São Paulo, Sábado, 13 de Fevereiro de 1999
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Costureiras, carpinteiros, ferreiros, pintores, aderecistas e faxineiros aumentam seus rendimentos em até 400% trabalhando nos barracões entre outubro e fevereiro
Escolas do Rio geram mais de 5.000 empregos diretos

RITA FERNANDES
da Sucursal do Rio

Em época tradicionalmente marcada pela escassez de emprego em quase todas as áreas, as 14 escolas de samba do Grupo Especial no Rio geram, a partir de outubro, mais de 5.000 empregos diretamente ligados ao desfile.
Para ferreiros, carpinteiros, pintores, escultores, decoradores, costureiras, aderecistas, chapeleiros, porteiros e faxineiros, os barracões são uma fonte certa e rentável de trabalho nesta época do ano.
Em 99, no entanto, a crise econômica e o desemprego aumentaram significativamente a oferta de mão-de-obra, segundo o diretor de barracão da Portela, Wilson Ferreira, e o carnavalesco da Mangueira, Alexandre Louzada.
"Fui obrigado a dizer não a cerca de 30 pessoas por dia no mês de janeiro", diz Louzada.
Atingidas também pelas medidas econômicas e pela recessão, as escolas foram obrigadas a reduzir o número de pessoas contratadas. "Procuramos não alterar os salários, mas tivemos que diminuir o número de profissionais", afirma.
Segundo o carnavalesco da Mangueira, houve um corte de 35% na folha de pagamento de pessoal de 98 para 99.
"Essa situação está exigindo um esforço de criatividade de carnavalescos e diretores de barracão", completa o diretor da Portela, responsável por todas as compras e contratações.

Mão-de-obra
Mas essa mão-de-obra que procura trabalho nas escolas não é composta apenas de desempregados. Há pessoas que vão em busca de salários maiores do que os praticados no mercado formal.
Um porteiro, por exemplo, que tem salário-base de R$ 170,00 no Rio, recebe no barracão R$ 400,00 mensais líquidos. O mesmo acontece com as costureiras, que aumentam em quase 400% seus rendimentos. Elas passam dos R$ 256,27 (salário-base) pagos nas fábricas e confecções para R$ 800.
Essa mão-de-obra sazonal é composta ainda por outros tipos de pessoas, como menores, mulheres grávidas, aposentados, autônomos e até militares que buscam complementação salarial.
Simone Maria dos Santos, 23, costureira da Viradouro, foi demitida recentemente e está grávida de três meses. Está na escola desde dezembro, onde recebe R$ 400.
Fábio de Melo, 17, conseguiu seu primeiro emprego na Viradouro, onde trabalha com silk-screen, desde janeiro. O salário é de R$ 240. "Muito mais do que imaginava que pudesse ganhar. Vai dar para ajudar em casa", afirma.
Os aderecistas da escola, André Luiz Oliveira, 27, e Dilceir Borges, 28, vão ainda mais longe. "O Carnaval é o único mercado de trabalho nesta época do ano, no Rio de Janeiro", afirma Borges.
Mas, segundo eles, o Rio começa a perder para São Paulo nesse setor. "Muitos amigos nossos, que também trabalham com adereços, foram trabalhar em escolas paulistas", conta André.
Os dois dizem que escolas como Vai-Vai e Gaviões da Fiel estão pagando aos aderecistas três vezes mais que no Rio.
Mas não são só as escolas de samba que movimentam o mercado de trabalho no Rio nesta época do ano. Segundo cálculos da Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba), cerca de 40 mil pessoas têm trabalho direto ou indireto relacionado ao Carnaval.
Desse total, quase 50% estão diretamente ligadas aos trabalho de barracão (do Grupo Especial aos grupos de acesso) e ao pessoal contratado pela Riotur, a empresa municipal de turismo do Rio.


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