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Ladrão finge ser judeu ortodoxo, mas é preso
Foragido de uma penitenciária, homem assaltou casa de rabino nos Jardins e tentou fugir usando o chapéu da vítima
Policial militar chegou após rabino pedir ajuda em ídishe a um amigo e desmascarou ladrão fazendo perguntas sobre a religião judaica
LAURA CAPRIGLIONE
KLEBER TOMAZ
DA REPORTAGEM LOCAL
A tentativa de Reinaldo Rodrigues, 30, de se passar por um
judeu ortodoxo não durou mais
do que cinco minutos. Após
roubar R$ 15 mil em dinheiro
(dólares, reais e cheques), relógios, telefones e equipamentos
eletrônicos da casa de um rabino, anteontem à noite nos Jardins, bairro nobre de São Paulo,
o bandido apropriou-se de um
chapéu da vítima e, achando-se
com cara de judeu, tentou fugir.
Caminhou 300 m pela rua
Haddock Lobo, onde a vítima
mora, até a al. Franca. Lá, foi
preso em flagrante pelo sargento da Polícia Militar André Mario Destro, que o desmascarou.
Foragido de uma penitenciária, Rodrigues é loiro, tem 1,70
m e olhos verdes. O biotipo europeu até enganaria um desavisado. Mas, azar, ele topou com
um PM sabido sobre judaísmo,
apesar de espírita.
O sargento Destro notou, por
exemplo, que o homem do chapéu usava um terno claro -religiosos judeus usam vestimentas escuras-, não tinha barba
nem peiót -cachinhos ao lado
das orelhas. Estranho.
"Me ajude"
O bandido trapalhão começou a se enrolar logo no assalto.
Quando rendeu o rabino, que
voltava para casa, às 21h45, Reinaldo estava em companhia de
outros dois comparsas. O religioso judeu disse para os assaltantes levarem o que quisessem e irem embora rápido, porque receberia uma visita. A mulher do rabino viajava. Os filhos
estavam ausentes.
O carro do amigo estacionou
na frente da casa, e os bandidos
mandaram o rabino ligar para
ele e mandá-lo embora. Em
português, o rabino disse: "Tira
o carro daqui que tem pessoas
que estão comigo, e eu não queria que você as visse".
A vítima geralmente dá consultas religiosas em sua casa.
Algumas pessoas não gostam
de ser vistas, o que o colega já
sabia. Mas, no fim da conversa,
o rabino emendou em ídishe
(dialeto usado por parte dos judeus da Europa): "Me ajude".
O amigo entendeu o recado,
saiu com o carro e ligou para o
190 da PM por volta das 23h.
O sargento Destro e um colega foram averiguar a informação. Chegando lá, viram Rodrigues, já fora da casa, andando
apressado com um chapéu preto na cabeça. Ele também arrastava uma bolsa esportiva de
náilon. "Achei estranho. Ele
transpirava demais e carregava
aquela bolsa enorme, maior do
que ele", disse Destro.
Os outros dois comparsas haviam saído antes e levado
R$ 5.000 e US$ 1.000. Mas Rodrigues quis ficar. Ao sair, por
último, foi abordado por Destro, que lhe perguntou por que
ele usava um chapéu com aba
larga à noite. Rodrigues respondeu que o chapéu era dele e
que era judeu. "Mas achei toda
a cena muito esquisita e perguntei quem era o líder máximo da religião judaica, qual o
dia do jejum e qual o Dia do
Perdão. E ele não respondeu
nenhuma questão."
O PM então apontou para a
imagem de um candelabro de
sete velas que aparecia em uma
moeda encontrada em poder
do ladrão. Perguntou qual o nome da peça. Rodrigues ficou
mudo. "Eu disse: "Prazer, isso
aqui é uma menorá, um dos
símbolos mais fortes do judaísmo. Eu vou ter que verificar sua
bolsa, meu amigo'", contou o
PM Destro, que deve seus conhecimentos da religião mosaica ao tempo em que trabalhou
no bairro do Bom Retiro, um
reduto tradicional de judeus na
cidade de São Paulo.
Na bolsa encontrada com o
ladrão, o sargento achou um
laptop, aparelhos de telefone
sem fio, jóias, relógio e moedas
antigas. Na cueca, estavam escondidos US$ 200. Outros
R$ 3.000 estavam na bolsa.
Segundo o PM, o ladrão, que
portava um revólver de brinquedo, confessou o crime.
"Disse que usou chapéu para
não chamar a atenção de ninguém, mas foi justamente o
contrário", lembra Destro.
De acordo com o PM, a ficha
criminal de Rodrigues tem
mais de cinco metros. Ele cumpria pena em regime semi-aberto. Tinha mais quatro anos
a cumprir pelos crimes de homicídio, furto e roubo.
À polícia o religioso contou
que foi amarrado e agredido na
cabeça. A Folha tentou entrevistar o rabino, mas ele não
quis dar entrevista nem quis
que seu nome fosse divulgado.
Rodrigues não tinha advogado
constituído ontem.
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