São Paulo, quarta-feira, 13 de março de 2002

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CRIME ORGANIZADO

Integrante do PCC que escapou do Cadeião de Pinheiros levanta suspeitas de "internacionalização" da facção

Em 7 meses, preso foi resgatado 2 vezes

ALESSANDRO SILVA
DA REPORTAGEM LOCAL

Em apenas sete meses, Manoel Alves da Silva, 27, integrante do PCC (Primeiro Comando da Capital), conseguiu ser resgatado duas vezes de prisões de São Paulo, em ações parecidas e que surpreenderam a polícia.
No último sábado, Sasquati, como ele é conhecido, escapou do Cadeião de Pinheiros com três detentos, entre eles seu parceiro de quadrilha, Adilson Francisco da Rocha, 25, com quem havia sido preso em flagrante pela polícia 38 dias antes na região do Parque Bristol (zona sul de São Paulo).
Sasquati e Rocha eram tidos como peças importantes nas investigações do PCC. Segundo a Folha apurou, eles poderiam comprovar que a facção passa por processo de ""internaciolização", em busca de droga na Colômbia e de armas em países vizinhos.
Mas eles se recusaram a falar à polícia e não houve tempo para que uma investigação fosse organizada. Dez homens armados, vestidos com coletes da Polícia Civil, invadiram o cadeião, no sábado, depois de terem rendido dois carcereiros que haviam saído do plantão para lanchar. Houve tiroteio, três detentos feridos a balas e uma rebelião de nove horas.
Em 28 de julho de 2001, o mesmo Silva fugiu durante o dia da Penitenciária de Segurança Máxima de Hortolândia, na região de Campinas, com outros três presos, incluindo Marcelo Araújo Barreto, o Bandoleiro, líder do PCC na unidade na megarrebelião da facção do mesmo ano.
Por volta das 14h30, dez homens com fuzis atiraram contra policiais militares nas muralhas, chamando a atenção da segurança para um lado, enquanto Silva e três detentos pularam o muro em outro. Mais de 200 tiros foram disparados contra cinco PMs.
Sasquati e Rocha foram presos pela última vez em 30 de janeiro, numa favela de São Paulo, perto de Diadema (Grande SP) com mais quatro pessoas que estariam planejando sequestros e resgates.
No barraco transformado em base operacional, policiais militares apreenderam 64 mil pesos colombianos (R$ 65), 50 pesos uruguaios, mais R$ 3.000 em dinheiro, 190 gramas de cocaína, seis placas de veículos e lacres do Detran (Departamento Estadual de Trânsito) de São Paulo.
Segundo o delegado Ítalo Miranda Júnior, do 83º DP (Parque Bristol), as placas e os lacres seriam usados para criar carros ""dublês" -roubados, mas com placas de carros ""quentes".
""As placas eram todas para veículos grandes, como Blazer e F-1000. Talvez para dar suporte a um resgate ou sequestro", disse.
Horas após ser preso, a polícia recebeu a primeira ameaça de resgate, quando Sasquati era ouvido no 83º DP. Uma operação foi montada às pressas e seis pessoas acabaram detidas perto dali.
A partir disso, todos os seis detidos foram espalhados em delegacias da zona sul. Isso até os dois, Sasquati e Rocha, terem se encontrado no Cadeião de Pinheiros.
Começa aí uma série de desentendimentos que ajudaram na fuga. Por exemplo, a direção do cadeião desconhecia o passado de Sasquati quando ele chegou, por isso nem o incluiu no rol de ""resgatáveis", após receber uma denúncia anônima de que haveria resgate no final de semana.
""O preso não chega aqui e está tudo no prontuário. Você vai descobrindo a história dele com o tempo", afirmou um policial que não quer ser identificado.
Outra falha foi o comportamento dos carcereiros, que ignoraram o regulamente interno do cadeião e deixaram o plantão para comer do lado de fora. ""A norma é ficar dentro. Sair é imprudência", disse o delegado Hélio Sérgio da Silva, 58, diretor-interino do cadeião.
A Corregedoria da Polícia Civil e o 91º DP investigam a fuga. Até ontem, ninguém no presídio havia sido afastado do cargo.
""Aparentemente, não houve facilitação de fuga", afirmou o delegado Gerson Carvalho, 59, diretor do Decap (Departamento de Polícia Judiciária da Capital).



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