|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MORTE DE DENTISTA
Acusados confessam que forjaram provas do crime e omitiram informações; três deles são negros
PMs negam racismo e alegam gesto brusco
DO "AGORA"
DA REPORTAGEM LOCAL
Os cinco policiais militares acusados de matar o dentista Flávio
Ferreira Sant'Ana, 28, no dia 3, em
Santana (zona norte de São Paulo), assumiram ontem, em depoimento à Polícia Civil, que forjaram as provas do crime e omitiram informações ao registrarem o
boletim de ocorrência, mas negam que tenham agido movidos
por racismo.
A estratégia da defesa do grupo
é dizer que foi um homicídio culposo (sem intenção de matar).
Dessa maneira, a pena pode ser de
três anos -caso o homicídio seja
considerado doloso (intencional),
pode chegar a 12. "Eles armaram
[a versão inicial de resistência à
prisão] para tentar escapar do flagrante, mas confessaram tudo. O
dentista foi morto porque fez um
movimento brusco, e não por ser
negro", disse, ontem, o advogado
Marcos Ribeiro de Freitas.
A família do dentista diz que ele
foi abordado devido à sua cor. Segundo o advogado, três dos cinco
PMs são negros: o tenente Carlos
Alberto de Souza Santos, 34, e os
soldados Ivanildo Soares da Cruz,
35, e Davis Júnior Lourenço, 24.
O grupo diz que um dos soldados disparou contra o dentista
porque, ao ser abordado pelos policiais, "ele [Flávio Sant'Ana] virou de forma brusca, fazendo entender que iria puxar uma arma".
O cabo Ricardo Arce Rivera, 27,
disse que "plantou" a arma do crime junto ao dentista para simular
resistência à prisão. Segundo o
advogado, foi Rivera quem colocou a carteira do comerciante Antônio Alves dos Anjos, 29, no bolso do dentista -Anjos confundiu
Sant'Ana com um assaltante. O
advogado também defende o soldado Luciano José Dias, 24, que
teria disparado contra o dentista.
No depoimento, os PMs contaram que, após deixarem o dentista no pronto-socorro do hospital
Santana, seguiram ao 13º Distrito
Policial, onde apresentaram a versão falsa temendo "sanções administrativas".
Freitas pedirá, na próxima semana, o relaxamento da prisão de
Cruz e Lourenço, que teriam apenas ajudado a criar a versão falsa.
Junto a Santos -que abordou
Flávio e teria disparado contra o
chão-, Dias e Rivera -que teria
permanecido no carro-, estão
presos em um presídio da PM.
O deputado Renato Simões
(PT) afirmou ontem que a partir
de terça-feira irá coletar assinaturas para a instalação da "CPI da
violência policial". Presidente da
Comissão de Direitos Humanos
da Assembléia Legislativa, ele se
reuniu ontem com o promotor
Carlos Cardoso, assessor de Direitos Humanos do Ministério Público Estadual, e representantes
da Ouvidoria da Polícia.
Texto Anterior: Trem colide com pedra em Minas Próximo Texto: Santos: Policiais são acusados de extorsão Índice
|