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SAÚDE
Unidades universitárias federais contratam funcionários terceirizados para não interromper atendimento à população
Hospitais fazem uso ilegal de verba do SUS
FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO
Os 45 hospitais universitários
federais ligados ao Ministério da
Educação transferem hoje cerca
de 35,7% das verbas anuais que
recebem do SUS (Sistema Único
de Saúde) para pagar cerca de 20
mil funcionários terceirizados.
Os dados são da Abrahue (Associação Brasileira de Hospitais
Universitários e de Ensino). A situação é ilegal, segundo a própria
Abrahue, pois, como dispõe a
Constituição Federal, só pessoas
concursadas podem trabalhar no
serviço público.
O TCU (Tribunal de Contas da
União) e o Ministério Público estão questionando várias universidades federais pelas contratações
de funcionários terceirizados.
Por pressão do Tribunal de
Contas da União, a UFS (Universidade Federal de Sergipe) teve de
demitir 200 funcionários no final
de 2001. A UFPR (Universidade
Federal do Paraná) vem ignorando ordem para demitir 1.450 funcionários terceirizados.
O presidente da Abrahue,
Amâncio Paulino de Carvalho,
diz que as contratações são um
problema nacional e começaram
a ser feitas para suprir a falta de
pessoal, situação que vem se agravando desde a suspensão dos
concursos públicos.
"O concurso mais recente foi
em 1995. Os hospitais têm uma dinâmica muito intensa, que não
admite esperar anos por um concurso público. Se o plantonista do
CTI [Centro de Tratamento Intensivo" no domingo à noite desiste, o que vou fazer? Não posso
esperar um ano por um concurso
para botar um plantonista no
CTI", afirmou Carvalho, que dirige o Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (Hospital do
Fundão), da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro).
A folha regular dos hospitais
universitários federais, de pessoal
concursado, é paga pelo Ministério da Educação. Inclui 37.934
pessoas e custa mensalmente R$
86,9 milhões, segundo a Abrahue.
As contratações de funcionários
terceirizados são realizadas por
intermédio de fundações ligadas
às universidades ou de cooperativas. Esses funcionários são pagos
pelos hospitais com parte das verbas que recebem do SUS.
Os dados da Abrahue revelam
que os gastos anuais para pagar os
terceirizados são de R$ 190 milhões, cerca de 37,5% dos R$ 530
milhões que os 45 hospitais universitários federais receberam do
SUS no ano passado.
Outra fonte de recursos, segundo a entidade, é uma verba anual
suplementar de R$ 60 milhões, resultante de um convênio entre os
ministérios da Educação e da Saúde. "Todo o dinheiro da receita do
SUS teria de ir para a atividade
fim, a saúde, e não para pagar funcionários. Os hospitais vivem
uma crise financeira grave e enfrentam também uma questão jurídico-legal", afirmou o presidente da Abrahue, que defende a realização de concurso público o
mais rápido possível.
Ao usar a verba do SUS para pagar pessoal, os hospitais acabam
envolvidos em uma teia de problemas: ficam sem condições de
fazer investimentos, ampliar atividades e, o que é pior, em muitos
casos sem dinheiro até para comprar remédios. Ao mesmo tempo,
se demitirem os contratados, não
têm condições de funcionamento,
por falta de pessoal.
O diretor do Hospital de Clínicas da UFPR, Giovanni Loddo, resume: "Se vier alguém aqui para
demitir os contratados, é melhor
que venha junto o oficial de Justiça para fechar o hospital".
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