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São Paulo, quinta-feira, 13 de fevereiro de 2003

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AMBIENTE

Decreto presidencial atende a uma deliberação do Tribunal Arbitral do Mercosul e autoriza compras de países vizinhos

Lula libera importação de pneus usados

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Decreto assinado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva libera de cobrança de multa a importação de pneus reformados dos países do Mercosul. A compra desse tipo de pneu, assim como de pneus usados não-recauchutados, está proibida oficialmente no Brasil sob pena de multa de R$ 400 por pneu importado nessas condições que viesse a ser comercializado, transportado ou armazenado no país.
Objeto de negociação coordenada pela Casa Civil da Presidência e publicado na edição de ontem do "Diário Oficial" da União, o decreto pode ser interpretado como um ponto a favor do pesado lobby favorável à liberação da importação de pneus usados.
As tentativas de conter o negócio -proibido por resolução do Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) desde 1996 e sujeito a multa imposta por decretos que regulamentam crimes ambientais- vêm esbarrando em liminares concedidas pela Justiça.
Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, o mesmo que editou norma proibindo a concessão de licença de importação de pneus usados (recauchutados ou não), o Brasil importou no ano passado 23 mil toneladas de pneus usados não-recauchutados, principalmente de países do Primeiro Mundo, além de 7,2 toneladas de pneus reformados.
Entre 2000 e 2001, foram importadas mais de 35 mil toneladas de pneus usados, ainda de acordo com dados da balança comercial.
O decreto de Lula, que também tem a assinatura do chanceler Celso Amorim, acata um laudo de setembro do ano passado do Tribunal Arbitral do Mercosul, a partir de uma reclamação do Uruguai.
O tribunal decidiu que não cabiam restrições dessa natureza ao comércio entre países do bloco integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
A expectativa é que as importações desses dois últimos países cresçam em consequência do decreto presidencial.
O processo no Mercosul (disponível na página eletrônica do Itamaraty) reproduz os principais argumentos do governo brasileiro contra a importação de pneus usados ou remodelados.
"As análises técnicas realizadas pela indústria automotiva brasileira demonstram que os pneumáticos remoldados apresentam uma performance de rendimento entre 30% e 60% inferior a um pneumático novo, além de terem vida útil reduzida (...), acabando por transformar-se num "resíduo indesejável'", diz o texto.
O Ministério do Meio Ambiente ainda não concluiu a avaliação dos desdobramentos do decreto presidencial, mas acredita que a discussão não está encerrada.
O ministério quer discutir não apenas mecanismos mais eficientes para tentar conter a importação de usados, como encontrar um destino para os pneus que rodam no país.
O lobby a favor da liberação da importação de usados é comandado pela empresa BS Colway Remoldagem de Pneus Ltda, instalada na região metropolitana de Curitiba (PR). A empresa começou a importar pneus usados em 91 e alega que os estrangeiros são melhores e mais baratos do que os usados brasileiros.
Nos últimos anos, o lobby atuou principalmente no Congresso, onde conseguiu conter a aprovação de projetos que proibiam a importação de pneus usados.


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