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MÁFIA DA PROPINA
Caso chegou ao conhecimento da administradora da Sé; funcionária suspeita disse que cometeu "lapso"
Telefonema levou a papéis escondidos
DA REPORTAGEM LOCAL
O sumiço dos processos começou a ser desvendado por uma ligação anônima recebida em dezembro pela regional da Sé. Nela,
o denunciante dizia que uma funcionária escondia dezenas de processos irregularmente em seu armário pessoal na regional.
A funcionária não será identificada pela Folha a pedido da Ouvidoria Geral, já que o órgão não
tem poder para instaurar inquérito e, por enquanto, toda a investigação existente é preliminar. No
armário, estavam 64 processos. O
mais antigo, de 1982. O mais recente datava do ano passado.
A administradora regional da
Sé, Clara Ant, encaminhou o caso
à ouvidoria. Nos processos, havia
dezenas de folhas faltantes. No
cruzamento dos dados escritos
nos autos com o que consta sobre
o processo no sistema informatizado da prefeitura, descobriu-se
que Habite-se e alvarás haviam sido expedidos sem autorização.
No dia 18 de fevereiro, então, o
delegado da ouvidoria e técnicos
da Secretaria de Gestão Pública
-que fazem uma listagem oficial
de processos extraviados- fizeram uma blitz na Sé. Dos 18.167
procedimentos que deveriam estar no órgão, apenas 13.737 foram
localizados. Dos 4.430 sumidos,
porém, 1.301 não estavam registrados na lista oficial de extravios
mantida pela Gestão Pública.
A ouvidoria decidiu, então, fazer buscas em todas as regionais.
Depois da Sé, a primeira ocorreu
na semana passada na Vila Mariana. Lá, dos 12.557 processos que
deveriam estar em trâmite, 3.084
sumiram e não estão na lista oficial de extraviados. Até ontem, a
Gestão Pública não informara
quantos são os procedimentos
desaparecidos oficialmente.
Linha direta
A funcionária responsável pelas
irregularidades nos 64 processos
já encontrados na Sé tinha uma linha direta informatizada com o
"Diário Oficial" do município.
A administradora regional da Sé
informou que é comum alguns
funcionários terem acesso on-line
ao "Diário Oficial", mas cada um
tem uma senha, o que torna possível sua identificação.
Por ela, determinava as publicações de alvarás e Habite-se, ignorando despachos de seus superiores. Em depoimento à ouvidoria,
ela tentou explicar o que ocorrera.
Em alguns casos, disse que não
sabia que o procedimento estava
em seu armário ou que não tomara as providências determinadas
-algumas havia cinco anos-
por sobrecarga de trabalho.
Em outros, afirmou que houve
algum "lapso" de sua parte ou que
não se lembrava de ter tomado
tais providências irregulares.
Por fim, afirmou que emitira alguns dos documentos com base
em autorizações verbais de seus
superiores ou em despachos que
deveriam estar exatamente nas
folhas que faltam nos autos. A
funcionária, depois da descoberta
dos processos, entrou em férias.
(SÍLVIA CORRÊA e CHICO DE GOIS)
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