São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 2002

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URBANIDADE

Prostitutas viram modelo de civilidade

GILBERTO DIMENSTEIN
COLUNISTA DA FOLHA

A uto-intituladas as "mariposas da Luz", as prostitutas que frequentam o parque da Luz submeteram-se a uma experiência social e agora servem de modelo para melhorar o Ibirapuera e o Trianon -dois parques com pontos de prostituição, especialmente masculina.
Responsável pelo plano de revitalização do parque da Luz, o historiador Francisco Aquino partiu do princípio de que ninguém teria o direito de expulsar as "mariposas da Luz". O meretrício faz parte daquela paisagem -no passado, um dos locais mais refinados da cidade- desde 1930, quando o prefeito Pires do Rio fechou bordéis do centro. "Encontramos mulheres que são netas da primeira geração de prostitutas do parque", conta.
Não é uma questão de direito adquirido: prostituição não é crime. Crime é a cafetinagem. Elas foram convidadas a entrar no Conselho Gestor do Parque da Luz -com a associação de comerciantes, com os moradores e com os usuários da Pinacoteca do Estado, entre outros. "No começo houve estranheza, depois todos se acostumaram", conta Aquino. "Queremos soluções inclusivas", defende Caio Boucinhas, responsável pelos parques municipais de São Paulo.
Formularam-se regras e as prostitutas aceitaram obedecer a elas. Os cafetões foram enquadrados e não podem mais aproximar-se delas no parque. As roupas delas devem ser mais comportadas, menos insinuantes. Criaram-se até regras para a abordagem dos potenciais clientes, nada de "psiu" ou de ostensivas ofertas. Proibiu-se terminantemente a prática de sexo em área pública.
Elas ganharam, em troca, a garantia de não serem importunadas, além de benefícios como camisinhas de graça e atendimento da Secretaria Estadual da Saúde, que tem um programa de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. A Pastoral da Mulher Marginalizada intensificou com elas projetos de geração de renda.
O que assegurou, de fato, o acordo foi a tecnologia combinada com a iluminação. Foram instaladas câmeras para acompanhar a movimentação não só das prostitutas mas de todo o parque. A prostituição no Ibirapuera e no Trianon será submetida à mesma experiência -com a criação de um pacto de conduta- e também ao mesmo processo de vigilância eletrônica, o que serviria, diz Boucinhas, até para proteger de eventuais delinquentes aqueles que exercem suas atividades nos parques.

E-mail - gdimen@uol.com.br



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