São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2002

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URBANIDADE

Design da periferia

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

Um dos principais designers gráficos brasileiros, o arquiteto Rafic Farah deixou sua assinatura em projetos de marcas sofisticadas de lojas e de restaurantes, em revistas e em produtos. Depois de ter criado o projeto gráfico da revista "Trip" e as logomarcas da Zoomp e do restaurante Spot, quer disseminar a arquitetura e o design pela periferia de São Paulo.
Ele está envolvido com um grupo de professores da "Escola da Cidade", uma faculdade de arquitetura que pretende fazer da sombria periferia um ateliê de rua. Dentro da grade curricular da faculdade, professores orientam os alunos a desenvolver com a comunidade áreas de convivência. Um dos programas, em parceria com a revista "Trip", está sendo realizado no Jardim Ângela, uma das regiões mais violentas do Brasil. Ali se desenhou uma quadra de esportes combinada com um centro de convivência comunitária, cercada por palmeiras. Delimitou-se, assim, uma nova perspectiva de paisagem, com a criação de um oásis visual. "Criar espaços de lazer e de convivência ajuda a combater a violência. É tarefa de uma faculdade de arquitetura ajudar os moradores das regiões abandonadas a serem protagonistas urbanos e a melhorarem seu próprio espaço", diz Rafic.
Sua filosofia é estimular que os alunos façam da cidade uma escola. Os projetos buscam integrar os conhecimentos ministrados, evitando que sejam fragmentados, dispersos, reféns de uma grade curricular. A idéia não é trabalhar disciplinas, mas temas articuladores. Isso é feito por diferentes professores, mas sempre com ênfase na realização de projetos experimentais, entre os quais estão em andamento o da recuperação de áreas abandonadas ou descuidadas do Horto Florestal e ações em parceira com a associação Sou da Paz. "Faculdade sem experiência não é faculdade", resume.
Paulistano apaixonado, Rafic foi convidado na semana passada para desenvolver num restaurante um design de sanduíche. Certamente essa não é uma tarefa para um arquiteto, mas talvez para um filho de Jorge Farah, que entrou na história da cidade justamente por causa de um sanduíche. Comerciante, boêmio, cantor, instrumentista, Jorge adorava cozinhar. Em 1952, num barzinho em São Paulo chamado Dunga, criou o hoje popular "beirute", que, da cidade, se espalharia pelo Brasil. "Quero ver se mantenho a tradição familiar", brinca, ainda sem saber que ingredientes usar.

E-mail - gdimen@uol.com.br



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