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GOVERNO DO PT
R$ 20 milhões do programa vão ser usados para pagar gratificações de servidores
Marta tira verba do Saúde da Família
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
A prefeita de São Paulo, Marta
Suplicy (PT), começa a transferir
verba do Programa Saúde da Família para outras áreas. Na segunda-feira, o secretário da Saúde,
Gonzalo Vecina, confirmou que a
prefeitura parou a expansão do
programa paulistano, medida que
vai na contramão da diretriz nacional do governo Lula.
Ontem, dia em que governo federal confirmou um aumento dos
repasses do Saúde da Família feitos para municípios (leia na pág.
C3), Marta determinou o remanejamento de R$ 20 milhões do programa para o pagamento, durante este ano, de gratificações a 6.000
servidores estaduais que trabalham em unidades municipalizadas. O valor transferido corresponde a 9,4% dos R$ 211 milhões
que o município pretendia gastar
com o projeto neste ano.
O programa é prioritário para o
governo federal. Lula prometeu
dobrar o número de pessoas atendidas pela iniciativa até o fim de
sua gestão. Hoje, 50 milhões de
brasileiros são atendidos. Para
atingir a meta, a prioridade é estimular a expansão nas grandes cidades, onde a cobertura de população pelas equipes de saúde da
família, em geral, é reduzida.
A capital paulista tem o maior
programa do país. Até janeiro
deste ano, contabilizava 531 equipes completas (com médico, enfermeiro, dois auxiliares de enfermagem e seis agentes comunitários de saúde) e 170 sem médico.
Cada uma delas presta atendimento multidisciplinar para cerca
de mil famílias. No total, cobrem
2,8 milhões de pessoas, ou 46,6%
dos que que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) na cidade (6 milhões de paulistanos).
A União banca 30% da despesa
das equipes, e a prefeitura é obrigada a complementar o restante
para receber verba federal. O aumento anunciado não obriga os
municípios a gastar mais, informou o Ministério da Saúde.
Urgência e emergência
Os R$ 69 milhões orçados pela
Prefeitura de São Paulo para a
criação de 400 novas equipes do
programa em 2003 e complementação das outras 170 serão aplicados prioritariamente na melhoria
do atendimento de urgência e
emergência dos hospitais, disse o
secretário Vecina, que assumiu o
cargo na semana passada.
Segundo ele, a manutenção das
701 equipes do Saúde da Família
em atividade está garantida. Para
Vecina, o avanço do programa e
das melhorias nos prontos-socorros "deve ser harmônico".
"Não é só Saúde da Família.
Tem também pronto-socorro.
Não tem dinheiro para fazer tudo.
Fecho o pronto-socorro? Fiz uma
escolha", declarou.
O remanejamento de R$ 20 milhões para pagar gratificações,
disse Vecina, já estava previsto na
lei municipal 13.510, de janeiro
deste ano, que instituiu o prêmio.
O benefício concedido aos servidores equipara os salários dos
funcionários estaduais de unidades municipalizadas ao dos municipais. Antes de regulamentar a
gratificação, a secretaria era obrigada a repassar o dinheiro para a
secretaria estadual, que então pagava o benefício.
De acordo com Vecina, a decisão de paralisar a expansão do
programa só deverá ser revista se
o município conseguir mais recursos federais para o pagamento
das internações hospitalares. Hoje, São Paulo realiza mais internações hospitalares do que a União
paga. A diferença desembolsada
pelo município chega a R$ 2 milhões mensais.
O secretário assumiu depois
que seu antecessor, Eduardo Jorge (PT), desentendeu-se com
Marta Suplicy. Um dos motivos
da polêmica foi o que deveria ser
prioridade para a saúde neste ano.
Jorge insistia na expansão do Saúde da Família para desafogar os
hospitais de pacientes que deveriam ser atendidos pelas unidades
básicas da rede. Marta, por seu lado, quer priorizar ações mais visíveis, como reformas de hospitais e
compra de ambulâncias.
Por causa dos cortes causados
pela queda de receita do município, já em 2002 a secretaria não
montou as 800 equipes do programa. Segundo Anna Maria
Chiesa, coordenadora do projeto
na gestão de Jorge, também não
foi possível completar equipes
sem médicos, apesar de existirem
candidatos aos cargos. "O Saúde
da Família é uma via irreversível,
uma diretriz nacional", afirmou.
"Agora, cada um decide de uma
maneira. É importante não perder o que foi feito. O orçamento
global da saúde é muito pequeno,
e também não está errado investir
mais nos hospitais".
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