boêmio, cantor, instrumentista,
Jorge adorava cozinhar. Em
1952, num barzinho em São
Paulo chamado Dunga, criou o
hoje popular "beirute", que, da
cidade, se espalharia pelo Brasil.
"Quero ver se mantenho a tradição familiar", brinca, ainda sem
saber que ingredientes usar.
E-mail - gdimen@uol.com.br
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