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PATRIMÔNIO ESQUECIDO
Com obras de restauro ainda em andamento, imóvel abrigará Museu da Energia de São Paulo
Casarão Santos Dumont abrirá em março
RICARDO BRANDT
DA REDAÇÃO
Esquecido na memória dos
paulistanos, o casarão da família
Santos Dumont, na esquina das
alamedas Cleveland e Nothmann,
está prestes a ser aberto ao público como museu, ainda com as
obras de restauro em andamento.
Construído em 1890, o prédio
pertenceu a Henrique Santos Dumont, irmão do aviador Alberto
Santos Dumont. O pai, Henrique
Dumont, era conhecido como
"Rei do Café". A família era uma
das mais ricas da época.
O casarão foi construído no
Campos Elíseos, primeiro bairro
planejado da cidade de São Paulo
e berço da aristocracia cafeeira do
final do século 19. O local era estratégico para os barões do café
devido à proximidade com a estação de trem da Luz -que dava
acesso ao porto de Santos e às fazendas no interior do Estado.
Desde que os membros da oligarquia começaram a deixar o
Campos Elíseos, ainda nas primeiras décadas do século 20, dando espaço a hotéis, pensões e cortiços, o bairro entrou em processo
de degradação gradativa.
O casarão ainda sobreviveu incólume por mais da metade do século. Depois de ser vendido pela
família Santos Dumont, em 1926,
o imóvel abrigou o colégio interno feminino Stafford, de 1926 a
1951, e a primeira sede da Sociedade Pestalozzi, de 1952 a 1983.
Foi a partir de então que o prédio, símbolo da riqueza gerada
pelo café, passou a ser deteriorado. Os ornamentos luxuosos vindos da Europa foram parcialmente perdidos ou saqueados.
Com os portões fechados e o
prédio desocupado, o espaço foi
invadido três vezes por grupos de
sem-teto entre 1983 e 1997.
De 1997 a 2001, o casarão abrigou cerca de 400 famílias. O antigo bairro, o primeiro a ter arruamento em São Paulo, foi ocupado
por traficantes e ficou conhecido
como a "Cracolândia".
Foi em 2001, quando o Estado
conseguiu desocupar definitivamente o casarão e cedeu o imóvel
para a Fundação Patrimônio Histórico da Energia de São Paulo,
que o prédio que parecia fadado à
demolição, como tantos outros
casarões do século 19, começou a
ser recuperado.
O complexo de prédios virará a
partir de março o Museu da Energia de São Paulo, que terá como
temática a história da energia ligada à urbanização de São Paulo e as
fontes alternativas de energia.
Há ainda um projeto do Estado
de integrar um bonde que trafegaria pela região da Luz e teria como
um dos pontos finais o pátio do
casarão Santos Dumont.
O renascimento
O imóvel, que foi construído pelo escritório do arquiteto Ramos
de Azevedo, entrou em processo
de restauração em 2001.
No terreno de 3.100 m2 há outros três prédios construídos posteriormente durante o período de
colégio. Dois deles também estão
em processo de restauração e outro será demolido.
Durante os anos em que foi
transformado em favela, e mesmo
no período em que virou colégio e
entidade social, muitas das ornamentações e características arquitetônicas do imóvel foram alteradas ou danificadas.
"Os mais afetados foram o piso,
tanto o de madeira como os ladrilhos, e o forro. Houve muitos focos de incêndio dentro do casarão
e também a presença de cupim",
explica a arquiteta Mariana de
Souza Rolim, responsável pela
restauração.
O casarão foi construído em estilo eclético com amplos jardins, o
que já o diferenciava dos outros
prédios erguidos na época em estilo colonial. A pintura decorativa
que preenche as paredes de seus
13 cômodos e dois pavimentos é
toda em estilo art nouveau.
No processo de restauro, todas
essas pinturas decorativas foram
encontradas e ainda serão restauradas numa segunda fase.
"Fizemos janelas [espécie de
abertura feita retirando as outras
camadas de tintas que sobrepuseram a original] para que as pessoas possam ver como eram as
pinturas das paredes. A partir disso os restauradores reconstituem
todos os desenhos", disse Rolim.
Dificuldades
Em setembro de 2003, o projeto
de restauração foi modificado e a
obra dividida em três etapas. Nesta primeira, serão entregues as
restaurações do casarão (que
abrigará o museu) e do segundo
prédio principal (que abrigará a
administração da fundação).
A divisão em etapas foi a forma
encontrada pela equipe de restauro para conseguir dar prosseguimento a obra sem mais percalços.
O projeto de restauração já consumiu R$ 4 milhões. Foram R$ 1,5
milhão de fundos próprios da entidade na primeira etapa e outros
R$ 2,5 milhões conseguidos por
meio de parcerias com o setor privado no ano passado.
A obra, no entanto, caminhou
lentamente por longo período e
chegou a parar em 2003 devido a
falta de verbas.
Agora, o casarão será aberto oficialmente em março ainda com a
restauração inconclusa para facilitar a captação de novos recursos.
"Foi uma forma que encontramos de conseguir captar mais verba e também para poder oferecer
ao público a oportunidade de conhecer como se recupera uma
pintura de mais de um século",
explica Rolim.
É que toda característica arquitetônica do casarão foi recuperada nesta primeira fase, mas as
pinturas internas que ornamentavam o imóvel não. Elas foram encontradas e serão restauradas
com o museu já aberto, o que permitirá ao público acompanhar a
realização do trabalho.
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